terça-feira, 26 de março de 2013

a vida não cabe no bolso # 68

não ser esperto é uma lástima, ser feio é ruim, mas ser pobre é a pior coisa de todas as coisas

domingo, 24 de março de 2013

memórias





Eu encontro somente nas memórias, minhas e suas, o meu
mundo.
Eu sinto suas mãos nas minhas, e elas mais uma vez, estão aqui, juntas..
E estarei aqui te esperando quando você chegar, porque
aqui é nosso lugar.
E o mundo, o nosso mundo, sempre que 
a gente esteja junto, vai recomeçar.

sábado, 23 de março de 2013

nós que passamos apressados pelas ruas da cidade, nos enganamos mutuamente com desejos de coisas boas que definitivamente nunca vão acontecer.

Esquecido por todos, Spencer está esparramado no chão, tamborilando distraidamente uma mazurka, uma valsa tosca, e dança com os dedinhos.

Na sombra, distante da luz que chegava da estrada, distante da chuva que cai, distante de todos, observa da plateia, a não-ação desenrolar.Parece que uma orgia irá começar, mas tanto faz.

O corpo esticado, uma perna dobrada, a cabeça pendida para o lado, adivinhou o final, aspira o ar devagar e está pronto para partir.

Os outros, o negro cortês, o índio valente, a puta amorosa, o jovem idealista, vivem suas rotinas como se estivessem num teatro, falando como se falassem para espectadores, mas permanecendo surdos, porém e entretanto,  para o mundo.

A apresentação cartesiana das personagens, seus pequenos dramas, suas vidas insossas, seu destino previsível, seus amores impossíveis, tudo tão infinitamente tedioso...

O fim de todos só podia ser um.

Entre esses pequenos dramas, os dramas maiores, coletivos, também não interessavam a ninguém. Repetidos ensaios em sociologuês barato, saídos das máquinas de palavras, sem encontro possível de eco, sem chances de fazer despertar nada nem ninguém.

Enquanto discutem ao redor da fogueira, sonhando o impossível,prestes para iniciar uma bacanal, o grupo não percebe a retirada do gatuno Spencer, que, levantando suavemente, antecipou-se em muitos minutos à chegada do grupo que havia prometido incendiá-lo. E, ora vejam...

O bando que havia permanecido na Taverna, sem nada para distrair-se, lembrou do prazer de incendiar mendigos. Rindo alto, cantando canções de bravata, de porretes nas mãos e lindas tochas, caminhava célere com a intenção firme de por fogo na velha estação ferroviária,e assim incendiar o vagaba mor,o velho Spencer.

Spencer sequer deu-se ao trabalho de assistir ao incêndio.

Não viu o bando cercar a estação e não dar nenhuma chance aos que, entretidos com a orgia, não tinham olhos nem ouvidos para nada que estivesse fora do alcance imediato das mãos.

A Estação em poucos minutos estava inteiramente destruída, não houve tempo para heroísmos ou discursos moralistas e edificantes. Da mesma forma que chegaram ao mundo, partiram. Não deixaram marca nenhuma no mundo, não encontraram sentido em nada, viveram e só isso.

Spencer, as solas dos sapatos gastas, a roupa poida   de volta a estrada, o dia quase amanhecendo, pôs-se a cantar, sem necessidade de aplausos ou medalhas, beijo de namoradas, tapinhas nas costas ou medalhas.

Cantava para si, feliz e somente feliz.

diletantismo


                                                                                                                 cris mason


Meu vizinho passa as tardes de  sábado cantando.

A mim pouco importa se ele "canta bem".


Ele não tem um hobbie, ele é um diletante.


Ele não canta por aplauso, dinheiro, medalhas,


reconhecimento, por que é um "excelente cantor",

Ele não canta competindo  com ninguém, e nem por 

qualquer outro motivo.

Ele canta todo sábado, sozinho, há anos.


Pra mim ele canta, por cantar, pelo prazer de cantar.


Ignoro existir motivo mais nobre que esse.

sábado, 16 de março de 2013

quero saber

quero saber 
como se mata percevejos
como manter o corpo inteiro
como ganhar mais dinheiro

quero saber
de que é feito o amor sincero
de que lado estou do hemisfério
de que lugar  sai tanto mistério

quero saber 
quem inventou arder em chamas
que escolheu o pano da cama
quem mordeu  o rabo que abana

quero saber
por que tanto se mata
por que tudo me escapa
por que a rainha é safa

quero saber 
onde eu me escondo
onde eu te acho
onde eu acabo

quero saber
mais coisas que eu preciso
mais sobre o ar que respiro
mais do que eu mereço

mulheres gostosas



mulheres gostosas estão fora dos catálogos das lojas de departamento
são as mulheres verdadeiras que fazem minha cabeça
mulheres gostosas passam por mim a todo momento
estão nas ruas, sozinhas ou aos bandos, fugindo do esquecimento
mulheres gostosas não sabem onde deixaram os carros nos estacionamentos

são  mulheres distraídas as que mais me enlouqueceram
dissimuladas, venenosas, vulgares e divinas
mulheres gostosas, façam o que fizerem, tem um lugar garantido no firmamento
mulheres gostosas estão nos quadros de Rafael, Boticelli e Tintoretto
são cheias de carne, de sangue e sexo e nenhuma culpa
uma mulher gostosa e  despreocupada  passeia nua no meu apartamento

mulheres gostosas são como a chuva, a terra molhada, um calor danado, a erva do diabo, o fim do bom senso, a melhor coisa do mundo 
como um longo feriado, pisar no acelerador, saltar sem paraquedas, jogar merda no ventilador, ficar preso num elevador, passar as férias num hospício, roer a própria carne em desalento
mulheres gostosas são o tudo e o nada, a náusea, o fim do mundo e o começo

mulheres gostosas estão longe de ser um tormento, embora levem muitos homens ao suicídio, a morte em vida, ficar trancado, trincado, rindo bestamente, alheio a todo sofrimento
não fosse a possibilidade delas nossa vida não valeria a pena, o pinto e nenhum momento


mulheres gostosas são gostosas e ponto, vão e vem como o vento




sexta-feira, 15 de março de 2013

poesia

poesia
muito embora
antes que seja tarde
mesmo assim tão distante
impossível e fora de moda


agora

poesia
minha e tua
que transborda e ocupa
nossa alma é sua
de todos e de mais ninguém

sempre

poesia
nesse instante
e antes
de manhã dê-me uma corda
nem que seja um barbante


poesia
me encontras distraído
quando sou só ouvidos
não duvido
de todas as minhas ambições

quinta-feira, 14 de março de 2013

sorri

Vou ali misturar-me à massa, aos transeuntes.
.
De fato se ninguém me sorrir o dia não terá valido a pena, e


não sobrará nenhum verso.

Mas primeiro sou eu quem sorri, sorrirei para alguém


despreocupadamente .

a vida não cabe no bolso # 67

E nada do que eu levar na carteira poderá dizer quem eu sou ou de onde eu vim.
Eu invento muito e sonho ainda mais.
Eu sou mais que eu.

presto atenção para ela não esbarrar em mim





Saúdo a mendiga que caga na esquina e joga a bosta nos

passantes. Uma merda preta, fina e oleosa, de consistência

considerável. Ela segura o rolo de merda com firmeza e

gira o troço sobre a cabeça cantando um mantra,

arremessando em direção de tudo e de todos.

Presto muito atenção a toda merda, assim ela não esbarra


em mim.

saudades da selva




Estamos aqui com o tema sempre atual da degradação.
A nostalgia de uma era dourada. Pensar nessa era é ter
saudades da selva.
Solitude, solidão e solidariedade, não sei o que é isso, sei só um pouquinho.
O esgotamento de propostas de mudanças, a impossibilidade delas.
Um lugar que não existe, eis o lugar que nunca existiu.
O romantismo como um lugar cheiroso,  uma grande cama,
lugar próprio para amar, o romantismo como o meu lugar.
A política... a governabilidade como desculpa para todo 
tipo de falcatruas, ok: a ingestão de proteína animal teve 
um acréscimo muito considerável, mas é preciso o sonho, e
o resgate daquilo que não somos, invenção de uma civilização.
Locupletar-se, no poder, a falta de responsabilidade de nós 
todos..
Minha felicidade depende da felicidade dos outros, é tão
óbvio para mim, apesar de ser uma grande mentira..
A religião não está por aqui, assim a fé, é busca de alívio, 
de padrão moral e de progresso econômico, escambo é o 
que ocorre, e é esse o caminho dos meus patrícios..
O apoio aos bancos, leva a falência a civilização, ao fim do
mundo conhecido, todos os quadros serão vendidos aos
chineses, tudo bem, já vimos esse quadro antes..
Aqui eu só gostaria de descansar e encontrar alguém para
sonhar.
.Ar, só um pouco de ar.
.A falta de bancos nas poucas praças. O Sol que não combina com minha cidade, a ausência de sombras no passeio, vou misturar-me às ondas humanas, aos caminhantes errantes dos vales, aos artistas populares, a esquizofrenia contagiante da gente mestiça, ao suor nas roupas inadequadas.
O comércio é a medida das relações..
Dentro dos carrinhos sem estilo, todos com a mesma cor,
eles, os outros, o alto clero, vão ao namoro , às trocas de
olhares de dentro de carros. Risível e previsível.
A alegria e a depressão une a todos, a noite a insônia é 
companheira, eu também devo apelar ao Rivotril..
Vejo a felicidade nos comentários de quem quer a volta da
ditadura, vejo a felicidade de quem ignora isso.Vejo a 
felicidade de quem fatura com a ditadura, conheço
entretanto a inocência perdida no olhar de quem se fudeu 
com ela.
Vejo  a  felicidade de um sem número de imbecis,principalmente vejo a felicidade dos imbecis..
Escuto o tim-tim das taças de Veuve Clicquot. En passant o 
lançamento da nova campanha da Lancome, me faz 
despertar.Ser chic é um desperdício.
Aprendo o que é um moleskine. Aprendo muitas coisas, 
enfim. 
Saúdo a mendiga que caga na esquina e joga a bosta nos
passantes. Uma merda preta, fina e oleosa, de consistência 
considerável. Ela segura o rolo de merda com firmeza e gira
o troço sobre a cabeça cantando um mantra, arremessando
em direção de tudo e de todos. Presto muito atenção a toda merda, assim ela não esbarra em mim..
O encarceramento a que submeto-me, minha abstinência, 
minha loucura saciada em mim mesmo,tudo que tenho feito
para não deparar-me  com a degradação, a minha e a de
tudo, a volta do parafuso, o lugar que nunca existiu, não 
me leva a lugar nenhum, me deixa  aqui, ás vezes sorrindo,
sempre distante de mim e dos outros e de tudo que está
além.
Às vezes só rindo, só, tinindo em febre. Tremendo de medo
de olhar a janela aberta , que me  chama..
Hoje peguei um quebranto, foi a eleição do papa. Gente
sensível, sofre pra diabo. Tive uma ereção, mas já passou..
A web 2.0 não livra a minha cara. a rede por trás da rede,
estou preso nela.
Meu superego é condescendente, meu id não me cabe.
Saudades da selva.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Chico Science, antena e raiz






Aniversário de Chico Science,o maior gênio. 


Antena e Raiz. Pop. Maracatu Atômico. Guitarra e 


tambor=FUNK. Josué de Castro.

Uma leitura muito esperta sobre a realidade, profunda. Com qualidade. Biscoito para as massas.

VIVA ZAPATA, ZIVA ZUMBI, OS PANTERAS NEGRAS, LAMPIÃO.

VIVA a resistência contra hitler.

Viva a tomada da consciência: os antigos fizeram 

errado, a Europa não é a civilizadora da humanidade, mea 

culpa. Socar o papai.


Colonizar a África e catequizar os índios é etnocídio

BANDITISMO POR UMA QUESTÃO DE CLASSE

Enquanto eu danço eu penso e reconheço a Ética, a Justiça


a Verdade e a Beleza, a compaixão como valores superiores 

à moral, ao bem estar, ao bucho cheio, a alegria idiota dos mortos de fome e aculturados, ao sexo bem comportado do final de semana, aos amigos dos amigos, a seriedade do congresso nacional e das igrejas evangélicas, à TFP, à ordem e progresso, a qualquer país, a compromisso,

Liberdade para as borboletas

solitude - black sabbath




Quem não sabe o que é colocar um disco na vitrola,
sentar no sofá e ver os raios de sol percorrerem o mesmo

caminho de ontem no tapete, raios de sol que amanhã farão
o mesmo caminho novamente,,
enquanto você, que está sentado no sofá, não sabe o que fez ontem,qual caminho a seguir e não tem mesmo nenhum caminho para fazer amanhã
não sabe o que eu sei

terça-feira, 12 de março de 2013

Os nomes são possíveis

Os nomes são possíveis

mesmo com todas as regras contra eles

.
mesmo que o bom senso não deixe permitir


mesmo contra a experiência


mesmo assim diferente


indo contra tudo que eu sei



Embora haja um


anterior a eles


e a geografia


esteja tão esquecida


mesmo com todo o planeta cartografado


e a história

,
toda ela já escrita

,
tudo já tantas vezes lido e sondado


tudo devidamente registrado


escrito e analisado


tantos versos roubados

todo um universo de nomes dados


e a gente já sabe o final do campeonato



mas tem um mundo de coisas que ainda estão por vir



Todos eles, todas elas


muito sentimento


moças bonitas nas janelas


pipas a espera


novas florestas


fogueiras a crepitar

caminhadas nas ruas escuras


baladas singelas

novamente bateção de panelas


estão esperando para sair:


- as coisas sem nome estão por aí


o silêncio dos quadros




Escute o silêncio dos quadros.

Reveja-os com os milhares de olhos que já os viram. Esses olhos são as testemunhas do amadurecimento da arte.

Converse com essas pessoas, as que silenciosamente antes de você em outros museus, em outras cidades, há tempos atrás escutaram igualmente o silêncio dos quadros. Escute o que elas tem a dizer sobre o silêncio dos quadros.

Sinta a textura,as ondas, a densidade, o corpo da pintura. Observe inclusive o pó,a fuligem, a sujeira e outros sedimentos, e outras camadas de tinta que foram incorporados a matéria viva dos quadros.

Respire o cheiro das tintas.

Observe o desenho das molduras.
Enquanto o silêncio dos quadros lhe diz tudo veja o ritmo da fixação dos olhares dos outros visitantes da exposição, o olhar dos guardas também.

Veja o que o pintor viu ao pintar, refaça o caminho dele, o caminho que ele fez para pintar o quadro.

Onde está a luz, onde a luz não está?

De onde parte todas as coisas, oque está ali para não se olhar, o que não está no quadro?

Escute o silêncio dos quadros, escute o que isso tem a falar.

sexta-feira, 8 de março de 2013

albatroz



O lance do Albatroz é o seguinte:

-Ele não pode voar, mas voa.

A minha maior reverência a nosotros da família Albatroz

teu nome é mulher




teu nome é mistério
teu nome é desejo
teu nome é solidão


teu nome não está na boca de qualquer um,não

teu nome riscou o céu num lampejo
teu nome  não está aqui na palma da minha mão


teu nome é urgente

teu nome me fez ser mais gente
teu nome é outro, é mulher

depende do momento



depende do momento
ás vezes por cima,
ás vezes por baixo
de lado 
e de cabeça pra baixo
de pé
e deitado
ás vezes sentado

o amor está aí pra ser sempre inventado

quinta-feira, 7 de março de 2013

a esperança é triste




estava assim no fim 




e dura pouco


a risada das crianças


porque a mamães diz:


- chega de rir



e não importa se chova ou faça sol


se estamos com isso na garganta


(tudo que não aprendemos com as canções de ninar)



e mesmo que gritem e chorem


e tudo demore


mais que mereça


buscar um sinal


nas coisas


só as faz piorar

tudo que não for utopia



vendo por outra perspectiva

empresto para qualquer um


jogo fora no lixo


tudo que não for utopia

terra gelada




estamos na terra gelada
longe, longe de tudo, muito longe

essa pomba imunda com as asas cheias de fuligem
pomba preta, cheia de escamas, asa partida
bicando desesperada os restos de comida estragada

terra gelada estamos aí, longe daqui

quarta-feira, 6 de março de 2013

todas as coisas inúteis

todas as coisas inúteis   

eu as quero pra mim

aquilo que é invendável


a troca de beijos


o aceno de mãos 


a poesia que é escrita no papel de pão


tudo aquilo que dura mais que o tempo do relógio

e faz a gente entrar em outra razão

Brasil, meu brasil brasileiro, meu querido bananão!

Brasil, meu brasil brasileiro, meu querido bananão!


País da imprensa livre! País da Revista Veja! da Rede Globo! 


País da Folha e do Estadão!


País das Instituições democráticas fortes! País da urna 


eletrônica! País dos royalties do petróleo, das

commodities de exportação!


País das imensas redundâncias! Da pobreza que avança, da 


classe média com geladeira e carrão!


Brasil meu Brasil, país sem disputas de classes, sem 


racismo, com legislação avançada e uma classe média 

experrtttttttttttttta, ligada no avanço do comunismo 

internacional!


Nós merecemos o sucesso dos nossos popstar Waldemiro, O 


Daniel Dantas, O Ronaldo Fenômeno, O Lula, O 


Serra, O Alckmin, a Xuxa, O Raul Gil, merecemos a pu... 

que o .... merecemos um papa brasileiro, bater no

peito e dizer: eu sou brasileiro e não desisto!


Quanto mais eu penso nisso tudo mais me alegro com as 


minhas leituras de Walter Benjamin,e o refúgio em 

1920. E encho meu bucho de alface e alpiste