sexta-feira, 27 de julho de 2018

um peixe no aquário




eu ia as agências.
elas eram meninas recém formadas, ou do 5º e 6º período em psicologia: mogi das cruzes, paulistana, fam, sumaré; cheias de sonhos e preconceitos.
muitas vestiam uniformes; eram roupas de tergal, tons de beje, sapatos de mocassim. Os cabelos eram encaracolados, compridos e altos.
frequentemente se enganavam comigo e de pronto me arrumavam uma colocação.
me advertiam, me davam orientações sobre o que vestir e o que falar, me treinavam em datilografia, arregalavam os olhos e desejavam que deus me amparasse, etc.
- é uma oportunidade e tanto! Se você conseguir esse emprego é coisa pra vida toda!! Não perca essa oportunidade!!!
Saí dali um pouco enjoado e me sentindo mal, com vontade de cagar, o que sempre foi frequente e usual.
andei menos de um quilometro até a alameda santos, subi até o 14º andar do edifício de vidro fumê.
Fui atendido de imediato. O Japonês queria que eu começasse naquele dia. ele colocou um paletó e começou a me apresentar para as pessoas de diversos andares. Aleguei um problema de documentação na agência; ele disse que não havia problema nenhum com a documentação... começou aquele desconforto.
Eu estava vestido com uma camiseta hering azul e uma calça levi's que eu havia rasgado no primeiro dia de trabalho numa outra empresa. eram as duas únicas peças de roupa que eu tinha; disse que me sentia desconfortável em estar em tão prestigiosa empresa com aqueles trajes; gostaria de vestir algo mais conveniente. Pedi toda a papelada da agência, minha documentação, e um cartão dele. ele colocou tudo num envelope de couro azul com o nome da multinacional gravado em letras douradas.
fui até a rua augusta. Desci pela parte de trás do busão sem pagar, com mais um monte de gente, na xavier de toledo e fui até a casa josé silva da rua são bento.
Meu paletó era 44, calça 38, só o meu sapato continua 40.
Separei um paletó, duas calças, seis camisas, duas gravatas, dois sapatos, cinco meias e cinco cuecas.
Me vesti, olhei-me no espelho. Me senti um peixe num aquário.
Os ajustes ficariam prontos no dia seguinte, ás sete horas.
Nunca mais entrei na casa josé silva

quinta-feira, 5 de julho de 2018


as margens encontram-se na periferia

Saio pra andar. Acabo indo até a Rua Conselheiro Nébias. Dali passo a Barão de Limeira, vou até a Eduardo Prado. Gasto 40 paus no sacolão. Jabuticabas, kiwi, uvas.
Na General Olímpio experimento um costume. Se não fosse minha barriga ficaria perfeito. 40 paus. Não compro. 
Chego á Barão de Tatuí. Alameda Barros, rua das Palmeiras, mais um lugar em que me sinto em casa.
Entro na Igreja. o organista toca, termina e ninguém aplaude.
Dona Veridiana, Passo a rua do sossego. Não tenho Alzheimer, esqueço um nome ou outro, apenas. Já estive nesse prédio, nessa rua, no Mackenzie, na Santa Casa, no SESC, na Praça do Rotary, no Val, no 200 da Barão de Tatui, no Fifi, "os caras da treta da Martim" , no Fernanda's, na Aureliano Coutinho.
Entro na loja de calçados.
- o Isaac está?
O vendedor coça a cabeça, vai dizer algo, eu corto:
- Deixa quieto.
O Democarta não é pra todos, menos ainda a democracia.
Rua da Consolação, penso em assobiar, o Nelson Trindade mora no 12 andar, deixo quieto.
Nessa mesma esquina com a Maria Antônia, a mulher me dá um panfleto; "studios de 28 metros por duzentos mil na nove de julho".

1

- Pequena essa kitsch,,,
- Não é kitsch, é studio! Hoje em dia as pessoas saem muito. Você não é baladeiro?!
- Eu sou casado, minha filha!
2
- Você mora onde?
- No Bixiga
- Então você conhece a 9 de julho?
- um pouco, alguma coisinha.
- Olha vamos até o estande, lá serão apresentados todas as condições para a aquisição do imóvel.
- Eu não posso, estou muito nervoso.
- Você vai lá toma um café...
- Café não é bom pra quem tá nervoso,
- Toma uma água, o ambiente é refrigerado.
- Tá um frio, um frio, minha filha!
3
- é uma ótima opção, garantida pela Caixa!
- eu já possuo um imóvel.
-Você conhece alguém que queira adquirir um imóvel?
- Nessas condições não; a maioria do meus conhecidos possui renda muito além do que está no panfleto...
4
- Vamos descer pela escadaria do Sacolão, essa escada é cheia de maconheiros

- Maconha é uma pranta.
- É uma pranta fedida! o cheiro gruda na roupa, depois no estande vão pensar que a gente é maconheiro!
5
- Minha filha, eu vou por aqui.
- Você não vai ao estande?
- eu te falei que tô nervoso...
- Você parece muito calmo.
- Mas eu sou muito nervoso... Adeus, Cráudia.
- Como você sabe meu nome?
- é que eu sou muito espiritualizado.