As pessoas não se enxergam. As pessoas não me enxergam, mas isso é problema delas.
As pessoas fazem o que fazem; trabalham no que podem, ou no que tem mais jeito. Jeito é que tem-se que trabalhar, esse é o jeito.E viver a vida, enquanto se pode.
Como descobrir o limite, saber o que importa, como conseguir o que realmente interessa?
Sentado no tamborete, copo de cerveja a frente, cutucando o celular, estou de olho, mesmo, nele.
Não para de falar, mesmo grita; e fala, gesticula, dança; emite impropérios, ameaças; e diz que vai fazer o diabo, e roubar:
- Daqui há pouco vou trabalhar!!!
Estala os dedos, estica e puxa. Se alonga. Faz rotação no pescoço e grita pra um tipo que passa:
-Aí baianão!!!
Mexe com um e com outro; abraça um que entra no boteco, chuta a bunda de outro que passa. Dá um bico na cachaça, toma dois copos de cerveja, ri e esbraveja mostrando os dentes. Vai e volta do banheiro, cafungando. Pula, bate palmas, chutes no ar. Diz que tudo vai mudar:
- Hoje é o dia!!!
O bar da esquina é um movimento. Entra e sai de gente . Fecha nunca. Movimento. Carrinho de cachorro quente, ás vezes de tapioca. Guardador de carro faz dele escritório; e tem jogo do bicho. É esquenta pra outros bares mais refinados, onde a bebida é mais cara. Bebe-se bombeirinho, maria-mole, pinga com limão, dreher, catuaba e cerveja, muita cerveja. Fuma-se na calçada, que existe lei, Menor compra cigarro e fuma maconha na calçada. Menor vende maconha, assim, quase na porta.
Ele rouba carros, e não esconde, antes proclama e grita, que é puxador e ladrão:
- Daqui dez minutos vou fazer um carro!!!
A polícia tá por ali, mas agora não é hora de entrar no bar. O acerto é feito durante o dia, na casa de um deles. á noite a polícia dá voltas e voltas no quarteirão, olham feio, nem me olham.
Olhar ao redor, entender o que está acontecendo. Se ligar na vida, ligar-se a ela, graça infinda. Enxergar-se no mundo, entender o agora.
Ele sai do bar pra rua na sua dança maluca.
Antes de chegar na outra esquina eu chamo:
- Juninho!
Ele volta o corpo e sorri. Abre os braços em cruz ao ver o 38. Antes de levar fogo, diz:
- Perdi.
Seus textos me emociona, me leva até a realidade retratada, me fazendo quase cuidar. A dor na alma, a falta de ar da angústia e a consciência da impotência, como uma desculpa ou uma designação.
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