encontrocomfamosos# betha pikcles

 

Não me lembro nada de 1984, acho que tudo aconteceu em 1984.

Estava no Personinha.

Entra a Betha.

neguei-lhe um beijo na boca e ela cantou:

- and i love her

tanerelle

    

tanerelle não pode ser minha tarântula

tarântulas não são de ninguém

embora alguns as guardem em caixas

nunca faria isso com minha tarântula

que importa a beleza

que importa o veneno

que importa qualquer fato a cerca das tarântulas

se ela não pode ser minha?

em outro planeta, alguém diria.

minha distância da teia de tanerelle

é um grande nada

um vazio maior

que toda falta de sentido

de desejar ser enredado

de sentir o gozo antecipado de ser picado

após a transa

não uma pequena morte

sim a grande morte absoluta

a ausência total de culpa e morada

enredado

violando as leis estabelecidas

as regras do bom mocismo

e da ciência

escuto e aguardo

espero enquanto também teço a minha teia

e tanto me faz sobreviver

ao acasalamento

tanerelle

quem sabe em saturno

dançar

a música vai tocar de novo a mesma música e eu conheço o final vou dançar outra vez

partenogênese

não sem fúria desespero ou medo

parte a borboleta o casulo que a separa de nova vida
parta-se também

história história história

história dos condenados adormecida

história dos escravos acorrentada
história dos colonizados sem cor
história dos peixes escrita pelos pescadores

história das flores sem imagem

história história história
qualquer história sem você e eu não faz  sentido

um eco de antigas explosões

um eco de antigas explosões

cacos pisados sem estardalhaço

no fim só o teto do quarto riscado

entre correntes

entre correntes

canções de liberdade

são as mais ouvidas

uma pequena vontade de liberdade

uma pequena vontade de liberdade

permanece inquieta no meu coração

não encontra apoio em nenhuma evidência

não encontra senão

porém

como um pequeno suspiro

um ai

que escapa

entre as linhas da palma da mão

e está aí

palpável como uma aranha

que engana

e não é esmagável, palatável, ou comestível

ela se debruça sobre si mesmo

existe

e vinga

embora um olhar estrangeiro

duvide que ela persista

eles sabem de coisas que eu não sei, por isso o defendem.

eles sabem de coisas que eu não sei, por isso o defendem.

por saberem disso eles tem a obrigação de fazer com que eu saiba o que eles sabem também; eles sabem que se eu soubesse o que eles sabem eu o defenderia também.

é isso o que eles sabem.

eu fiquei não sabendo o que eles sabem, prefiro assim.

não sabendo o que eles sabem, não o defendo.

não participando dessa motoniveladora do saber não tenho obrigação de fazer com que outros saibam o que eu sei dele e deles. não participo desse vínculo, dessa corrente; comigo o elo é quebrado, estou no mode off, no mode delete.

não sei o nome, nem o que ele fez; não quero, absolutamente, saber o que ele fará. não sei o nome deles, não quero, de forma alguma, saber o que eles farão.

estou livre desses crimes.

barriga cheia

 

barriga cheia não é alimento para criatividade

universo asfixiante

 

universo asfixiante

outro o outro

se eu fosse outro

diverso desse outro

eu seria o mesmo

que eu mesmo?

basicamente um acidente

basicamente um acidente

minha vida é um contínuo

dó de peito

para poder suportar essa angústia

para poder suportar essa angústia             

não basta um:

- força aí, meu camarada!

não sacia um beijo
um baseado
um chá de alecrim
entender o koan
saber que isso não é um desabafo, subjetividades,
- isso é um poema!
que fala uma verdade:

para poder suportar essa angústia

é preciso ter memória
conhecer a "História"
enfrentar insônia
saber o que é koan
entender de subjetividades
sentir esse poema
fumar um baseado

mas, na verdade,
para suportar essa angústia
basta um beijo
e acordar ao seu lado

deram nomes

deram nomes aos cavalos selvagens

deram nomes às flores

deram nomes às nuvens

deram nomes aos rios

deram nomes aos mares

aos planetas deram nomes e às estrelas também

deram nomes à poeira das estradas

às tempestades de areia  e aos grãos de areia 

nomes ás flores da beira de estrada

aos pássaros distraídos

às terras de além mar

aos lagos da África

aos lobos e as raposas

cercaram tudo com arame farpado

e o mundo é esta bosta sem nome

falar sozinho comigo

falar sozinho

não é falar consigo.

quando consigo escutar-me

enfrento esse caminhão de gente

que me fala

e por mais que atropele

me desoriente

sigo em frente

escutando

ora a serpente

ora a semente

ora somente

o que eu preciso escutar

ora a serpente

algo mais a escutar que um coraçãozinho machucado                                                                                                                                                   - bobagens de sessão da tarde -                                                                                                                                                                                     ou a suprema das ambiguidades: um coração descolado mais adiante                                                                            

- antes aquele tiro passou rente e agora acertou em cheio, aqui desse lado

e disso tudo o velho coração quebrado

encontro com famosos

Este é um dos muitos livros que escrevi: Encontro com famosos. No livro, junto ás minhas memórias dos encontros, segue uma biografia do encontrado; a lista dos encontros:

Agnaldo Timóteo

Marinho Chagas

Caio Fernando Abreu

Antunes Filho

Paulo César Pereio

Agostinho dos Santos

Kabenguele Munanga

Antonio Marcos

Maria Mariana

Milton Santos

Padre Bogaz

Aziz Ab'Saber

Denise Fraga

Tony Tornado

Itamar Assumpção

Jards Macalé

Raul Seixas

Jota Maria

Criolo

Paulo Hesse

Aldo Bueno

Jair Rodrigues

Lucio Mauro Filho

Mussum

Elke Maravilha

José Miguel Wisnik

Regiane Ritter

José Maria de Aquino

Ivan Valente

Gilberto Natalini

Betha Pickles

Falta escrever Éder Jofre, Lucia Veríssimo, Laert Sarrumor, Tadeu Jungle, João Gordo, Herman Woolward, Edgar Piccoli, Tamara Taxman, Caetano Veloso, etc.

espera-me

                                                espera-me

                                                a tormenta

                                                é logo aqui

                                                e eu e você

                                                   nem aí

                                     tenho saudade de sonhar

#encontrocomfamosos agnaldo timóteo

Estive com o Agnaldo mais de uma vez (aquele meu papo de ser velho, etc.)                                                                                              Numa desas ocasiões , na Câmara Municipal, por ocasião de uma votação, ou chamada para esclarecimento, para para transformar a Vila Itororó em Centro Cultural; após ouvir as partes ele foi muito firme dando seu voto contrario:

- Ah! querem transformar uma vila popular em lugar pra riquinhos tomar café com biscoito?! Não deixo não!
Fui cumprimentá-lo e ele não me deu a menor bola.
Na parte musical nunca fui fã. Aliás esse texto poderia ter como título: Cor da vida, cor da morte.