quarta-feira, 18 de setembro de 2013

no juízo perfeito do meu afeto # 2



a união 
dos celerados, dos idiotas
dos comedores de vidro e dos cagadores de regras
dos idólatras e dos tomadores de drogas baratas
dos vagabundos netos de milionários
dos espalha-merda
dos bonecos de ventríloquo
dos vampiros
das senhorinhas sem sombrinha
dos inúteis
dos imbecis saudosos dos militares
dos fanáticos de qualquer matiz
dos apreciadores das aparências
dos funcionários que adoram um patrão
dos perdedores que nunca jogaram
das criancinhas adultas
das putas que gostam mais do que tudo de dinheiro
dos pais que mimam seus filhos
dos pais que não sabem quem são seus filhos
daqueles que cavam a própria sepultura
dos espadachins sem bandeira
das meninas maquiadas
dos lobotomizadores produtores de vídeos
dos locutores e suas entonações nos telejornais
dos defensores da barbárie
dos mestre-cucas
dos missionários e das especialistas
dos louva-a-deus
dos insetos que nunca vão virar borboletas
a união desse sem-número de parvos e basbaques
MANTÉM AS COISAS COMO ESTÃO

essa massa de zumbis
opera na manutenção dessa grande bosta

consciência e inconsciência
aqui não se preocupam com vocês

sem o descobrimento, nunca chegaremos a lugar algum:
corruptos são os outros
os outros é que são arrogantes
eles estão errados
isso não  nos levará além de nada


mas eu, no juízo perfeito do meu afeto,
declaro que navego entre a consciência cósmica e a inconsciência de classe
e entre a consciência de classe e a inconsciência cósmica

que estou perdido e não sou nada
que meu nome será apagado
nunca haverá em nenhum outro lugar eu
que nunca tive objetivos
que fiz as perguntas certas
e que voltarei a ser estrela e explodirei outra vez setecentas mil vezes sete

que vivo

e que continuo apagar o fogo das feridas com soda cáustica

(as putas me sorriem os mendigos me desejam bom dia sou bem tratado nas cinco comunidades vizinhas; por mim, está bom.)

é isto.

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