quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A Revolução pelo Afeto - Exposição no CCBB - BH - Nise da silveira




a exposição Nise da Silveira no CCBB na praça da Liberdade, foi outra coisa que nos deixou loucos em Belo Horizonte.
Tanto por nossa loucura, manifesta e escondida, como pelo nosso relacionamento com loucos, muito próximos. A exposição é linda, dá o devido valor aos artistas,e resgata o caminho da doutora Nise como uma das mais importantes brasileiras.

O nome da exposição é A Revolução pelo Afeto.

Nise da Silveira, essa imensa brasileira, de trajetória invulgar, é amiga conhecida; aqui e ali recebi mensagens e toques sobre ela. Uma pessoa assim corajosa e invulgar, ou acaba num hospício ou presa, ou constrói por felicidade obra libertadora e atraente que seduz pela sensibilidade e afeto e liberta os pássaros que temos cá dentro.
Percorrendo as salas conhecemos as obras, e as pessoas que encarceradas conseguiram construir pontes para o infinito, para o eterno.
As obras me sensibilizaram extremamente; especialmente um artista que nos olhava profundamente, e estendia uma coroa construída em papel, obra de transitoriedade, um homem lindo, que nos olhava através dos milênios, revelando a fragilidade e a impermanência de tudo: da realeza, da beleza, da loucura.
Tem um disco antigo de Olivia Byinton, Corra o risco, eu volto sempre. Ela é acompanhada pela Barca do Sol. Aí lembrei de tudo isso.
Na exposição da Nise um dos artistas é o Carlos Pertuis, que pintou um quadro: a Barca do Sol. Ele é um sapateiro que teve uma visão mística e foi internado num hospício, onde ficou até a morte. Na própria exposição é feito o link com Jacob Boheme, sapateiro, que também teve uma visão mística e teve a sorte de não ser enfiado numa instituição. eu ouvi falar do Jacob pelo Roberto Piva, claro um louco.
agora tudo é silêncio, mistério e contemplação
a barca do sol está para partir
e não há nada que possa me segurar aqui

domingo, 23 de janeiro de 2022


Pensando poemas.estrutura, ritmo, a palavra certa. 
Aí vem o coração e muda tudo.
Está pronto o poema

Na superfície
sorrisos, bilhetes de passagens, as velhas catedrais. 
Por dentro os pássaros a libertar

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022



 Entre a noite que finda
 e a manhã que se anuncia
 o estupor da madrugada

eu não deixo de ser índio



eu não deixo de ser índio
ao comer omelete
eu não deixo de ser índio
ao fumar marlboro
eu não deixo de ser índio
ao usar internet
eu não deixo de ser índio
ao usar anel de ouro
eu não deixo de ser índio
eu não deixo de ser índio
ao voar de avião
eu não deixo de ser índio
ao casar com branca
eu não deixo de ser índio
ao desenhar em papelão
eu não deixo de ser índio
ao usar plástico como miçanga
eu não deixo de ser índio
eu não deixo de ser índio
enquanto a floresta estiver dentro de mim

terça-feira, 11 de janeiro de 2022




a chuva para
só para recomeçar
tempo, tempo, tempo



mesmo os passarinhos
cansaram da chuva
unidos passamos a cantar




o mar está por aqui
em cada poça de rua
e na lágrima que cai



amarrada na rede
a mosca
encantada de prazer
 


surpresa
a presa
liberta-se



eu chamo aos outros: Senhor
mas agora também sou: Senhor
sinto o tempo que passa



gato preto fixo olhar
ele pisca
primeira vitória do ano

a poesia do instante
passou
e você não pegou


aqui, entre outras coisas,
o mato cresce
não sinto o tempo passar.