quarta-feira, 24 de abril de 2013

nosso amor


nosso amor
não é de hoje
nem o de sempre
aqui ele não jazz
nem começou de repente
a gente aprende
tudo está por um triz
a gente se entende
não precisa de Paris
- nosso amor não tem começo nem fim
ele está aqui.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

au revoir





nos vimos breve


au revoir


pernas pra que te quero

contra a falência de todas as coisas





Essa escrita redimensiona, ecoa, multiplica a vida.

Essa escrita que nos redime.

Diga-nos: sempre, de repente.

Uma luz de lampião,um clarão, raio laser contra a estupidez 

da mesquinharia da vida.

Não falhe, escreva.escreva contra a falência de todas 

coisas.

Essa letra, essa carta, essa foto,

somente isso é a prova da existência de gente na terra.

seguro

seguro no que eu posso
toalhas macias
escovas de dentes
lençois limpos 

seguro no que eu tenho
minha sempre namorada
a luz do sol no caco de vidro
o passeio solitário no meio dia

seguro no pé de vento
a vida não cabe no bolso
o caminho florido do outro lado 
eu estou do lado certo nessa parada



domingo, 21 de abril de 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Nick Drake, poeta do outono





O Nick Drake tem essas canções melancólicas, parecidas 
com o o outono e os poemas do Dylan Thomas, e
tardes na parte velha e escondida de Milão. E muita 
melancolia e doçura, folhas caídas, amores que não dão
certo, coisa que só a gente vê, enquanto todo mundo está
com pressa ou raiva de alguma besteira.

Conheci a música dele no filme Serendipity.
Acho que o Nick Drake acabou de vez com ele mesmo, 
dormiu pra sempre.
Esse vídeo mostra um barco com as velas rasgadas 
continuando no mesmo lugar, ancorado. O mar virado, o 
vento, anúncio de tempestade. Mas a gente tem que 
continuar.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

não sei o que faço

segurar-me
numa onda 
numa corda que vibra 
numa nota de rodapé

largar-me
numa cova
no colo da cobra
ao sabor da maré

aventurar-me
pisar em brasas
dar vexame no pole dance
ir sem mapa pra Guiné

garantir-me
calçar as botas
andar sempre com agulha e linha
nadar somente onde dá pé

titubeio 
não sei o que faço
nada é o que parece que é






terça-feira, 16 de abril de 2013

Charles Bradley, soul





soul

meu ritmo

istmo que ultrapassa


minha razão

Cleyde Yáconis



Leio a notícia que a Cleyde Yáconis morreu. Uma merda
isso. Sou cada dia mais velho e sozinho, meu mundo vai
acabando. Aquele lance de campos de significações,
tótens, etc.
.
A Cleyde era da Tupi, a minha janela para o mundo na 
infância.
A Cleyde era uma leoa, um vulcão e um tesão.

Quando não sobrar mais ninguém a Cleyde estará
gargalhando numa segunda fumando um cigarro e tomando
uma birita. 
A Cleyde que eu tenho só morre comigo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

alma lusa


então em cada linha um mundo
que não tem emenda
nem remendo
barcos navegam mais rápido 
minha américa
eu te odeio tanto que desfaleço

eu sou o arremedo de minha traição
o meu mais fundo não
quer dizer sim
não quer dizer sim
grita não!

e todo o seu silêncio
é o meu espelho
que não tem respeito
por minha tristeza
não

domingo, 14 de abril de 2013

caminhamos no mesmo círculo de volta ao mesmo lugar


não veremos o final


não estaremos aqui


não seremos os convidados


a cadeira vazia é a nossa cadeira


eu também não tiro o meu boné


para esse caminho sem volt
a



o giz caucasiano


nas lousas de ardósia distantes


ainda ecoa nos nossos registros


nem todo dinheiro do mundo tapeia


os buracos de dante


um dos cantos fica logo ali



o fato é que 


bem o fato é que


as coisas não deram muito certo aqui

sábado, 13 de abril de 2013

euridice

minhas roupas não valem nada
nem minhas palavras
em meu coração corre agora um rio de merda
que afasta todos de mim
meus pés jamais alcançaram um porto seguro
mas eu estou aqui
ainda com perguntas sem resposta
ainda com sonhos descobertos
ainda com esperanças de um braço de mar
se em minha face pálida 
ainda cabe  um sorriso 
é o sorriso de quem ainda sabe sonhar

terça-feira, 9 de abril de 2013

eu continuo lutando pela vida


eu tenho uma centena de livros que não li espalhados pela casa
eu tenho muitos olhos fechados para muitas coisas
eu tenho um mal estar frequente que me bambeia as pernas
muitas vezes eu pego o metrô errado
tantas vezes esqueço na metade o que queria dizer
tenho uma montanha de notas de dinheiro que já valem nada
e sete livros  escritos que ninguém vai ler
desisti das reformas antes das revoluções
nunca gostei de carros nem de aviões
não vou ser campeão de nada
e morrerei humildemente sem nunca ter lutado por nenhuma glória
mas eu continuo lutando pela vida
pelas coisas miúdas
o lágrima do cachorro que me percebeu chorar
o brilho do sol no caco de vidro
a gotinha de água na flor que brota desengonçada na calçada
o zoom da abelhinha batendo na janela do ônibus
a menina banguela  que sorri desajeitada
eu continuo lutando pela vida
pela fina poeira sobre os quadros centenários
o primeiro gole de cerveja numa tarde ensolarada
a caixa de bis depois de passar um mês encarcerado
uma volta no Bom Retiro num feriado
o cheiro molhado do asfalto
a conversa dos feirantes na França
a alegria de descer uma ladeira ao invés de subi-la
eu continuo lutando pela vida
e pelo milhar de coisas perdidas encontradas pelo acaso
essas pequenas maravilhas que não se acham nos dicionários

domingo, 7 de abril de 2013

não quero uma meia vida



Tô cansado das coisas pela metade
e dos planos de futuro 
que precisam de pé de meia
de conversas a meia luz
de coisas prontas e ensacadas

Tô cansado de planos de revolução

das tardes de bolero e twin set
de bicicleta em paquetá
e de uma enormidade de tipos prontos
estereótipos que se borram na hora agá


não quero uma vida meia boca


esperar pela mega sena
morrer de velhice
conviver com gente que fica marcando touca
que deixa a vida passar
com medo da gripe da vaca louca

eu quero a vida inteira


nela eu me lambuzo

mesmo se tiver que ir na contra-mão
mesmo que tiver que brigar com meu irmão
mesmo se tiver que morar no Alemão
mesmo que somente eu acredite no achado da volta do
parafuso
mesmo que somente eu acredite na revolução

rg # 6

se celta visigodo ou suevo
eu não sei
mas vim andando
e foi pela noite

bem, a noite...
me faz ver além

sábado, 6 de abril de 2013

fazer poesia

a poesia vem da poesia
venda poesia, compre e consuma
poesia
pois é poesia,
poiesis é poesia

uma grande coisa
que ainda não existe
nem na ideia
um nada na mão
um trunfo

assim de novo
mas muito novo
poesia
longe do lugar comum
supernova

pão e poesia
alimento
e eu faminto
pela mentira
de fazer poesia

terça-feira, 2 de abril de 2013

cat power



Bem não sabemos o que fazer e nem como, mas o cinismo não me levou a lugar nenhum, ou  deixou-me, ou me deixou, no mesmo lugar de sempre; por isso eu preciso que alguém me escute,, porque eu já ouvi demais..
Os espelhos não são uma extensão de mim nem dão uma
impressão melhor de profundidade. não me encontro em nenhum desses quadros e nem em algum espaço fragmentado, eu somente desvio o olhar e não quero mais saber de zig e zag ou qualquer coisa fora dos eixos.
Devemos encarar as coisas como elas são,mas como são as coisas?
Eu estou somente perdido, você sabe.