segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
de como as coisas não parecem o que são, e no final são terríveis mesmo. # 5
Tornando os olhos em um 360º, perscrutando todo o movimento da estação abandonada, Phillippe mal tomou conhecimento do velho Spencer, que com os olhos semicerrados seguia em transe extático fazendo leves e ritmados movimentos com os dedos como se estivesse a reger uma orquestra.
Num dos cantos junto a uma fogueirinha um imponente espécime da mais pura cepa da terra encarou-o com os olhos em brasa.
Cruzaram os olhos e Phillippe regozijou-se do fato de ter despertado do torpor que se encontrava. Quase sorriu, quase acenou, mas nenhum gesto ou esgar foi manifestado.
As vozes do casal que entrava promoveram a possibilidade de desviar o olhar daquele índio.
Otto e Gretel, João e Maria, Pedro e Esmeralda, ou o que quer que o valha, entraram em silêncio.
Quem os visse assim, agora distantes, despreocupados, parecendo antes dois desconhecidos que por obra de algum acaso correram juntos para o mesmo lugar procurando abrigo da chuva fina, não poderia supor ou vislumbrar o número de vezes que fizeram amor nos últimos dias, a ausência de qualquer plano, conversa, discussão, debate, diálogo entre ambos; somente o amor feito e refeito inúmeras vezes.
Quem os visse em desamparo, os corpos jogados junto aos trapos em desalinho, no quarto do hotel fuleiro onde passaram os últimos dias, mal e mal se alimentando, sem sair dali para nada, fumando e bebendo, e amando-se de verdade, sem descanso nem piedade dos corpos, esvaindo-se e esgotando-se, nunca saciados e nunca perdendo a vontade, teria até um pouco de solidariedade para com os jovens lindos e sadios, que de fato eram.
Ao vê-los entrar Spencer, levantou num pulo e batendo continência, gritou:
-Eparreia, meu pai!
E desabou novamente no chão.
Phillippe Danjou voltou para seu lugar estratégico numa das portas da velha estação abandonada e Gretel segurando na mão do jovem Otto encaminhou-se para a fogueira e o índio.
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