Do tempo que tomávamos vinho barato nas praças: “ isso faz muito tempo...”
Paulo de Tarso Gracia é o meu amigo.
Não tínhamos dinheiro, andavámos debaixo de chuva, nadávamos na nossa juventude. E achávamos que já não existia tempo para nada. O futuro não tinha, o passado era pesado e o presente eram as ruas. As meninas eram lindas e ouviam nossas estórias, mas davam sempre o fora, e estávamos dispostos a brigar com um bando de 40 punks se eles dessem um pio em nossa direção.
Arrumamos um jeito de beber sem gastar o dinheiro que não tínhamos. Faziamos uma vaquinha, pediamos moedas no Sesc Pompeia e no Centro Cultural pra outros malucos, e comprávamos um garrafão de 5 litros desses vinhos finos, sangue de boá, ou piarrentini. Enchiamos os copos dos que haviam participado da vaquinha e vendíamos copos pra outros ,dizendo que estávamos precisando de uma grana pra voltar pra Osasco e Carapicuíba. Compravamos outro garrafão e bebíamos. A todo vagabundo que passasse na rua ofertávamos o vinho, uma sensação contraditória de expulsa-vampiro.
Numa dessas noites no Centro Cultural do alto do trapézio de concreto, vejo o Jards Macalé aparecer com o violão debaixo do braço, após ter feito um show.
“JARDS MACALÉ, seu viado, traidor.Viado maldito, Maldito viado. Suas musicas são maravilhosas, Transa é o melhor disco do Caetano, essa sua cachorra paraíba é uma puta sacada, esse Mal Secreto é a maior musica do Brasil, Hotel das Estrelas é a minha musica.”
O Macalé escreveu num autógrafo: " Mauricio, cuidado com o garrafão de vinho" e fez um desenho de nós dois abraçados.
Eu e o Paulo evoluímos, passamos ao Almaden, e depois a outros vinhos de 50 dolares que continuamos a entornar nas praças. Eu evolui tanto que parei de beber.
Apesar do toque do Macalé eu fiquei quase 25 anos sem cuidado nenhum com o garrafão de vinho. Depois, como se tivesse tido uma grande revelação, passei a ser tão cuidadoso com ele, que nunca mais pus as mãos em nenhuma garrafa.
Sensacional!!!!
ResponderExcluirTe amo bródi!!! (santo forte e/ou anjo da guarda.....mas eles tinham o teu, o meu: apoio mútuo...e quando um assimilava o outro se erguia.....mas sempre com o "santo forte e/ou anjo da guarda...)
ResponderExcluir....obrigado Mauricio