Gosto de pensar que temos somente algumas perguntas fundamentais, pedras-angulares de nossa angústia profunda, para responder:
-De onde eu vim?
-Para onde eu vou?
-O quê é que eu estou fazendo aqui?
Se a Genealogia, estudo do parentesco, obviamente não reúne as condições necessárias para responder- não da forma profunda que a primeira das perguntas fundamentais está colocada - ela responde á objetivos menos importantes.
Fiz através da Genealogia, um passeio ao passado.Querendo saber o nome do avô do meu avô, consultei o Google, o novo oráculo, e cheguei a um lugar, que eu não esperava chegar.
Voltei ás praias virgens, ás “índias passivas e ofertantes, que andavam nuas e não sabiam se negar a ninguém"; a certo Antônio Rodrigues “que ninguém sabe como veio parar aqui”; a uma briga de caciques irmãos, um atacando o Colégio, o outro defendendo-o,fragmentos de história, e isso me deu uma coceira, uma vontade de escrever uma estória.
Mas eu quis escrever a estória, antes da história dos Bueno, ou depois?
Ah, sim, de novo: O que eu queria saber ? O nome do avô do meu avô; pois que ele se chamava Antonio Bueno da Silveira.
O caminho das pedras da pesquisa foi um: Anna Salles Bueno. A vovó Buena, avó da minha bisavó Maricota. O nome de um antepassado mais distante que eu conhecia.
Contava-se uma lenda na família, a minha família descendente da Vovó Maricota, que descendíamos de Bartira e João Ramalho. Fui pesquisar e cheguei a resultado diverso, mas não muito distante.Nós somos descendentes não do Tibiriça, pai da Bartira, mas do irmão dele o Piquerobi, cunhado do Antônio Rodrigues, um daqueles que "nínguem sabe como veio parar aqui".
Ao fazer a pesquisa eu quis, como na música de Gilberto Gil, saber o nome do avô do pai do pai do avô do meu avô. É uma história, (estória?) complicada mesmo.
Todo aquele que se aventurou a ler a Genealogia Paulistana de Paes Leme, que é a Bíblia, o livro a ser consultado sobre as famílias de São Paulo sabe do que estou tratando: números, capítulos, parágrafos, vai e volta; de Bueno para Camargo, daí a Carvoeiros, e agora Pires e de novo Bueno. Perder o fio da meada, ali, é muito fácil.
Como em qualquer família, muitos se perderam no caminho... E a mim não restam dúvidas que a história de uma família é muito mais rica em estórias do que qualquer outra coisa. De filhos que não estão ali, ou de outros, que não filhos ,estão ali.As estórias não estão no Paes Leme.
A estória é mais que a história. A estória, um arcaísmo, como a genealogia. A estória, em oposição à história, oposição ao oficial, ao registro do bacharel. A estória, arcaísmo, uma caixa de pandora carregando outro saber.A estória quer mais que a história, como o mito explica tudo. Explicam tudo a fábula e o folclore também.
Através da Anna Salles Bueno cheguei ao nome do marido dela: Antonio Bueno Silveira Camargo.Uma vez conhecendo-se o nome do avô do meu avô, restou-me continuar esse caminho, e se obviamente não me interesso por chegar até Adão, já que sei que sou filho de Xangô,( e essa resposta estava na música do Gilberto Gil) descobri que o pai do avô do meu avô era Pedro Bueno de Camargo.
Esse senhor Pedro Bueno de Camargo era bisneto de outro Pedro Bueno de Camargo, neto do bandeirante Bartholomeu Bueno Cacunda, irmão de Amador Bueno, aquele que foi aclamado rei de São Paulo.
Bartholomeu e Amador eram filhos do Sevilhano, Bartholomeu Bueno da Ribeira.
Bartholomeu Bueno da Ribeira casou-se com uma das filhas do cacique Piquerobi, irmão de Tibiriçá.
Nenhum motivo de orgulho. Milhões de outros brasileiros descendem de algum dos pioneiros que habitavam a São Paulo de Piratininga do século XVI. A estimativa é do professor emérito da UFRJ e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, Francisco Antonio Doria. Os descendentes desse primeiro Bueno chegam aos milhões. Se tivéssemos cerca de 3 filhos sobreviventes por casal elevado a 15, que é o número de gerações nascidas no Brasil, o resultado chega à casa dos 15 milhões de pessoas.
Descender da brava gente bandeirante que “reuniu grande escravatura indígena” que foi “grande sertanista caçador de índios” não me dá motivo de orgulho, antes penso no Karma.
Importante é a memória, é a imaginação. Chegar em outro lugar que não se imaginava na saída.
Aquele objetivo menos importante, o de achar o nome do avô do meu avô, e do avô daquele, e do avô deste, foi alcançado, e a árvore genealógica está montada numa das páginas a seguir.
A coceira de escrever uma estória fez com que eu escrevesse esse livro. Ele está dividido em três partes.
A primeira parte é a da história, da árvore genealógica, dos fragmentos de história desses personagens que tem história: Piquerobi; Antonio Rodrigues; Maria Pires, a Messiaçu; Bartholomeu Bueno Cacunda; Pedro Bueno Camargo.
Um capítulo necessário é o Caminho das pedras; nele mostro como fiz a pesquisa e como cheguei á Piquerobi.
A segunda parte escrevo as estórias da minha família: Vovó Maricota; o Tio; os sobrinhos do tio; as festas na Vila Itororó.
Eu me lembro de muitas estórias: a Vovó Maricota despediu-se de todos antes de morrer, deixou de almoçar á mesa do Miele após uma discussão; o Tio quando estava de pileque chamava todos de Oh! Pedrinho. Os primos voltando dos bailes de madrugada numa outra São Paulo; das festas da Vila Itororó que duravam uma semana, do Natal ao Ano Novo.
Minha família, minha gente está acabando.Não tem mais quase nínguem que lembre, mas tem muita gente de quem lembrar. A memória não pode se perder; quem não está na história precisa ter sua estória registrada.
Se escrever as estórias da família não foi fácil, fazer a árvore genealógica não foi tarefa simples. Esse Paes Leme não é fácil de ler (capítulos, parágrafos, números, de Bueno a Pires, etc., etc.) e esse senhor Pedro Bueno não é fácil de seguir. “Pedro Bueno não gostou da nomeação de Domingos Correa da Silva como capitão das minas, ficou desanimado e retirou-se para as cachoeiras do Rio Doce.” O que teria acontecido a ele após isso? Oh! Pedrinho não desanime não se esconda de mim.
Eu perdi o Pedro Bueno de Camargo, duas três, vezes. Cadê ele? Ele ficou lá na página 418, sozinho, sem mais nenhuma referência, como 2-3. Reapareceu na página 154 do volume 2 como 5-3, novamente sem mais referências. Será o mesmo Pedro Bueno de Camargo que reaparece com 4-6 na página 187 como o pai do avô do avô do meu avô Antonio Bueno da Silveira?
Nem tudo está registrado no Paes Leme. Falta eu ter a certeza que o Pedro 2-3 é o pai do Pedro 3-2, que vem a ser o avô Antônio Bueno da Silveira, que é avô do meu avô Tonico, também chamado Bueninho, ou oh! Pedrinho, ou simplesmente o Tio.
Esse furo eu não consegui, ainda, resolver. Onde foi parar Pedro Bueno de Camargo? O que ele fez quando retirou-se para as cachoeiras do rio Doce?
Aqui começa a terceira parte do livro. Os fragmentos de história que chegaram dão margem a muita estória.
A estória de Antônio Rodrigues, o companheiro de João Ramalho, como ele veio parar aqui?
Por quê Piquerobi atacou o colégio, defendido pelo irmão Tibiriça?
Por quê Bartholomeu Bueno, virou o Cacunda?
Como foi a viagem do Sevilhano com os filhos?
Onde acaba a história, começa a estória. Para preencher os furos eu pensei em criar, inventar uma história. A estória dos sete Bueno, antes do avô do meu avô.
Eu pensei : O quê une essas pessoas?
Sete estórias, sete pecados capitais.
Ou algo biblíco? A estória do Francisco Ramires, pode ser o Genesis. Um episódio do Exôdo o Bartolomeu Cacunda. O livro de Jó, Daniel na cova dos leões, O livro de Ruth, e assim por diante.
Que estória eu vou contar? É toda essa história, são essas estórias que nesse livro eu vou contar.
E o Pedro Bueno Cacunda,explorou Ouro nos Rios Manhuaçu e Castelo era o que do Bartolomeu
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