sábado, 26 de outubro de 2013

Belchior # aniversariante do dia.



1978
O time do Mantiqueira ia jogar bola na Praça Roosevelt.
Micali, os irmãos Eduardo e Fábio, Paulinho e Márcio, Marcelo Pereira, Edgar, Renato, Marquinhos e eu. A Raça toda.
Eduardo pergunta para mim se eu já conhecia a nova música de Belchior, aquela que falava da angústia do goleiro na hora do gol.
13 anos eu tinha.
Íamos perder mais um jogo. Mas algumas coisa eu não perdi nunca.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Bairro do Brás



Poderia ser Bedford, ou algum pico do Bronx, onde eu ainda vou dar um rolê... mas é o BB, o Bairro do Brás, onde eu já dei meus rolês. 
Esse cenário de destruição de pós guerra, pós tsunami... a atração pela queda: thanatos é um deus muito forte.

Bairro é Brás, Pari, Bom Retiro, aliás o maior de todos é o Bonra, quer ver São Paulo, é o Bom Retiro.

Mas o Brás é muito louco, tipo: morreu, acabou destruído, uma puta velha, muito louco dar um rolê no Brás, se encontrar três italianos e um espanhol é a mega-sena.





a vida não cabe no bolso # 298



um grito, é o meu suspiro

hang on



hang on
não há mais ninguém aqui
hang on
mantenha-se fora da linha
hang on
ousadia e paixão,onda cristalina
hang on
você nunca mais está sozinha
hang on
que bom que você está parada na minha
hang on
tão linda, nem imagina
hang on
eterna ferida
hang on
estamos quase lá, na Indochina
hang on
quando menos se espera, pumba, o dia termina
hang on
ainda ontem eu te escrevia
hang on
deixe de mistério, você não adivinha
hang on
tudo por quase nada, um fio, uma linha
hang on
quando eu menos queria eu tinha
hang on
segure em minha mão
hang on
confie uma vez na vida
hang on
tudo por um triz na tua vida
hang on
as coisas estão por aí
hang on
eu e você, a tardinha
hang on
como está fica
hang on
não perturbes o major tom
hang on
estrela matutina
hang on
lance o coração
hang on
de novo, juntos

você não



se você nunca disse:
- te amo.
você nunca falou e disse.
se você nunca disse :
- te amo.
você não sabe.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um bilhete para Estocolmo




Um corpo de mulher jogado na praça de alimentação do hipermercado. A mulher está morta, foi degolada. O corpo está coberto por jornais. Uma poça de sangue não para de crescer.
Sabe-se que a mulher foi degolada pelo marido.
O marido não admitia que ela trabalhasse.
A mulher tinha 23 anos. Após sete anos de convivência, "o filho já podia frequentar uma escolinha", ela resolveu trabalhar.
O marido foi ao hipermercado, esperou ela ir almoçar, e na praça de alimentação tirou um facão de uma bolsa e a degolou.
Uma fita amarela e preta, sustentada por quatro torres de um metro e meio de altura, separa  o corpo, degolado - a poça de sangue aumentando - jogado no chão e coberto por jornais,  dos frequentadores do supermercado, que fazem algum tipo de refeição ali.
A fita separa o corpo alguns poucos metros, três ou quatro metros, das pessoas que estão comendo.
Estudos comprovam a conveniência de, em ambientes de compras como shoppings, hipermercados, malls,etc.  existirem lugares onde se possam fazer refeições. Segundo a revista Seleções desse mês  ( achei a revista no lixo) pesquisa recente " provou que a freguesia gasta quase 20% mais num lugar de compras  se contar com uma boa praça de alimentação".
A comida é podre, a carne é podre, o café nunca é bem tirado, tudo é pré-cozido e plastificado. Sub-sub-sub comida.Vende-se de tudo ali: tapiocas, coxinhas, água de coco, manjares, sorvetes, bombons, pães de queijo,e muitas outras guloseimas. O cheiro de bacon e óleo empesteia o lugar, mas poucos sentem qualquer coisa.
As pessoas comem de boca aberta e não param de falar. Nunca, jamais, de modo algum, elas ficam quietas. Algumas falam mesmo sozinhas, não com elas mesmas, mas com algum perseguidor imaginário. A maioria fala ao celular. O Celular é uma acessório muito usado pelos patrícios, deve haver um sem número de pesquisas, qualis e quantis, sobre isso, o tempo que as pessoas ficam falando ao  celular e o tipo de conversa que elas tem. Na Seleções desse mês, que achei no lixo, não havia nenhuma matéria sobre isso, o que as pessoas conversam ao celular, no entanto tráz matérias sobre "nosso corpo incrível", "12 ideias  que deram certo" e outras que eu não recordo.
O Som alto continua anunciando ofertas: biscoitos, salgadinhos, refrigerantes, etc. O mesmo disco, o da novela, roda o dia inteiro.
Enquanto o corpo da mulher morta e degolada está jogado no chão do hipermercado as pessoas, entre uma compra e outra, aproveitam para comer alguma coisa e colocar o papo em dia. 
A poça de sangue não para de crescer.

domingo, 20 de outubro de 2013

Maradona, aniversariante do dia




O São Paulo foi jogar contra o Sevilha, quer dizer, o time que Deus jogava. Não consegui chegar ao estádio, um congestionamento dos diabos. Ouvi o jogo no rádio.
Colocam Rivelino para falar com Diego.
Diego diz:

- Maestro! 
Maradona diversas vezes falou que o Riva era o ídolo. Rivelino e Maradona< porque eu adoro o lado esquerdo da vida, o lado errado.

eu corro


eu corro
de mim
eu corro

socorro

sábado, 19 de outubro de 2013

o encontro do carro a 150 quilômetros e a família de bolivianos




Uma família de bolivianos segue de mãos dadas pela avenida em São Paulo.
Embora não seja um costume na Bolívia, aqui a família segue andando de mãos dadas. 
Um bom costume brasileiro, entre tantos costumes que a família boliviana adquiriu em 7 anos vivendo aqui. Papai boliviano, mamãe boliviana e o menino Johnny seguem de mãos dadas, quase sorrindo. 
Previdente o pai segue no contra fluxo.
Com uma mão segura forte a mão do menino, com a outra a mão da mulher. Na Bolívia, na região de onde vieram, não poderia andar de mãos dadas com a mulher: essa deveria andar atrás dele. Gosta do Brasil, acha legal as coisas aqui, legal poder andar de mãos dadas com a mulher.
O sol bate forte, ontem choveu e amanhã sabe-se lá o que vai acontecer.
A 150 quilômetros no carro esporte, após uma noite intensa de balada, volta para casa no Morumbi o jovem Pedrinho, que tem o mesmo nome do avô, e seguirá a mesma profissão desse: advogado.
Embora não escreva corretamente, assim diz o vovô, logo terá uma boa redação, o sangue e a prática, a técnica e o espírito, são coisas que vem do berço, dizem por aí.
Muito seguro, o Pedrinho. Extremamente confiante. Lutador de Aikido. Jogador de Polo, inclusive surfista.
Vangloria-se de poder ficar dias seguidos acordado ( o recorde é de 93 horas! mas fazia frio e ele estava numa estação de esqui...) Volta correndo para casa, pois é domingo e a visita mensal do vovô. O bate-papo na varanda, os aperitivos, as recomendações sobre os negócios, são coisas que Pedrinho não quer perder. Vai tomar um belo banho, recompor-se completamente e apresentar-se de forma mais que conveniente ao vovô.
Os bolivianos vão a feira, dos bolivianos, por supuesto, ou seja lá a forma como os bolivianos digam: vamos a feira é claro, hoje é domingo. 
O jovem advogado volta para casa a 150 quilômetros, o carro pode muito, pode mais, e devemos dar as coisas, e as pessoas, aquilo que elas podem dar, é uma lógica muito corrente e bastante prática, assim diz o bom senso.
A família para por um instante. A cidade é feia, muito feia, mas agora o papai boliviano enxerga algo bonito. No carro Pedrinho, que tantas coisas bonitas já viu na vida, olha para o lado e também enxerga algo bonito.
O carro a 150 quilômetros, o jovem voltando semi bêbado da balada, a família andando na avenida, o Sol forte.
Ronco do motor e vento forte, tipo 150 quilômetros por hora. Balançar de roupas,nenhum tremor do carro. Sorriso dos bolivianos, sorriso de Pedrinho ao volante.
Tudo acabou bem, porque eu não gosto de finais tristes.

sábado, 12 de outubro de 2013

dia das crianças



e viva as crianças!

e quando eu vou ao outro predio da escola e sou cercado pelas crianças da 5ª série
com abraços e beijos e cumprimentos de mão sofisticados e ritualizados que acabam em espetaculares espalmares e vivas no ar,

e a mim elas deram o nome de pastor
quero chorar , mas eu sorrio. Só rio porque a felicidade existe, existe o amor, existe a paz, existe a bondade e existe a criança em mim em você e delas é o reino do céus

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

a Bela Vista não é para os fracos # 7




então o finado Severino, que morava na 13 de maio e era irmão do Zé, e cuja mãe trabalhava na mansão comentou :

"Lá até os cachorros comem carne todo dia!

gato preto morto estatelado



gato preto morto
estatelado
virou um capacho
pra pneu de carro

não, não é um desenho animado
ele não vai voltar a deslizar de novo
é a merda da vida
você atravessa uma rua
e miau

terça-feira, 8 de outubro de 2013

o que tinha de ser



o pássaro voa porque tem que voar
o mato cresce porque tem que crescer
o boi pasta porque tem que pastar
e eu trabalho porque nasci trouxa demais!

domingo, 6 de outubro de 2013

uma criança feliz



Eu de óculos, Marcinho e minha mãe, a Chelo. E mais meus amiguinhos da Vila Itororó, Vânia e Miguelzinho
Essa foto tem mais de 40 anos.
E lá estou eu feliz. Felicíssimo.
Incapaz de falar um palavrão, de fazer uma peraltice, de quebrar um copo, de quebrar um relógio na casa da vó Sinhana, incapaz de quebrar um aparelho de TV na cada da vó Dola, incapaz de dar sardinhas nas tias, incapaz de atravessar uma rua sem pegar na mão da mamãe, incapaz de dar bicas em palhaços, incapaz de tomar atitudes desagradáveis, de quebrar vidraças, de responder aos mais velhos.
Minha mãe me deu o apelido de estrepe, que é uma ferpa que entra dentro da pele e custa muito a sair.
Eu sou ainda esse menino, só que finjo bastante.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Janis Joplin, aniversariante do dia




eu tinha, mas faz muito tempo.
eu perdi, mas depois eu ganhei.
eu achei, mas não era nada daquilo.
eu sonhei, mas foi um pesadelo
eu sorri, mas queria chorar.
eu quis tentar, mas desisti
e
longe na praia
não era você que estava ali

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

o monumento das coisas inacabadas



fazer esse monumento
a todas as coisas sem finalidade
as paixões impossíveis
aos fracassos superlativos
as grandes cagadas

um monumento de areia
que desabe ao menor sopro
que não dure o tempo de ser pixado
não fique o tempo de ter seu autor esquecido
que não permaneça o tempo para ser questionado

esse monumento
não precisa ser cercado
não terá nota no jornal
nem placa de inauguração
sem homenageado
sequer um heroi anônimo para ser cultuado

monumento de merda edulcorada
de bolha de sabão
de papeis amassados
de frases que nunca foram lidas
de poemas excluídos 

o monumento do grande nada
sem resquícios de vaidade
sem interesses outros de ser construído
feito para ser imediatamente destruído
deletado

o monumento das coisas inacabadas

a vida não cabe no bolso # 294


força é saber desistir

Wilson Grey, aniversariante do dia.




Aniversário do Wilson Grey, parece-me que o outro tempo era melhor, mas deve ser somente impressão.

O Wilson Grey é brasileiro, apesar da gente não saber o que é isso e não gostar disso.

Ele não é um tiozinho, quer dizer, a gente sabe o que ele quer quando põe a menina no colo. 
Inclusive ele é um sofredor, e não obstante sabe rir. E ri na hora errada.
Adora um enterro. Tem medo da morte. Na verdade não acredita em Deus, ele engana Deus. Não acredita na própria morte, mas foge dela como quem foge da cruz.
Não gosta de trabalhar e trabalha até morrer.
Joga na loteria " nunca deu elefante, 347..."
Amou uma vez e depois: - Nunca mais! Apaixona-se a cada batida de pandeiro, por dentinho torto,frases como "agora você me deixou desconfiada!"
Ele não está nunca na direção, as vezes tem que empurrar o carro.
Nunca saiu do país, o lugar mais longe que ele foi é a Gamboa, mas faz-se entender até na China. Não sabe onde é a China, mas sabe que é longe.
Por duzentos mirreis puxou uma cana, cumpriu uma etapa, dormiu de olho aberto três dias, mas já esqueceu disso.
Não gurda mágoas, não tem bolsa, nem gaveta. A mudança cabe num envelope pardo: uma cartinha da mãe com algumas recomendações preciosas.
Não conheceu o pai. Trocaram algumas palavras, uma vez e bastou, nunca esqueceu. Sonha com ele, ás vezes com um dragão, outra como um cachorrão, em outras ele é um amigo.
Não gosta de criança.
Tem quatro afilhados.
Um dia ele pensou até que a coisa ia engrenar " as verdinhas vão chegar!, mas qual.
A frase que ele sempre repete:
- O que fode tudo é a esperança.