terça-feira, 8 de maio de 2018

dois e dois


"dois e dois são cinco"
e e cummings

frase para minha lápide, se é que vou morrer um dia
alegria é coisa séria

um esbarrão


Encontraram-se por acaso. Quase um esbarrão. Shopping á tarde.
Ela sai de casa desarrumada, sem batom. Vestido velho, ultrapassado. Sandália de dedo, unha sem pintura.
A bolsa é uma bagunça, com resto disso e daquilo. Pente e escova, mas o cabelo está despenteado, um coque no alto. Cigarro, mas fuma só de vez em quando. Dois isqueiros pretos sabe-se lá como isso apareceu aqui. Agenda do ano passado, mas afinal em que ano estamos? Isso realmente tem importância?
Trabalhou no que pintou. Foi Promotora, Pesquisadora, Segurança de boate. Trabalhou em escolinha. Finalmente passou num concurso, área da saúde; agora ruma tranquila para o descanse em paz.
Vai assistir a um filme para passar o tempo. Nunca assiste o que quer. Em cinema de Shopping não existe mais o filme que ela quer: Fanny e Alexander, por ex. Não existe mais cineclube, não existe mais filme que ela quer, a bem dizer não existe mais nada. Assiste qualquer filme e só quer se distrair, não quer pensar em profundidade, em “direção de atores”, em figurino e direção de arte, em nada. Desencanou, do trabalho de atriz. Subia no salto com quatro anos, brincava de cirquinho, cobrava ingresso da vizinhança, fez Macunaíma, e o que se fazia no começo dos anos 80, EAD, por isso tem DRT.
Foi atriz, quase esqueceu isso se é possível esquecer-se de respirar, de amar de sofrer de sonhar e de lamentar cada dia perdido se m estar num palco ou num grupo. Depois da EAD, com o grupo mesmo de lá, viveu de teatro. Fez o interior de SP. Quase um APCA. Grupo de teatro era uma família. Era mesmo. Com pai, mãe, madrasta, filho pródigo, cunhada que trai irmã, neuroses, isquemia, enfartos, visita a hospital. Câncer. Tudo acaba e tudo acabou. Acabou o teatro de rua, o teatro de oprimido, os grupos.
Para ela acabou em Ribeirão Preto. Ali ela ficou,. Conheceu o que lhe pareceu um homem. Para ela um homem lindo, lindo, para todos um doido, doido. Apaixonou-se, largou tudo,a temporada no meio, e o grupo ficou partido com isso.  Foi viver num sítio. Criou galinha, montaram granja. Por dez anos viveram bem. Depois como tudo começou tudo acabou, mas ela tinha uma filha para criar. Voltou pra casa com o rabinho encolhido. Na volta não teve volta. Não ousou procurar ninguém. a família do teatro a a havia acusado de traição. Voltou a morar com os pais depois de mais de quinze anos. A menina é a cara do pai, e o mesmo gênio ruim; silêncios, ausências, fugas em dós de peito. O pai da menina, nem precisa falar, não ajuda em nada, “ama a filha”, de clinica em clinica de desintoxicação, é um trapo, um erro.
A outra, a do encontro ao acaso, a do quase esbarrão. Faz parte do Star–System. Mora no Leblon e nos Jardins. É RICA. Baixinha, por um desses acasos, fez-se mulherão; é uma feinha, mas posou para a Playboy, ganhou dois APCA, Moliére, Multisshow, apresentou MTV, teve banda de rock, é atriz da Globo.
Foi escada dela, em todo o Shakespeare. Em Hamlet Laura foi Ofélia, a outra, hoje na Globo, nem nome na peça tinha. Passam-se quase trinta anos, encontram-se num esbarrão.
- Laura, meo Deeeeeeeeeeeeeeeeus!! Quanto tempo que não te vejo! Vem, o que e aconteceu?!
- Eu dei errado.

terça-feira, 1 de maio de 2018


onde quer que eu possa
me lambuzo

será que é?


encontro o Jege, povo-povo. Lá vem ele:
- Você teria vinte pratas pra eu fazer minha cara?
- Peraí, como é que estão as coisas?
- Quer saber: O Lula nem é isso tudo que estão falando!!
e lá se vão vinte pratas

se todos torcessem para o Flamengo


se todos torcessem para o Flamengo um sem número de discussões não aconteceriam...
mas vá lá entender por que diabos uma pessoa é vascaína!