Discutir os interesses envolvidos nas propostas de flexibilização do Código Florestal é um exercício para a promoção da cidadania e oportunidade para que sejam manifestadas posições e projetos para o Brasil.A reformulação do código envolve um debate no conjunto da sociedade, dividido entre ambientalistas e ruralistas, que defendem pontos de vista antagônicos.
Apontar todas as incoerências e falhas nos muitos artigos do Código Florestal, todos os pontos problemáticos -que promoverão desmatamento, ampliação de áreas vulneráveis, dispensa de recomposição de áreas e abrirão brechas para que mais de 90% dos imóveis sejam dispensados de recuperar suas reservas legais - é uma tarefa que não me proponho no momento. Dessa forma, e como o cerne da discussão concentra-se na disputa entre modelos de produção agrícola, é nesse ponto que esse texto se concentra.
Procuro resumir meu ponto de vista argumentando a favor da vida, contra o desmatamento e solidário a um novo modelo econômico no campo brasileiro, apoiando a agricultura familiar.
A agricultura familiar, os números não cabem aqui, é responsável por um importante papel especialmente nas cidades pequenas e na produção de alimentos, preponderantemente no Nordeste.
Acordar antes do Sol nascer, andar descalço no meio do mato, rezar para a plantação vingar não são uma realidade distante no nosso país. O apoio á agricultura familiar passa por uma mudança de mentalidade, com um diferente suporte que rompa o isolamento do produtor, inserindo-o numa rede moderna de amparo e vínculo, utilizando da tecnologia para a redução de impactos e melhores condições de existência.
O agronegócio, que é a união dos latifundiários com as empresas transnacionais, mantém o modelo do monocultivo voltado à exportação, utiliza os agrotóxicos e a mecanização e expulsa os trabalhadores do campo. A agricultura familiar cria condições para a fixação das famílias no meio rural e defende a produção de alimentos sem veneno prioritariamente para o mercado interno.
Enquanto forma de organizar a produção de alimentos, conforme o exposto, agronegócio e agricultura familiar são incompatíveis.
É possível discutir os problemas brasileiros sob diversos aspectos, procurar soluções da crise contínua de uma sociedade que não deu certo, de uma civilização que não existe, de um projeto que não houve. Enquanto professor de Geografia, entre as várias possibilidades de análise, tomo como exemplo daquilo que não deu certo a urbanização brasileira, a vida nas cidades,e nosso absoluto fracasso de convivência e cidadania.
Nâo se pretende com a opção pela agricultura familiar uma volta forçada ao campo da parcela marginalizada que vive em condições sub-humanas nas metrópoles, nem a valorização de formas utópicas ou romantizadas de vida no campo. Nesse momento reafirmamos que uma mudança no modelo econômico no campo, favorecendo a agricultura familiar, traria enormes benefícios, gerando empregos e mitigando o problema da fome, além da produção de alimentos mais saudáveis e a revalorização de lugares e pessoas.
A flexibilização do Código Florestal significa a não promoção do equilíbrio ecológico, o não uso sustentável dos recursos naturais e a injustiça social, mantendo a mesma situação de séculos no Brasil: um povo que passa fome, enquanto grandes empresas exportam alimentos.
Caso o projeto seja mantido , da mesma forma que em outros momentos emblemáticos em nossa história recente - Campanha das Diretas Já, Plesbicito do Desarmamento - o Brasil, infelizmente, terá escolhido a alternativa conservadora e assim permanece fundeado a uma triste condição de coadjuvante nos processos civilizatórios do planeta.
Caso o projeto de flexibilização do Código Florestal não seja vetado pela presidenta Dilma seguiremos pelo mesmo caminho de miséria e infelicidade que são a tônica no nosso convívio.
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