quarta-feira, 30 de novembro de 2011

tem um tempo
que eu não conto
quando leio um livro
revejo o mar
quando espero 
pra te ver
acordar


tem um tempo
longo
que eu tive que esperar
para o primeiro beijo
entender o que estava escrito
ver pela primeira vez o mar


tem um tempo
em que eu tento
enganar o tempo
escrevendo um livro
prolongando o beijo
nadando devagar


tem muito tempo
que eu não sofro
se vai chover no fim de semana
quando te espero
se falta muito para o livro acabar


hoje eu procuro um tempo
conciso
como escrever a faca
extenso
que movimente a vela
delicado
sem pressa pra te amar

mares de morros

renata roman

nos mares de morros a Serra recortou em silêncio um baú de belezas


aberto para quem quiser navegar

domingo, 27 de novembro de 2011

caramurus e jingle bells
todo esse barulho
me afasta dos céus

curiosos detalhes inscritos no solo cimentado da cidade que não é nossa e nem de nínguem. rugosidade aspereza simetria que não não pode ser lambida beijada nem tocada









atrás das grades a sociedade encarcerada não sente-se protegida e espera sentada o fim dos dias








flores esperam no chão.












 delicada rosa  sua fragilidade em contraste com a bruteza da calçada  encontra reflexo em cada pessoa que passa  e desvia o passo para não pisar em você.



lugares inusitados donde nascem plantas e ás vezes crescem árvores








sábado, 26 de novembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

um achado

lua quase lua
você não mais me procura
o que de fato não importa
mas ficou bonito á beça

lua quase lua
em alguma parte eu li errado
ou foi meu olhar míope
que deixou tudo  embaçado?
na falta de clarividência
o mistério encontra um lugar.

esse instante
lua quase lua
a fortuna da experiência estética
é uma estrela invulgar
assim falou Lucákcs

onde estão todas as coisas?

Qual era o nome daquela negona
muito míope que tocava cuíca no Vai-Vai?
eu queria agradecer, agradecer e agradecer
Qual era o nome daquela música
que eu quase dancei
(os discos nos bailes vinham sem etiqueta)
eu quero dançar dessa vez
Onde andará aquela morena
fonte de tão grande embaraço
que me disse no ouvido:
- o que vier eu traço!
e me deixou e foi ficar com aquela loira
que fez uma cara tão engraçada quando chorava
e foi em direção contrária do caminho de casa
O que eu ia fazer aquela tarde quando
o sol ardeu e queimou meu braço e
eu senti um arrepio no viaduto da beneficência portuguesa
lugar que eu velei mais gente do que eu merecia velar
onde eu segurei mais caixões que eu merecia segurar
Onde estão todos os nomes das coisas que eu teimo em carregar?

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

desnovelamento

Ir ao fundo de tudo
conversar com  o abismo surdo
ultrapassar a orelha do livro
traçar novo percurso

cavalgar o inseto alado
em outro quadro um novo itinerário
mapear o incartográfavel
novas palavras no dicionário

deslindar a matriz
tirar de mim para mim
desnovelamento
eterna procura de um final feliz

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

de uma estrela á outra.

Mas meus queridos eu tenho certeza de aqui agora, pelo menos uma pessoa está aprendendo algo, e essa pessoa sou eu” de mim para ouvidos moucos numa sala de aula.

Um dia, num breve momento é bom, e aí vem vinte dias horríveis, sem uma palavra, sem sentimento, o tédio que não balança o vento.

"eu estou aqui para ajudar", essa é minha fala. e eu quero é fazer falar.

E não vai aqui nenhum comportamento egóico, ou narcisista, porque eu não sei o que é isso.Eu não li nada disso. Eu sei de mim para fora de mim, sem me perceber, sem me entender, sem me conhecer. E sem me enxergar. Escrito assim de forma errada.


E é assim que eu vou á escola. Num lugar que eu chamo “próximo do Heliópolis,”, mas que no mapa da cidade é o Jardim Patente, e que no mapa da gente dali é o lugar perto da Barroca, perto da Vila do Sapo, perto do Pombal, perto da Ponte Preta. Para mim é longe de tudo de onde jamais eu estive.

Estamos em retirada, todos, sempre. Queremos nos fixar, conservar. Buscamos uma corda pra nos pendurar, “nossas roupas comuns dependuradas”, “nossos trapos coloridos - In their rags of light”.

if it be your will
That I speak no more, Linda, linda essa canção do Leonard Cohen, especialmente na voz do adorável Anthony .

Para lembrar, para registrar, para ficar, letras, musica, números, catedrais, ciência dura. Queremos ficar, mas estamos de saída.

Os alunos estão em retirada, eu tenho que ficar. “Vossa penitência acaba agora, finalizam o terceiro ano do ensino médio e vão embora, quanto a mim, senhoras e senhores, aqui permanecerei. Até quando não sei. Cá, atrás dessas grades, estou há 4 anos e não sei quanto tempo mais tenho a cumprir de pena”

Resolvo, após muito tempo, enfrentar o desânimo, contagiante como a pior das febres, e escrever algo na lousa.

Falaremos, pois de Agricultura.

Anteriormente falei sobre a Indústria - o caderno do aluno determinou uma história da indústria brasileira: Matarazzo, et alii; Getulio Vargas, a política desenvolvimentista; JK “50 anos em 5”, e por aqui ficamos, ou quase, e quase pulamos ,

dedicamos poucas linhas a ditadura militar – oh, sim isso existiu! Ao milagre econômico -, e a política de desmonte do FHC- neoliberal of course, but no perturbe –. O caderno do aluno pula

essa parte. E chegamos, para acabar, com a Guerra fiscal. Desconcentração industrial,

Todas aquelas indústrias, pequenas, da Alencar Araripe, saíram dali, deram lugar aos prédios, de 250 mil reais, onde, aliás, vocês não moram.” O que as pessoas que moram na Alencar Araripe vem de suas janelas é a favela de 100 mil habitantes , Heliópolis e seus 20 kilometros quadrados .

“E todas as indústrias da Vila Carioca, e o eixo Tamanduateí, a margem esquerda do fura- fila, quantos galpões abandonados?” Fim da Indústria.

Chegamos a Agricultura.

Nessa parte acontece a sensibilização, o caderno do professor ensina. Se isso é novidade para algum professor, não é para mim. Antes de qualquer coisa, o início. Chamo de apresentação:

Trataremos disso senhores: Agricultura brasileira.

Dois pontos, dois aspectos.

Em primeiro lugar fome. FOME.

Por outro lado temos a pátria amada campeã de exportação de produtos:

Laranja – 60% do suco de laranja consumido no mundo saí da nossa terra!

E o café, e a cana de açúcar, e a soja, e o frango?”

“Temos aqui duas possibilidades: Agricultura Familiar e Agroexportação; a opção por uma ou outra é uma questão de POLÍTICA.”

Ninguém fala nada.

Mas eu conheço esse silêncio.


Sento e fico pensando.

Sou muito vaidoso. O maior ele]gio recebi da nega loira. Coordenador duma pesquisa com 120 pessoas entro na cozinha, só negrão na parada, vestidos para ir bater cabeça num terreiro. Todos ficam em silêncio. A nega loira diz:

- Ô gente, o Mauricio é o maior dos pretos!

Outra vaidade, outro elogio:

- O professor é de onde mesmo do Nordeste?

Falo tanto do nordeste que o povo pensa que sou de lá.

São coisas muito próximas de mim. Procurar entender o Brasil, saber sobre o nosso interior. Sobre como vive a nossa  gente, sobre como a gente vive. Mas é preciso o diálogo. Não é uma expiação de males, bateção no peito, ladainhas de sofrimentos. Antes  um compatilhar de dores, de angústias. Não é exploração de sentimentalismo, é que no diálogo poderíamos ver um destino comum de todos, uma experiência parecida, comum, mas invulgar e talvez daí enxergar uma alternativa política para isso? Como construir essa alternativa?

O Pedrão, o maior louco da Bela Vista, falava que o lugar mais longe que ele tinha ido era o Cambuci. Eu fui ali, e depois  mais adiante, e onde eu vou chegar? Que tempo eu tenho pra ir, e onde eu quero chegar?

O ano está terminando, não há mais como continuar.

Faria se não estivéssemos em retirada, um registro enorme, um gráfico das exportações brasileiras de alimentos. VÁRIOS GRÁFICOS.

Os dez produtos mais importantes na balança comercial.

A importância da agricultura no PIB.

A produtividade.

O consumo de veneno, de agrotóxicos, “herbicidas”. Mais um lugar nosso de campeão mundial.

Uma seqüência histórica dos principais produtos de exportação.

E, e, e texto sobre os movimentos sociais. “ocupação” X “invasão”. A luta do campo na cidade.

Mas aqui o muito importante é falar da Migração. Os alunos são nordestinos, ou filhos de nordestinos.

Saíram de lá para cá, “em busca de melhores condições”.

Tem o aspecto da modernidade, tem o aspecto de querer sair. O José de Souza Martins, esse sim doutor, tem um texto sobre o fascínio que os óculos escuros exercem sobre o jovem migrante.

“Lamento sertanejo” é uma música tão bonita... Ah poderia fazer um CD para acompanhar as aulas...

E “tem gente, com fome, tem gente, com fome” do Solano Trindade? Parece que ouço um apito.

Toca um celular e me acorda de mais um delírio.

Estamos em retirada, e toda essa parte de gráficos, de música, de poesia,fica somente como registro de que eu poderia, PODERIA fazer.

Toca o sinal. Fim de noite de trabalho. Um rapaz vem falar comigo.

- Sabe professor quando você fala dessas coisas, a gente lembra...

Falei do nordeste em outros tempos. Falei da chegada da noite e do pai na soleira da porta, todos quietos, o pai olhando para o céu. E a chuva não chega. Mas isso faz muito tempo.

- A gente tinha uma plantação de mangas. Se tem uma coisa triste, é quando a manga não vinga. Ela fica miudinha assim, parece uma boneca magrinha. Um fantasma. Deu tanta tristeza na gente que a gente saiu de lá, sem nem se despedir da plantação. São coisas difíceis de falar.

Tome essa bala de milho, pro senhor lembrar do nosso nordeste.

Tchau, professor.

Em retirada estamos, mas eu sigo aprendendo. E me levantei, e fui também.
lamento meu coração
nessa tarde não dizer
que a chama
ainda

terça-feira, 22 de novembro de 2011

conversa do vizinho do lado

chumbo trocado
troca de gentilezas
outra briga de namorados

ela espera que ele entenda
sem dizer nada
que somente fique ao seu lado

ele pensa muito, pesa tudo
acha que já deu 
e parece dizer muito,muito obrigado

isso não vai dar certo, ambos estão errados
como diz a música viver a dois
precisava ser tão complicado?

domingo, 20 de novembro de 2011

Bela Vista # 31 Maria


Não nasce mais gente como a Maria.

A Maria é minha amiga há séculos. Quando a gente se encontra , se abraça, faz aquela festa. Ela diz:

- Ô Belo, como é que você tá?  E a lindinha?

A lindinha é a Lu.

A Maria não reclama da vida.

- Tá tudo bom, tá tudo bem.

A Maria trabalha como cuidadora de crianças, ela é uma criança tambem. Não preciso falar muito da Maria, né?! A gente olha a foto dela e vê tudo.

Eu pergunto:

- Que bicho vai dar?

E ela invariavelmente acerta.

Eu tenho um milhão de motivos pra falar mal da Bela Vista, mas basta eu olhar pra Maria, pra não existir mais nenhum motivo pra falar mal da Bela Vista. Nessa hora eu grito:

- Ah, como eu te amo Bela Vista.

encontro com famosos # 3 - Itamar assumpção

Estava eu num desses 3011 trampos de pesquisa que  fiz durante 18 anos.


O sol no talo, domingo.  O sol, o sol. Estava na Penha.


- Que destino o meu... Lamuriava-me.


- Tanto lugar pra ir, tanto a amar e eu aqui perturbando o macarrão, os telefonemas dos namorados, a conversa das tias...  perguntando que sabão em pó a família usa.


Subo a ladeira, procuro ar,  saio daquele beco.


No alto do morro um negrão carregando uma sacola de feira, cheia de verduras e frutas e flores, sorrindo me diz:


- Tenha um bom dia!

Era o Itamar Assumpção.



Na esquina da rua tinha uma lixeira. Joguei todos os questionários lá dentro e repeti a frase tantas vezes dita:


- FODA-SE O TRABALHO.


 E fui tratar de ter um bom dia.

sábado, 19 de novembro de 2011

Encontro com famosos # 2 - Elke Maravilha.



Adoro a Elke Maravilha.

A Elke é russa e conhece o Brasil, sabe? A Elke nasceu em Leningrado em 1945, foi gerada na  2ª Guerra e veio pro Brasil dar muito amor.

Ela entendeu melhor o Brasil  e explicou. A alegria é importante!

Aqui tem cor, tem flor, tem criança. Tem muita coisa bonita aqui.

Estava eu num desses lugares da Bela Vista... um bar "Os bons companheiros", " Sindicato de ladrões", "O poderoso chefão", bem típico. Lugar escuro. Nos fundos um reservado com mesa de bilhar, de carteado, um desses lugares de onde os velhos saem com pacotes de dinheiro.

Estava junto com meu grande amigo, filho do presidente do clube mais importante do bairro. Os velhos falavam:

- Dá um guaraná pra eles, oh! Bastião. E a gente tomava sem falar palavra.

O Jacomino dizia que a gente ia lá aprender.

Entra a Elke Maravilha no bar, vestida de Elke Maravilha, falando como Elke Maravilha, um banho de luz, de cor, de vida, de amor, extroversão; a Elke é um bando de criança junto, uma trupe de palhaços. Entrou gargalhando.

Os velhos todos quietos.

Elke pede uma "pinguinha" e diz, de forma pausada, firme, direta, com os olhos escancarados e as pernas abertas:

- Eu gosto quando a tensão se transforma em TESÃO".

E eu tive que continuar quieto.

Essa Bela Vista... são coisas assim da Bela Vista que eu definitivamente não gosto.

‎"...amou-a com esse triste amor que inspiram as pessoas que não nos amam, os fracassos, as doenças, as manias; essencialmente, não é mentira dizer que nunca se afastou dela." Borges dizendo alguma coisa do Hawthorne, em Outras Inquisições. Eu amo a Bela Vista assim, um triste amor.

E Borges está mudando minha vida, mais uma vez um livro mudando a minha vida...

Ora, o Lawrence, conforme ele escreveu no comentário, superou em muito o que eu havia escrito. ele falou desse encontro fortuito, possível, só possível no nosso Bixiga.(Aqui o amor pela Bela Vista deixa de ser triste)
O comentário dele, para mim é um diálogo, um ínicio de.E assim me possibilita um texto dentro do outro texto. Aquilo que foi acrescentado, depois do comentário do Lawrence, surge  em itálico.
Tudo que eu havia pensado, ou tinha sugerido, eu quero tentar  deixar registrado. Eu não havia ido  a fundo em escrever a Bela Vista que eu quero, que é a minha Bela Vista favorita, em oposição aquela conservadora, que segura, que não deixa ir a deriva. E não havia explicado o  porquê do Quixote, que vai a deriva e delira, sonha.

- Bela Vista são muitas, jogo de espelhos partidos misturando um lugar. Se eu fecho os olhos eu tenho outra Bela Vista. Aliás Bela Vista não há. Eu tenho um registro fotográfico com as placas indicando Bela Vista e a seta á direita, á esquerda. Onde estará a Bela Vista?

 Há o Bixiga dos velhos,dos primeiros habitantes do lugar; dos negros da saracura, dos nordestinos;  tem o Bixiga da Treze ,uma geração dos anos 70/ 80, muita coisa pra lembrar.

Um lugar que tem dois nomes, já é uma bagunça, uma  coisa a mais a decodificar.

Entre a Paulista e o Centro, a Bela Vista é o lugar.

A minha Bela Vista também são muitas.Eu gosto da Bela Vista de todos, uma possibilidade de encontro, misturar gente.Foi nessa bela Bela Vista que encontrei o Lawrence.

Lembrando da Elke e pensando nas várias  Bela Vista, que não há, encontrei o Lawrence Castello Branco, numa quase madrugada  de segunda feira na Bela Vista. O Lawrence é um Dom Quixote.

Eu posso dizer, que o Quixote é realista. Com o auxílio do Borges:" Realista face a algum grande épico, a trajetória do Odisseu."

(Aqui outro toque do Lawrence, o cotidiano de gente comum, nada épico encontrar um amigo e trocar algumas ideias, mas isso de repente dá uma força pra ir além.)

"O que é o Quixote? O que procura o Quixote?

Opor ao prosaico um mundo imaginário. Você tem essa paisagem triste, algumas figuras, uma dificuldade de se relacionar, mas você inventa, encontra nesse lugar o seu lugar. E sonha em fazer um lugar."

O mundo imaginário, o mundo das ideias, ideais, mudar o mundo. Lawrence Castelo Branco, andando na madrugada, vivendo o sonho.

E a gente conversou e se abraçou, e falamos da Bela Vista , amar a Bela Vista, uma idéia de Bixiga, desse amor para com a Bela Vista, e não ser amado pela Bela Vista. Amor Triste, amor inventado, amor fudido, amor.

De volta ao amor, de volta Elke, que inventou um brasil melhor, maravilha, Amor.



Um pouco mais sobre a Bela Vista aqui: http://mauriciomiele.blogspot.com/2011/05/uma-bela-vista-que-nao-sai-da-minha.html

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Da série: Encontro com famosos # 1 - Jards Macalé




Do tempo que tomávamos vinho barato nas praças: “ isso faz muito tempo...”

Paulo de Tarso Gracia é o meu amigo.

Não tínhamos dinheiro, andavámos debaixo de chuva, nadávamos na nossa juventude. E achávamos que já não existia tempo para nada. O futuro não tinha, o passado era pesado e o presente eram as ruas. As meninas eram lindas e ouviam nossas estórias, mas davam sempre o fora, e estávamos dispostos a brigar com um bando de 40 punks se eles dessem um pio em nossa direção.

Arrumamos um jeito de beber sem gastar o dinheiro que não tínhamos. Faziamos uma vaquinha, pediamos moedas no Sesc Pompeia e no Centro Cultural pra outros malucos, e comprávamos um garrafão de 5 litros desses vinhos finos, sangue de boá, ou piarrentini. Enchiamos os copos dos que haviam participado da vaquinha e vendíamos copos pra outros ,dizendo que estávamos precisando de uma grana pra voltar pra Osasco e Carapicuíba. Compravamos outro garrafão e bebíamos. A todo vagabundo que passasse na rua ofertávamos o vinho, uma sensação contraditória de expulsa-vampiro.

Numa dessas noites no Centro Cultural do alto do trapézio de concreto, vejo o Jards Macalé aparecer com o violão debaixo do braço, após ter feito um show.

“JARDS MACALÉ, seu viado, traidor.Viado maldito, Maldito viado. Suas musicas são maravilhosas, Transa é o melhor disco do Caetano, essa sua cachorra paraíba é uma puta sacada, esse Mal Secreto é a maior musica do Brasil, Hotel das Estrelas é a minha musica.”

O Macalé escreveu num autógrafo: " Mauricio, cuidado com o garrafão de vinho" e fez um desenho de nós dois abraçados.

Eu e o Paulo evoluímos, passamos ao Almaden, e depois a outros vinhos de 50 dolares que continuamos a entornar nas praças. Eu evolui tanto que parei de beber.

Apesar do toque do Macalé eu fiquei quase 25 anos sem cuidado nenhum com o garrafão de vinho. Depois, como se tivesse tido uma grande revelação, passei a ser tão cuidadoso com ele, que nunca mais pus as mãos em nenhuma garrafa.

Maria Candida Bueno do Nascimento - Vovó Maricota. (em construção)

FALECIMENTOS

D. Maria Candida Bueno do Nascimento

Faleceu domingo último, nesta capital a sra. d. Maria Candida Bueno do Nascimento, viúva do sr. Zacarias Fernandes do Nascimento. A extinta , que era filha do sr. Antonio Bueno de Camargo Silveira e de d. Anna Salles Bueno , contava com 83 anos . Pertencia a tradicional familia de Amparo e gozava de largo círculo de amizades pelos seus excepcionais dotes de caráter e de coração. Era mãe dos srs. José Bueno do Nascimento casado com Jovina Sales do Nascimento residentes em Campinas; Antonio Bueno do Nascimento, viúvo de Ernestina Loureiro do Nascimento; Francisco Bueno do Nascimento, já falecido , que foi casado com Zuleika Oliveira do Nascimento; e das sras. Annabis do N. Assis, casado com Paulino de Assis, Brasilisia do N.  Piva, viúva do sr, José de Paiva Vidual e de Adeldina do N. Miele, casada com nosso companheiro de redação Caetano Miele.

Deixa 16 netos e 9 bisnetos.

O enterro realizou-se no mesmo dia, á tarde, saindo o ferétro da rua São Joaquim 480, para o cemitério São Paulo.


Vovó Maricota, é a mãe da nossa gente.Ela Casou-se com o Zacharias Nascimento, que era o feitor na fazenda dos Bueno. Não foi um bom casamento. eles passaram dificuldades. O Zacarias morreu cedo, e a Maricota passou um mal bocado como viúva, vivendo na fazenda com os filhos e sem a melhor condição de criá-los.

Os primos: Dino, Durval e Dirceu; Consuelo (Chelo) e  Célia; Vera e Marina; Paulino
e Zizita (Aluisia);  Conceição, Zenaide, Coralia, Tili (Carolina), Cito (Laercio) e Ruy ;  José e o Zaca
são  os 17 netos dela citados no aviso funebre..

Yvonne, William e Fernando; Thomires, Darcy e Alvise  são bisnetos da Vovó Maricota. Andavam juntos com os primos: Dirceu, Durval, Chelo, Marina, Vera, por que tinham mais ou menos a mesma idade.

Os outros três bisnetos da Vovó Maricota, que completam os 9 bisnetos da notícia são: Luiz Carlos Miele, Meire e Neide.

Ela faleceu na casa do meu avô, Caetano Miele, na rua São Joaquim 480. Ela morava com o cunhado e a filha Dina e os netos Dirceu e Durval

Conta lenda que ela despediu-se de todos antes de morrer. A única pessoa que despediu-se da Vovó Maricota que está viva, é a  Tia Vera. A Tia Célia não despediu-se da Vovó Maricota porque era muito criança, mas ela conta essa estória:

"A vovó Maricota percebeu que ia morrer e chamou todos pra dela se despedir.. Falou a cada um uma palavra. Antes de morrer ainda fez uma graça. Disse:

- Isso aqui tá tão bom que eu não queria ir embora!"

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Francisco Ramires de Pórros

De origem espanhola era o pai de Bartholomeu Bueno da Ribeira...

Eu sou o avô do avô do avô do avô do avô do avô.

Eu fiz o meu destino, eu o fiz.

Eu fui o sujeito, antes dele existir.

O verbo sou eu.

Eu sou eu.

Eu vi; e agora outros também.

Na grande noite sem Lua nem estrelas, do alto do monte, no meio da mata, eu  vi aldeias incendiadas.

Eu queimei as aldeias, que ainda ardem, antes da procissão das velas  mentirosas, do cunhadismo, dos livros serem escritos.

Eu sou antes. Eu sou antes da noite anterior.

Assassinatos, estupros, mulheres violadas,crianças estraçalhadas.

Na manhã seguinte, no outro dia, na outra aldeia,despertos do pesadelo eles novamente se entregaram a mim, felizes e alegres como quem se entrega a um destino sagrado.

A felicidade é vã, a alegria  é estúpida.

Minha faca sangrou e cortou a carne dos jovens . O sangue dos indios escorreu para a terra que foi cultivada no dia seguinte. As cabeças dos velhos, as entranhas das virgens, tudo escorreu para o chão que agora os alimenta.

Tudo inútil, o ouro foi pouco, a prata nenhuma.

E eu continuei a andar. Andar dias e noites, vagar na terra, sem ouro e sem nada.

Para onde olhava, havia somente  o verde escuro da mata.

Mato sem nome, árvore sem nome, bicho sem nome. Casa, montanha, rio. Mato, mato, mato.

Com que língua lhes falei? A lingua das pancadas. Que língua entenderam? A língua do meu facão.

Não tive ouro, nenhum cobre.

Não tive armadura, sapatos.

Cheguei a vila, ás taperas, a sua praça sem nome. Dormi em seus catres, compartilhei sua miséria.

O que disso ficou?

Uma linha: com o Pai ele chegou.

Mas vagando eu continuo dentro da noite, no escuro da mata. Um corpo de  velho nu, estropiado. Cabelos desgrenhados, as mãos tremendo , os olhos não vêem, tenho fome.  Sou um corpo cansado, ainda procurando ouro.

Mas eu sou aquele que fala, sou aquele que procura.  Sou você que me achou.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

memória # 1

A memória
desenhou na argila
algo que a chuva
vai levar

As folhas caem
e embora inútil
alguem vai recolher
tudo que ficou para trás

Os passos que ouvi
não eram seus
eram o eco
de outros cais

Sempre o acaso
me faz lembrar
tudo o que
o tempo
não deixa passar

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Capitulo II - O Caminho das Pedras: Vovó Buena

                                                                     Falecimentos


                     D.Anna Salles Bueno


Falleceu hoje na cidade de Amparo, contando com 86 annos a exma. sra. d. Anna Salles Bueno, viuva do sr. Antonio Bueno Camargo Silveira, fazendeiro e naquella cidade e pertencente a conceituada familia daquelle municipio.


A extinta era muito estimada pelas suas qualidades de espírito e coração. Era mães dos srs. Francisco, Antonio, José,  Joaquim, dr. Pedro Bueno Camargo  Silveira, advogado em Amparo e de dd. Maria Candida Bueno do Nascimento, Anna Carolina Araujo,Amelia Campos Leme, Ursulina Gomes Silveira, Albertina Bueno de Moraes e Hermelinda Xavier da Silveira.


Deixa os seguintes netos: José de Araujo Netto, contador da Companhia Paulista de Seguros; Francisco Araujo Junior,José Bueno do Nascimento, funccionario da Mogyana; Francisco Bueno do Nascimento da casa D.Juanita; Antonio Bueno do Nascimento, Paulo Xavier Silveira; Darthiu Silveira; Leopoldino Bueno de Campos;Raul Bueno de Camargo e sras. dd. Adeldina do Nascimento Miele esposa do nosso collega Caetano Miele  do "O Estado de S. Paulo" e diretor do Grupo Escolar Rodrigues Alves; Brasilizia N. Paiva; Annabis N. Assis e senhoritas Luiza, Bertha, Luciliae Dorbalina Bueno de Camargo.; e a bisneta Maria Conceição Oiveira.


A sua descendência é muito numerosa e elevam-se a 50 os netos, bisnetos e trinetos, incluindo os parentes constantes desta notícia.


Pesames á exma. familia."


Guardo há muitos anos essa notícia. Pequeno recorte sem fonte. Por estar sem fonte sei que não veio do meu pai, ele me ensinou desde os sete anos, desde que aprendi a ler, a colocar data em tudo. Outra coisa: não foi publicado no Estadão, se não estaria escrito nosso colega de redação, ao falar do Miele.


O caminho das pedras começa pela Vovó Buena, Anna Salles Bueno. Ouvi da Zenaide, que não era chamada por nós de Tia, apesar de ter sido a preceptora da minha mãe, essa expressão:


-Vovó Buena.


No capitulo estórias da nossa gente - nossa gente é expressão nossa corrente, Tia Marina muito a usava - falarei mais da Vovó Buena, da Zenaide e da tia Marina.


O antepassado mais longinquo que eu tinha notícia era Vovó Buena, eu tinha o recorte, então eu fui ao Google. "Anna Salles Bueno".


Não, não é ela que aparece.


Sem aspas. Não, ainda não.


O nome do marido, Antonio Bueno Camargo Silveira + Anna Salles Bueno. Aqui chegamos na Genealogia Paulistana, de Silva Leme. Os Bueno da Ribeira, mas ainda não a Vovó Buena.


O nosso amigo Silva Leme atualizou e ampliou a obra do  Pedro Taques, de quem era descendente. Com nove volumes, Genealogia Paulistana ,  é a maior compilação genealógica brasileira, com mais de duas mil páginas.Ela é maior não pelo tamanho, mas pelo rigor com que foi escrita.




Toda a Genealogia Paulistana gira em torno das diversas famílias que se entrelaçaram a partir de João Ramalho e Bartira. A obra de Silva Leme foi transcrita e disponibilizada na Internet em 2003. E é essa
obra que foi consultada para que eu  aqui escrevesse essas páginas.


A dificuldade da leitura do Paes Leme consiste na formatação da obra. As familias são os títulos, divididos em parágrafos que são os filhos ; aí surgem os entrelaçamentos, e vem  o vai e volta.


A dificuldade maior  para nós é que ela trata dos descendentes de Bartira e João Ramalho, e como eu fui descobrir mais tarde nós não somos descendentes desses, fica ainda mais dificil achar-nos.


E eu ainda não encontrei a Vovò Buena...


Então tira um Silveira aqui, depois coloca um "n" a menos, e põe uma Maria não sei por quê, e coloca o Camargo, e tira, e cavoca e digita, e volta no dia seguinte, e sem querer achei:


8-4 Anna Maria casada em 1857 no Amparo com Antonio Bueno da Silveira, f.º de Pedro Bueno de Camargo e de Antonia Maria da Silveira Franco.


Sem dúvidas, Anna Maria, casada com Antonio Bueno da Silveira, no Amparo, é  a Vovó Buena.


Está lá: Genealogia Paulistana, página 110 do volume I, Carvoeiros;


7-9 Francisco de Salles Xavier casou-se  pela 2.ª vez em 1834 no Amparo com Anna Gertrudes de Oliveira, natural de Mogi-Mirim, f.ª de Manoel Pereira do Prado e de Maria Alves de Oliveira. Teve quatro filhos;  


 a 8-4 é a Vovó Buena.


Aqui começa uma nova pesquisa, uma outra luta.


Eu pensava que ela a Vovó Buena é que descendia de algum Bueno antigo, mas foi o marido dela., o avô do meu avô , o senhor Antonio Bueno da Silveira, que descendia.


Chegamos ao senhor Pedro Bueno  de Camargo. E agora tudo fica muito mais dificil.




























.

domingo, 13 de novembro de 2011

Capítulo I - Familia Bueno - Árvore Genealógica

Família Bueno

A família Bueno teve sua origem em Piratininga, com o nascimento da colônia. Começa com os índios irmãos Tibiriçá e Piquerobi e Caiubi,  aliados de João Ramalho e que auxiliaram na fundação do Colégio de São Paulo e na consolidação do regime colonial no Planalto.

O primeiro registro da família nessas terras brasileiras é da chegada de

1 -Francisco de Ramires de Porros, de origem espanhola chegou do Paraguai. Era o pai de

2 -Bartholomeu Bueno da Ribeira, que nasceu em Sevilha reino de Castela, Espanha, antes de 1570. Em 1582, veio para o Brasil, em companhia de seu pai, na armada de Diogo Flores de Valdez, na qualidade de carpinteiro.

Bartholomeu Bueno da Ribeira casou com Maria Pires por volta de 1580 e teve um filho do mesmo nome.

Maria Pires, filha de Salvador Pires e de Mércia Fernandes, nasceu em 1564, mameluca, também conhecida como Messiaçu porque sua mãe descendia do Cacique de Ururaí, Piquerobiíndio de São Vicente, um dos irmãos de Tibiriçá.

Um parêntese "Há um boato ainda não comprovado que a Federación de Comunidades Judías de España teria reconhecido Bartolomeu Bueno da Ribeira como um judeu sefaradita e cristão-novo." 

Bartolomeu Bueno da Ribeira. Ele é nascido no bairro de Santa Cruz, em Sevilha. Eu conheço a região. Colado em o Real Alcazar, Santa Cruz é uma antiga juderia de Sevilha. Lá foi cenário de dois dos maiores e mais covardes massacres a judeus da história da Espanha. Santa Cruz só tem duas entradas e saída. No primeiro massacre, eles fecharam e mataram um número absurdo. No entanto, passando-se vários anos, um novo líder entre os judeus se preparava para dar o troco nos guardas, atacando eles à noite. O problema é que esse lider judeu tinha uma filha, que era namorada secreta de um desses guardas. Ela contou a ele o que aconteceu com a promessa de que nada aconteceria com seu pai. Os guardas atacaram e fizeram o massacre como da outra vez, mas com um detalhe muito cruel: o guarda que namorava a menina, liderando o ataque, fez questão humilhar e acabar com a vida de seu pai em praça pública. Por conta disso, a menina em desespero se tornou um freira e nunca mais em vida regressou a Santa Cruz. Porém, como testamente, pediu que ao morrer fosse degolada e sua cabeça posta em uma casa em Santa Cruz como lembrança do que acontece a quem trai a sua famíla. Hoje, de Susona (Susan Ben Suson), filha de Diego Susón, temos apenas um conjunto de azulejos pintados que remontam a sua caveira, que foi o que restou de sua cabeça após apodrecer na vista todos.
https://genealogiadoslemes.wordpress.com/2020/08/28/bartholomeu-bueno-da-ribeira-o-sevillano/


Aqui um parêntese importante:  a descendência de
Piquerobi,  pai de

Antônia Rodrigues casada com Antônio Rodrigues  pais de

Antônia Fernandes casada com Antônio Fernandes pais de
Messiaçu casada com Salvador Pires, pais de
Maria Pires casada com Bartholomeu Bueno da Ribeira, o sevilhano 

Outro parêntese: Antônio Rodrigues ajudou Martim Afonso de Souza a fundar São Vicente. Ele chegou no Brasil, antes do Brasil existir, em 1493.De acordo com os registros históricos, Antonio Rodrigues, João Ramalho e Mestre Cosme Fernandes, o "Bacharel" foram os primeiros portugueses a viver em São Vicente. Provavelmente eles eram tripulantes da armada de Francisco de Almeida e desembarcaram aqui em 1493. João Ramalho era casado com a índia Bartira, filha do poderoso Cacique Tibiriçá. Antonio Rodrigues teve vida marital com uma índia, filha do Cacique Piquerobi. Mestre Cosme era dono do Japuí e do Porto das Naus, onde construiu um estaleiro muito conhecido pelos navegadores da época.

O Nome do filho Bartholomeu Bueno da Ribeira e Maria Pires era o mesmo do pai, mas ele foi chamado de 

3- Bartholomeu Bueno Cacunda. Bartholomeu Bueno da Ribeira, chamado de Bartholomeu Bueno Cacunda, era irmão de Amador Bueno. Nasceu por volta de 1585 e morreu em 1638. Casou-se com Marianna de Camargo.
Esse foi o segundo casamento dele e ocorreu em 8 de janeiro de 1631. Marianna de Camargo, filha de Jusepe de Ortiz Camargo e de Leonor Domingues.
Bartholomeu Bueno Cacunda e Marianna de Camargo tiveram o filho

4- Bartholomeu Bueno de Camargo,  que faleceu por volta de 1685 e foi casado com Izabel de Freitas, teve o filho

5- Pedro Bueno de Camargo nascido em 1675 (casado com ? que teve o filho 

6-
Pedro Bueno de Camargo    (nascido em 1730?)  " casado em 1766 em Atibaia com Marianna Bueno de Camargo filha de João Pereira de Camargo e de Izabel Bueno de Moraes pai de

7- Pedro Bueno de Camargo  batizado em 1777  em Atibaia foi casado com Antônia Maria da Silveira Franco era o pai de

(uma diferença muito grande de idade, o filho nasceu quando ele tinha 50 anos de idade?)

8- Antônio Bueno da Silveira  nascido em 1834 que casou-se no Amparo em 1857 com a Anna Maria Salles, também chamada Anna Maria do Espirito Santo ou Ana de Sales Xavier  cujo pai era Francisco de Salles Xavier.

 9- Antônio Bueno da Silveira e Anna Maria Salles foram pais de

10- Maria Cândida Bueno do Nascimento, nascida no Amparo e que foi casada com Zacharias do Nascimento pais de

11-Adeldina Bueno do Nascimento  e casada com
Caetano Miele , pais de

 
12- Dirceu do Nascimento Miele casado com Consuelo Loureiro do Nascimento pais  de

 
13- Mauricio do Nascimento Miele, nascido em São Paulo em 1964 e casado em 2002 com Lucimara Adriana Maia Miele




Fonte:

http://www.holtzgen.com/individual.php?pid=I19543&ged=bernadete.ged

https://osamparenses.com.br/bueno-de-camargo/

Genealogia Paulistana, Silva Leme, Volume I – Pág. 370 a 418, Título Camargos.


http://www.saovicente.sp.gov.br/conheca/povoacao.asp