avelima
eu estou fora da rota
descendo a ladeira
no deserto do mapa
sem gps
de costas pra qualquer lugar
eu estou fora da pista
longe de tudo
no descarte
no recicle
sempre a fugir da vista
eu estou fora da rota
eu estou fora da vista
samsara
quero de volta qualquer lugar
domingo, 29 de junho de 2014
de novo na roda
eu estou dentro da roda
eu estou de novo no mesmo circuito
eu estou de novo no mesmo círculo
outra vez o mesmo samba
em volta com meu umbigo
sábado, 28 de junho de 2014
no apartamento oitavo andar # 14
Ele tinha ficado verde.
Outros ficam pretos, vermelhos. Uns ficam gordos, inchados, outros murcham. Ele ficou verde e murchou.
Enquanto ele murchava, ela foi às compras.
Ela fez todo tipo de compra no nome dele.
Comprou tantos anéis que não poderia fechar as mãos se colocasse todos eles nos dedos.
Comprou maçaricos, macacos hidráulicos, macacos para empilhadeiras, macacos para acionamento rápido e macacos hidráulicos horizontais. Comprou também funis metálicos.
Comprou cinco televisores de plasma, tela grande.
Comprou um jogo de sofá Chesterfield e duas poltronas grandes que pensou serem Luis XV.
Comprou cortinas e estofados e quase uma centena de almofadas.
Um faqueiro, de prata, e meia dúzia de jogos de jantar.
Comprou um barco.
Comprou duas casas em Itanhaém. Comprou um terreno enorme em Itaquaquecetuba.
Comprou muita roupa, talvez duzentos sapatos.
No hospital,na primeira vez que ela pode visitá-lo,assim que ele colocou os olhos nela, ele disse com voz segura e serena:
- Você sempre foi uma pilantra. E fechou os olhos de vez.
sexta-feira, 27 de junho de 2014
no apartamento oitavo andar # 12
Todas as tardes ela se despia em frente a grande janela que dava pra rua. Quem passava podia vê-la, nua inteira.
Ela tirava a roupa , não de maneira teatral, grega, nem fazendo a egípcia, ela tirava a roupa e ficava nua.
Poucos homens sabem ver uma mulher nua, sem ficar babando, ou impaciente como um esfomeado, ou falando obscenidades ou gracinhas. Não é uma devoção, todo cisco é sagrado, ou respeito, mulher nua é como um feriado.
Uns idiotas desocupados descobriram que ela ficava pelada, e que todo mundo podia vê-la andando despreocupada pela casa; aí começaram a gritar que nem uns macacos.
No dia seguinte as cortinas estavam fechadas.
Good bye Melissa
dois velhos amigos # 9
- sabão em pó é omo, amaciante é confort, leite condensado é moça, creme de leite é nestlé. o resto é economia porca.
- você tá ganhando pra fazer propaganda deles?
dois velhos amigos # 8
- não dá pra conversar a sério com você.
- a vida é uma merda, depois a gente morre e não tem mais nada.
- é isso que eu te falei, você é um palhaço
dois velhos amigos # 7
- a cultura vem antes da política.
- você não sabe o que está falando.
- tudo começa com aquela vontade de mudar as coisas
- mas isso é política.
- política é 171, mãos ao alto. cultura é arte.
- a prática precisa da teoria
- cultura não é teoria. cultura é ir além da vida, do cotidiano, da merda da política.
- enquanto isso a vida segue, acontecem exposições e lançamentos de livros. alguém lê as merdas que você escreve?
quinta-feira, 26 de junho de 2014
aquele que
aquele que comete atos ilegais está sujeito a irracionalidade dos agentes que fazem cumprir a lei.
aquele que não acumula bens na juventude está sujeito a passar percalços na velhice
aquele que não se sujeita a ordem vigente, perpetrada pela classe dominante, e investe contra essa, fatalmente será perseguido e esmagado.
aquele que não sabe amar e procura um amor de conto de carochinha ficará sozinho
aquele que não se alimentar de forma correta estará criando câncer em si mesmo
aquele que abraça qualquer causa dos outros, luta uma luta que não é sua, não está lutando corretamente
aquele que não gosta das coisas difíceis viverá encarcerado pelas coisas fáceis
aquele que não sabe interpretar seus sonhos, não interpreta o simbólico, não interpreta o mito, não sabe o que é a realidade
aquele que não sabe a classe social que pertence, não sabe nada da sociedade que vive
aquele que não lê no minimo um livro por semana, escuta um disco sentado, escutando-o, não assiste filmes anti blockbuster, não vai ao teatro, não curte dança, não toca nas flores, não mergulha nas paisagens, não mistura-se às multidões ,não sabe o que é experiência estética
aquele que não conversa com crianças ou velhos, ou bichos ou plantas,não conversa. se você não conversa com desconhecidos sobre temas altamente cavernosos e polêmicos, não conversa também.
aquele que não sabe o que é ter um transe místico, um delírio ,participar de um ritual xamânico, nunca viu um disco voador, não sabe o que é enrolar a língua, nunca tomou sequer morfina, não conhece nada da dor de estar vivo
o bom combate
antes da sombra, no corredor, no passa-quatro, na conversa da cozinha
depois da ponte, na ante-sala, no amparo, na surdina
na barra funda, em santo amaro, na nove de julho, no bixiga
eu lutei as lutas que não eram minhas
embora
as lutas de libertação, todas elas, sejam as minhas.
recolho as flores, não deixo que pisem nelas,
e essa luta não é menos digna
quarta-feira, 25 de junho de 2014
vem sombra vem
eu não sou essa sombra
eu não sou sombra de quem eu seja
eu sou mais que uma sombra
O Sol modifica tudo, eu acho.
aqui e ali
Aqui e ali procurava uma florzinha que não havia.
O Sol pegava de lado de modo que o outro lado da face
ficava gelado, enquanto a face que estava voltada pra o Sol, essa sorria.
A conversa girava, ia e voltava, em torno de algum fato grave, o desaparecimento de um bairro inteiro, com todas as memórias dentro,engolido por algum cataclismo.
Muito de quando em quando os cachorros latiam, ás vezes por nada,ou por um pio de passarinho, ou algum desastre iminente.
Um carro passava,depois outro e outro. Os motoristas solenes, convictos no ar condicionado.
Todo esse quadro tedioso, igual a centenas de outros dias iguais, me deixava igual onde eu estive, numa outra centena de dias iguais.
A conversa vai embora, sempre fico sozinho, mas
todo o lado de fora me procura:
As grossas nuvens, as nuvens finas, não nuvens, folhas caindo, folhas paradas, silêncio, silêncio, sempre tem alguém procurando algo para arrumar, alguém está sempre procurando distração, se continuar esfriando tô lascado, antevisão de nuvens, aí vem chuva, depois o Sol, uma linha pulando, um verso, outra vez a memória me escapa, pode ser, pode ser, sempre haverá alguém para falar mal de alguém, as más notícias, corre cotia, o mistério do sorriso da criança, a flor, onde estará?
Meu corpo em silêncio, a face imóvel, uma estátua mortuária? Christian, será brasileiro? Os passarinhos vem até mim, 3, 4, pousam, sem um pio, nenhum vento balança a pena, sem um suspiro, nenhum pensamento, enfim.
terça-feira, 24 de junho de 2014
dois velhos amigos # 3
- você gostaria de ficar a vida inteira em férias?
- eu não queria ter obrigação.
- pra ficar andando pra cá e pra lá?
- isso.
- isso cansa. já pensou se "isso" fosse o rio de janeiro?
- meu amigo eu penso nisso o tempo inteiro.
- se você fosse carioca aí é que você seria insuportável.
- imagine eu em buenos aires...
- eu não queria ter obrigação.
- pra ficar andando pra cá e pra lá?
- isso.
- isso cansa. já pensou se "isso" fosse o rio de janeiro?
- meu amigo eu penso nisso o tempo inteiro.
- se você fosse carioca aí é que você seria insuportável.
- imagine eu em buenos aires...
dois velhos amigos # 2
- desliga essa porra!
- eu não sei como desliga.
- então diminui o volume.
- diminui você, caralho.
- eu vou é aumentar. Pronto. Agora fudeu tudo de vez.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
terça-feira, 17 de junho de 2014
seleção canarinho
momento catártico, o gol.
grande egrégora, a seleção canarinho, nossa rapaziada no batuque esperto, certo?!
tudo a ver com política
nossas cores, todas elas, olhos puxados, olhos abertos na hora do gol. grande vibe.
um orgasmo de milhões ao mesmo tempo, um coisa grande mesmo!
uma bomba atômica amorosa
deus está vivo
segunda-feira, 16 de junho de 2014
amo a vuvuzela e rojões
amo a vuvuzela e rojões
canto o hino junto com os jogadores, e erro igual a eles.
nossa bandeira, é a mais bonita, o verde representa as matas, o amarelo o ouro, o azul o nosso céu anil!
adoro o galvão e o ronaldo e a tv globo
compro produtos originais da seleção que é a nossa pátria(os empresários dão empregos aos pobres!)
sou contra greve
acho churrasco o máximo e cerveja é uma maravilha.
votarei pela continuidade do governo estadual e pela continuidade do governo federal
sou um braslieiro, e um puta de um otário
domingo, 15 de junho de 2014
aqui
frequentemente tenho perdido a razão
(se é que alguma vez a tive)
e busquei obstinadamente a loucura
(embora ela estivesse sempre comigo)
esse movimento pendular
(onde estive perdendo tempo?)
tem suporte num lugar indefinido
(tudo aqui, um jardim de muitas dores dentro de mim)
quinta-feira, 12 de junho de 2014
incapacidade de sair fora daqui
vontade de dar o fora daqui
de sair fora
de olhar de fora
estar por fora
ficar de fora
correr por fora
vontade de dar o fora daqui
de sair fora
de olhar de fora
estar por fora
ficar de fora
correr por fora
vontade de dar o fora daqui
não ver a hora de sair fora
não ficar mais aqui
não basta ser totalmente de fora
não estar mais aqui
não estar nem aí
não gozar com nada daqui
não ver a hora de sair fora
não ficar mais aqui
não basta ser totalmente de fora
não estar mais aqui
não estar nem aí
não gozar com nada daqui
não ver a hora de sair fora
incapacidade de sair fora daqui
quarta-feira, 11 de junho de 2014
enquanto eu fumo um cigarro
enquanto eu fumo um cigarro
todo o resto fica parado
eu sigo fumando
olhando de lado
assim, o cigarro
queimando
fumaça, castelos
eu vou fumando um cigarro
só te olhando
dentro da cela
fumando ela espera
parada vela
movimento
a fumaça, caravelas
eu vou fumando
enquanto ela
e todo o resto
olhando
para todos os lados
presos na tela
a fumaça, infernos
eu vou
na esquina
tudo molhado
dores, tudo passa
o cigarro
sozinho, apagado
brasa morta, fumaça
terça-feira, 10 de junho de 2014
segunda-feira, 9 de junho de 2014
maria padilha
-
- Numa determinada madrugada encontrei essa senhorita, que esculachava um mendigo. Cheguei junto e mandei ela parar. Mesmo ela segurando um copo e um cigarro ela me deu uma joelhada no saco, que não doeu, e tentou me dar uma bolacha, que eu impedi segurando a mão dela no ar.
Eu disse a ela:
- Sei o que tu quer!
Ela:
- Então me dá!!
Eu: Não dou, não dou, não dou!!!
domingo, 8 de junho de 2014
encontro com famosos 14 # marinho chagas
Meu irmão Marcio Miele, que sabe tudo, que sempre soube tudo, era fã do Marinho.
Em 1974 eu perguntei pro Marcio:
- Que time você torce?
- Que time joga o Marinho?
- No Santos.
- Então eu sou santista!
Eu havia confundido o Chagas com o Perez, outro Marinho da seleção brasileira. Então o Márcio foi santista, por alguns meses até eu desfazer a confusão. Marcio ter sido santista só confirma a malandragem suprema do pequeno.
Acusado de irresponsável e maluco, jogava com a facilidade de quem faz as coisas brincando, sem dificuldade, sem esforço.
Depois de Nilton Santos e antes de Júnior, Marinho Chagas foi o melhor. O melhor no tempo da minha infância, e de Marcio também; sendo o melhor no tempo da infância, é um herói mítico, e aqui o reverencio, com o sagrado fogo das boas intenções.
Muito água caiu, muito fogo queimou. Marinho Chagas acabou jogando no São Paulo, alegria minha e do mano.
Em 1981 Marinho Chagas cruzou três bolas na cabeça do Serginho Chulapa, e o tricolor ganhou de três um do Grêmio, numa tarde de muita chuva, em que Marinho, Serginho, eu e Marcio dançamos e cantamos de muita alegria e felicidade.
Já nos anos 90 eu estava á toa na vida, rodando as ruas em busca da vida parar. De rolê num fim de tarde
áquela hora quente, hora de sair da toca, procurar algum expediente, matar a fome, correr atrás, buscar distração, alívio. chamar essa hora de happy hour é tão tristinho...
desço o viaduto major quedinho, venho saindo da santo Antonio, do outro lado o movimento do escadinha nunca me atraiu, ficar bebendo cerveja sempre achei a maior das caretices.
distraído, mas atento, esbarro com o Marinho Chagas.
- Ô MARINHO CHAGAS! Obrigado por aquele golaço pela Seleção Brasileira, obrigado pelos ótimos cruzamentos no são Paulo, você foi um dos maiores!
Marinho, só disse:
- Não foi nada. fiz tudo brincando!
estamos vivos
estamos vivos
embora tudo pareça tão distante
e o açúcar tenha gosto de adoçante
estamos vivos
embora as praças não tenham bancos
mas peças de metal com desenhos abstratos
estamos vivos
embora a saudade seja grande
e o futuro não esteja nas nossas mãos
estamos vivos
embora tenha gente rindo à toa
e a voz do cantor seja um fiapo de dor
estamos vivos
as pistas estão aí embaralhadas
pra gente rea(r)mar
são apenas sombras...
são apenas sombras...
sobras do amor de ontem
que não foi feito por mim
eu encontro pela casa
mas se foi amor, valeu.
sábado, 7 de junho de 2014
quinta-feira, 5 de junho de 2014
quarta-feira, 4 de junho de 2014
terça-feira, 3 de junho de 2014
ainda que admire o que me falta
ainda admire aquilo que me falta
não é isso que eu quero dizer
aquilo que me falta
que eu quero dizer
me falta
quero dizer
a rosa intacta ilumina o chão imundo
segunda-feira, 2 de junho de 2014
recomeço todas as coisas
recomeço todas as coisas
repito elas todas
para me reconhecer neste que estou aqui
repito elas todas
para me reconhecer neste que estou aqui
digo toda a história novamente
invento outra
acrescento mais uma com mais esse dia
invento outra
acrescento mais uma com mais esse dia
procuro a face de ontem no espelho
para me convencer de que eu sou o mesmo de ontem
para me convencer de que eu sou o mesmo de ontem
mas, e amanhã, afinal,
o que será de mim?
o que será de mim?
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