quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

da janela #34

meu vizinho do lado estoura um back em sequencia do outro há umas horas
o de cima vê tv com perseverança religiosa desde ás sete
a comunidade de travestis espanta tristeza levantando as saias
está quase na hora do grito da menina de 20 anos que toma banho ajudada
eu cavoco o nariz com fúria
ouvindo Boulez reger Mahler
tudo isso enquanto leio sobre Orfismo
um livro que ficou guardado desde 1994
por essas e muitas outras
que eu adoro a frase cada macaco no seu galho

notícias na rede

incluindo todas as coisas que não dependem de mim
chão
a riqueza dos outros que foi feita de assaltos
vários arroubos de arrependimento
seguidos de conselhos para ir chorar no travesseiro
a constatação de que o ar de outra cidade é diferente daqui
as exibições de fé que são variadas e excludentes
a saudade e o medo que são comuns a todos
e a certeza de que nínguem é perfeito
no patchwork dessa página do facebuqui
no trabalho coletivo de nos mantermos vivos
nessa tarefa árdua da missão humana do preenchimento das horas
é bem legal escutar, e achar que tambem é comigo
qualquer coisa é só gritar:
eu estou aqui

á zumbilândia querida

enquanto o dia esquenta
nossa carne cozinha
uma nova descida ao inferno
a hora do espanto é toda hora
o horror, o horror
sorrisos fora
ora e vigia
eles estão aqui
presos no mesmo caminho
de ajoelhar e lembrar
de buscar uma outra pedra
no meio do caminho
não há volta
não tem volver ao ninho
seremos todos queimados
alta chama que inflama
mas não revolta
e o épico titânico
é um navio abandonado

passei anos sem dar uma trepada mas não fiquei um dia sem ler uma página

tempo livre tempo livro tempo vivo

eu levo junto comigo

a experiência de andar sozinho
uma sombra na escada
o vento tirando tudo do caminho

da janela sempre aberta
 - que falta faz uma sacada-
vejo a curva fácil
dos pássaros como que  sempre em retirada

e as duas folhas caindo no espaço
são minha mãe sorrindo
meu pai revelado num abraço
sempre é bom poder voltar ao ninho

nessa noite

eu prometo não mais me distrair
com coisas que não são pra mim
tipo 
musica eletrônica
problemas dos pobres
natureza morta
quadratura do círculo
e tudo o mais que pintar por aí
que ponha distância
no que realmente estou a fim
ou seja
ficar  sentado
depois de nos amarmos
olhando estrelas 
você sonhando
dizendo coisas
como:
 - olha desliga a luz da lua
que a gente tem que dormir...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

diga-me

inutil esforço de buscar sentido
tento mais uma vez
orpheu espera na revista
soltar um brado
dançar um fado
o pássaro voa por quê tem que voar
sempre falta um sinal
sempre falta uma palavra
por que você não me diz
por quê nínguem me diz
por quê eu não consigo
entender
virar a página
abrir uma porta
esquecer






segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

o melhor amigo do Pessoa, Mário de Sá-Carneiro

tão bonito isso:

"eu não sou eu nem sou o outro
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte do tédio
que vai de mim para o Outro"

Mário de Sá-Carneiro

o outro é diferente do Outro. Ele não é nada, nem ele, mas vai ao outro.

um ano de blog.

controle da brutalidade:URGENTE

nunca as mesmas flores, mas sempre a primavera - i ching







I
vagabunda flor cujo nome não sei intensa vida de ti guardei



II
a planta do meu pé o sol esquenta logo chegará o tempo da
 colheita



III
nada nos moverá daqui o desalinho perfeito das nuvens comove



IV
pobre de nós o canto do passarinho é um chorar baixinho



V
nas fendas por onde o sol entra as formigas passeiam



VI
obscura estrela embora não te veja sei que estás aí



VII
desatentas as vespas deixaram uma flor sozinha



VIII
deixo as dúvidas e as dívidas pelas dádivas



IX
madrugada aflita cafés cigarros unhas roídas muitas dívidas tenho a pagar comigo



X
esticar as pernas esticar a vista esticar a vida




XI
 música que falta o silêncio que cabe o gesto que falHa o movimento que escapa uma ideia que dança cinco palavras entre o bolor e o sol



XII
olhando para dentro tudo é paz enquanto isso olho pela janela a pomba a esconder seu ninho



XIII
o vento faz com que as folhas balancem e uma planta presa ao vaso bate as asas sem parar


  





sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

o google sabe do que eu vou gostar

- nossas vontades, nossos sonhos, nossas contas analisadas-


submerse just for you

Talvez você não saiba do que eu estou falando, mas a googlelândia sabe.

Os algoritmos criados a partir da memória daquilo que você clica, pesquisa, são analisados por hipermegacomputadores que estabelecem um padrão de comportamento.A partir desse relatório suas páginas de e-mail, facebook, google, etc. estampam mensagens que bombardearão sua memória recente para fins de consumo.

Desejo, com a fraqueza usual, que a disparidade das minhas emoções em conflito,amizades em conflito , conflito entre materialismo e idealismo, consciência de classe- inconsciência cósmica, covardia, hedonismo, no future, romantismo, originais do samba, pos rock, vagabundagem, acender velas, desvario, conservadorismo,individualismo, transtorno obsessivo compulsivo,narcisismo, fragilidade, imaturidade intelectual,cultura de orelha de livro, furto de obras alheias transformadas em pseudopoemas, e todo tipo de comportamento contraditório que acaba por causar sofrimento  a mim e a minha companheira

cause um bug nos hipermegacomputadoes e eles continuem me mandando mensagens díspares:

cama infantil é na Tricae, curso de sonhos de jung, bingos abertos, acesse o blog da cia das letras, um dia para salvar os oceanos, ceifadeiras em promoção, o pos modernismo em dez lições, como reatar amizades de 20 anos atrás, o que faz um jacarandá nascer numa mata?, liberdade para claudio campos, o que faz de um humano um humano, será que existe alma ?, a missão humana do prenchimento das horas e suas consequencias para os outros, a falta de educação nos coletivos tem possibilidade de cura?, controle da brutalidade, e outras

essas mensagens prosaicas, poéticas, que se anulam,   são sinal que eles não me entendem - e fecho de ouro: não podem me dominar!

PS

- nossas vontades deixadas de lado,nossos sonhos devassados, nossas contas estouradas -

sábado, 18 de fevereiro de 2012

alterações na paisagem, Rua Paim

Tendo como base as ideias do texto “Dinâmicas das paisagens naturais e humanizadas”, contidas na apostila “Ciclos da natureza e dinâmica da paisagem”, do curso de Especialização em docência de Geografia da UNESP, foi proposta uma atividade cujo  o objetivo  é realizar uma retrospectiva das transformações que ocorreram na paisagem , de uma rua, cidade ou bairro,buscando apontar os processos naturais e sociais atuantes e suas consequências, além de  compreender a importância do conhecimento empírico no método retrospectivo do estudo da paisagem.

Para essa atividade foi escolhida como estudo de caso a Rua Paim, no bairro da Bela Vista, localizado na região central da Cidade de São Paulo.

Situada próxima a Rua Augusta e a Avenida 9 de Julho, a Rua Paim foi por décadas considerada uma rua perigosa. O motivo, muito provavelmente, seria a presença de numerosos cortiços localizados em toda sua extensão, além da presença de um conjunto de três edifícios de apartamentos, um deles de nome 14 Bis, alcunhado “treme-treme”, que abrigavam população pobre ou marginalizada.

Alguma pessoa que tenha ficado sem passar pela rua nos últimos cinco anos terá dificuldade reconhecê-la, aquela rua mal iluminada, com lixo mofando nas ruas, de diuturna algazarra, transformou-se em um canteiro de obras.

Morador do bairro, adepto de caminhadas, a Rua Paim é uma velha conhecida de passeios, realizados nas imediações há mais de trinta anos. Dessa forma sou testemunha das transformações ocorridas na rua, as alterações na paisagem ali realizadas.

A construção do Shopping Center Frei Caneca no começo dos anos 2000, situado na rua do mesmo nome, e de que a Rua Paim é uma travessa, veio alterar de forma significativa as redondezas. Com o shopping a Rua Frei Caneca também sofreu alterações. Antigas concessionárias de automóveis que por décadas permaneceram em frente de hoje fica o shopping, cederam lugar a um conjunto de 4 prédios, mix de escritórios e apartamentos, torres de mais de 20 andares.

As modificações na paisagem avançaram em direção á Rua Paim. Estão em construção na rua, em diferentes estágios de edificação, seis edifícios de apartamentos. Para tanto foram destruídos uma quase vintena de casas térreas ou sobrados, que seguindo um padrão comum existente na Bela Vista possuíam poucos metros de frente e muitos de fundo.

Além das residências demolidas todo um pequeno comércio de serviços e miudezas foi arruinado: salão de barbearia, papelaria, açougue, salão de bailes, bares, lanchonetes, salas de dentistas e advogados deixaram de existir.

Há que se registrar o caso curioso de uma pequena farmácia, que pelas sucessivas demolições de casas que ocupou, mudou de endereço três vezes.

Para além da retrospectiva, da elaboração de uma linha  do tempo das mudanças da paisagem, as alterações permitem uma reflexão.

A alteração em curso da paisagem pode parecer a olhos menos críticos, uma revitalização do lugar, um “embelezamento” da rua.

Outros mais críticos apontam no caso da Rua Paim, mais um exemplo do processo de gentrification, expulsão dos pobres das áreas centrais das cidades, repetição de um fenômeno verificado primeiramente na Europa, e denunciado por muitos agora na cidade de São Paulo.

Sob qualquer das duas perspectivas é possível entender que o espaço geográfico decorre da relação entre sociedade e natureza. A alteração da paisagem decorre dessa relação, satisfazendo as necessidades, e os desejos, de determinados grupos, detentores de poder de influenciar nesse espaço.

o carnaval, a vida dos outros, revolta inútil ,tardes tediosas, etc.

Como alguem pode estar assistindo Raul Gil desde a uma e meia da tarde?!

- os sábios chamam isso de felicidade

Escrevo duas atividades para a especialização, escuto bootsie collins  e bill laswell ,leio slavo zizek, é outro graul, quase a felicidade...)

" eu não sou daqui..."


- os muitos, os outros esperam a orgia dos outros -


Absolutamente sem sentido, o feriado, o Carnaval, o bloco etc. a única coisa boa é a redução do trabalho na indústria, mas os serviços aumentam, então nem isso é bom.


E o que direi sobre a vontade de sossego ou a vontade de alegria ou qualquer vontade que não seja transformar o céu azul da noite em dia ? (e óbvio: vice-e-versa, vide meu endereço , etc.) qual vontade pode ser maior que transformar o chumbo em ouro?



a orgia dos outros

separados por inumeráveis cordões &
apartados dos corpos suados
(cujos desejos irrealizáveis
anseiam por qualquer coisa
muito longe de religar-se ao divino, ou o resgate de antigos cultos pagãos)
aguardam assistindo TV de boca aberta
bovinamente pacíficos
a orgia dos outros


imobilizados pela lobotomia distribuída em doses torrenciais
nos copos de bebida no pão minguado do dia de ontem igual ao dia de amanhã semelhante ao outro e assim por diante
no desejo de algo que não está em si nem no outro mas no preenchimento do buraco negro por um sonho do automóvel do ano, ou qualquer coisa sem valor

esperam esperam esperam
o resultado do campeonato
talvez se masturbem mutuamente mais tarde

programados pela programação da propaganda putativa sempre redundante e repetitiva
- cujos breves intervalos contem notícias disparatadas mais produtos vagabundos tour de force maniqueístas joguinhos conversas para boi dormir muitos tipos de campeonatos e variadas ajuda aos mais coitados -
não sabem o que fazer com o tempo livre

trocaram nesse feriado a
distração de olhar vitrines &
o comentário factual de coisas desinteressantes e outras bostas por 72 horas de orgias plastificada

sorrirão abraçados a qualquer bandeira

O ANO QUE VEM TEM MAIS, SEMPRE TEM MAIS


eu nessa tarde linda estiquei as pernas fiz desaparecer todas as nuvens do céu transformando-o numa placa branca onde eu escrevi:

TÔ FORRO TÔ DENTRO DO ESCURO TÔ NO NERVO TÔ AXIOM TÔ COSMIC TÔ NO SOL TÔ DISTENDITO TÔ DESINTENTIDO TÔ FORA TÔ TOTAL

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

partir ir voltar

É bom poder partir e deixar saudades. Coisas boas para repartir, coisa boas para multiplicar.
Saber que a ida é a maior parte da vida, ir sempre, a vida é movimento, para sempre multiplicar.
Partir é ir, partir não é deixar, logo você já estará partindo de volta, repartindo,deixando outras coisas em outro lugar.
E a ida em si mesma,é mais uma parte da volta , uma nova perspectiva para poder repartir, somar.


Todos os lugares serão sempre seus, brilha alta a estrela de quem guarda um tempo para brilhar

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

vamos todos voltar para um lugar bom

compartilho a esperança
tive um deja vu
no sorriso de uma criança

J06 - Infecções agudas das vias aéreas superiores de localizações múltiplas e não especificadas

Fiquei a tentar entender como um vírus se instala
em minha garganta, órgão da fala

Procurei encontrar numa palavra
se foi o grito ou algo que o valha
que me fez perder o sono dois dias
numa tosse seca que quase me mata

Qual o mistério de adoecer e ficar a remoer
buscando o sentido de uma pequena chaga?
mais uma dor de cabeça entre outras várias

Cheguei a conclusão que foi somente
mais uma pequena desgraça
Coisas de quem vive a procura, mas nunca acha
o caminho a percorrer nessa nenhum pouco inocente batalha

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

sobre contas , estrelas, baianos, e gregos

Não faça contas , não aponte os dedos, não escute os gregos, não discuta com os baianos. Conte nas contas duas lindas orações de ninar, aponte os olhos para as estrelas, leia os gregos, junte-se aos baianos.


Conte as estrelas do céu, escreva uma nova canção de ninar, não dê ouvidos aos que mandam agora nos gregos, esqueça tudo que ouviu sobre os baianos. Não aponte nunca o dedo para uma estrela, seja o novo porta da voz da revolta dos gregos, os baianos são muitos e nem todos são baianos.

As estrelas todas não é possivel contar mas elas estão lá, todas as canções já foram cantadas mas sempre há uma nova para cantar, os gregos devem ter deixado toda a filosofia em outro lugar, e os baianos tenho toda certeza, eles vão continuar a chegar. Quando eu vejo uma estrela me dá um aperto no peito, uma vontade de rezar. Deve ser coisa de grego, se eu fosse baiano meu negócio era dançar.

1 pensamento # 2

pense sem cuidado no que você pensa
alguém deveria ter pensado nisso antes

1 pensamento # 1

pense com cuidado no que você pensa
alguem já deve ter pensado nisso antes

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

astrologia # cancer

quando uma luz aqui se apaga
no oriente outra se acende
as vezes andar de lado
é seguir em frente

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Megacidades: vulnerabilidade às mudanças climáticas

O objetivo desse texto é entender a relação entre os problemas ambientais das megacidades e as mudanças climáticas, relacionando as condições da megacidade de São Paulo com os eventos de chuvas intensas, particularmente os eventos de janeiro de 2011.

O clima é um assunto corriqueiro numa grande cidade como São Paulo, é usado em situações tanto onde a falta de assunto predomina, quanto à sensação de “calamidade climática”: as mudanças climáticas.

A cidade de São Paulo foi chamada um dia de “Terra da Garoa”; o clima temperado, próximo ao europeu mediterrâneo, fez com que italianos se sentissem quase á vontade na cidade em fins do século XIX. Havia um inverno rigoroso que castigou nos anos 50 do século passado os migrantes nordestinos desacostumados com o frio.
Essas considerações do clima pela ótica do senso comum foram sendo esquecidas pela realidade das mudanças climáticas.

Embora não haja consenso entre os cientistas se de fato as mudanças climáticas são causadas pelas atividades humanas, a maioria dos relatórios técnicos afirma que as mudanças são decorrentes da apropriação dos recursos naturais e pela degradação ambiental.

São Paulo é uma megacidade com megaproblemas. O mês de janeiro foi incorporado ao imaginário da cidade como o mês das enchentes, desabamentos e mortes, chuvas de grande intensidade.

A “calamidade climática” utilizada pelos meios de comunicação para descrever o quadro das chuvas de janeiro de 2011, que tantos problemas causaram é resultado de um conjunto de fatores, responsabilidade da sociedade brasileira.

São numerosos os equívocos na ocupação da cidade : a ocupação das várzeas dos rios Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, a canalização dos córregos e a ocupação de vias de tráfego nos fundos de vale, a ocupação das áreas de encostas por favelas, as condições geomorfológicas do sítio da Região Metropolitana de São Paulo que permitem o escoamento em grande velocidade das águas, devido á declividade.



O Poder público tem a obrigação de antecipar-se ás catástrofes, reduzi-las e minimizá-las, e uma de suas iniciativas foi a elaboração de um relatório, “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras ás Mudanças Climáticas”, coordenado pelo Centro de Ciência do sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CST/INPE) e pelo Núcleo de População da Universidade Estadual de Campinas (NEPO/UNICAMP).



Os resultados do estudo são preocupantes. A temperatura aumentará, poderá dobrar o número de dias com chuva intensa na cidade, e caso a expansão urbana projetada se verifique, ocupando áreas frágeis, de terrenos instáveis e de várzea, São Paulo terá mais de 20% de sua área suscetível a acidentes naturais causados por chuvas.



O estudo apontou “medidas de adaptação” para que as instituições públicas e privadas possam enfrentar essa perspectiva preocupante: controle sobre construções de área de risco, investimento em transporte coletivo e investimento em pesquisas sobre a modelagem do clima.



Nada leva, infelizmente, a crer que tais medidas sejam tomadas.



Os loteamentos irregulares ocupam 22% da cidade, nos estudos projetados de crescimento da mancha urbana, é exatamente nas áreas mais frágeis que se supõe a ocupação, o automóvel permanece como agente propulsor da economia, estudos técnicos, investimentos em Educação, não são considerados pelos políticos.



Dessa forma a propalada “calamidade climática” encontra terreno fértil na cidade de São Paulo, e as perspectivas para desastres futuros, causados por ações humanas erradas, são aterradoras.





bolhas de sabão

perfeição impermanente
beleza provisória
um colírio na vida da gente




agora é tão bom
silente percepção
nessa onda eu vou

Amigos

não importa de onde vocês vieram
não importa sequer para onde vamos
mas estamos juntos

E aí Mauricio, continua no PT?

Domingo eu gosto de ir a padaria, é uma tentativa de encontar algum conhecido da minha Bela Vista. Hoje encontrei três ou quatro. Não tinha pão de manteiga que a Lu adora. A Camões ainda tem o melhor pão francês daqui. Café com leite e pão com manteiga, uma iguaria para mim.

Depois do pão a igreja.Madonna Achiropita, San Giuseppe, Gesu Bambino, a missa estava concorrida. Entrei na Igreja e ela estava lotada, era a hora do cumprimento. A Achiropita lotada  e a primeira pessoa que encontro é um velho conhecido,mais de trinta anos de vizinhança. Ele saiu aqui de baixo e agora mora num ótimo apê no Morro dos Ingleses. Merece, trabalhou muito, sempre foi sério, nunca se envolveu com a bandalheira das ruas.É uma pesoa adequada ao mundo, certinha. Uma vez numa formatura ele tomou um copo de cerveja e passou mal, ficou por ali. Eu estava numa mesa ao lado e estava encharcando, sambei ao meu jeito italiano e fui chegar em casa dois dias depois.

Ele me faz a pergunta do título, perscrutando cada movimento  á procura  de algum sinal da minha santa ironia, procura ver se eu estou virado, quer saber como eu estou.

Aqui no Bixiga vigora e vigorou o clientelismo, Brasil Vita e Delfim Netto, Maluf, Serra, são os candidatos do bairro.O conservadorismo é a regra. Conservar?

Mas temos a União de Mulheres, a sede da UMES. Há trinta anos o mundo era outro.Existia um grupo nem um pouco coeso de gente do contra, a favor de um mundo melhor, mais justo, onde o lobo e o cordeiro vivessem em harmonia...Eu estava nesse grupo, do lado de fora, mas estava.

Alguém que é contra o racismo, contra a homofobia, a favor dos direitos individuais, da  utopia, da ousadia de querer outro mundo -  e que expõe isso aos berros - fica taxado de maluco, de comunista e de petista.E essa é minha fama.e o PT foi uma boa oposição e aglutinou diversos setores do contra, ou á favor da mudança.Mas falta criatividade, falta a imperiosa e necessária vontade de mudar tudo.Criar ass condições para que a Civilização Brasileira vingue. Vingeu os escravos, os indios, vingue a terra estuprada.

O acordo com kassabinho é o fim, é o fim.

De novo e mais uma vez, eu digo: eu nunca fui do PT, nunca fui militante. Não gosto de trabalho, de sindicalismo, de igrejinha. Eu sou do contra, eu estou do outro lado, eu não sou daqui.Eu sou o Mauricio Loko.

 - E aí você ainda é do PT?

- Não, eu saí.

- Pô, agora que ficou bom você sai?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

desse grande pássaro eu não sei o nome
dessa bonita cor eu não conheço a dor
do seu lábio dos seus lábios
eu conheci, ah eu conheci

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

todo mundo nunca foi todo mundo

todo mundo nunca foi cabeludo
todo mundo nunca disse toda criança é bonita
todo mundo nunca esteve junto
todo mundo nunca foi todo mundo


todo mundo nunca sonhou com a paz
todo mundo nunca escovou os dentes
todo mundo nunca esteve contente
todo mundo nunca sonhou como a gente

todo mundo nunca deixou de lado
todo mundo nunca quis me dar um abraço
todo mundo não gosta de palhaço
todo mundo nunca quis ser diferente

todo mundo não espera por todo mundo
todo mundo não luta por algo que preste
todo mundo não é todo mundo
todo mundo não cabe nesse mundo
todo mundo nunca foi todo mundo

heroína vulgar

nosso intestinos estão retorcidos
pelo desejo crescente
de alguma coisa que nunca vai saciar

minha memória recente
está guardada numa foto na parede
nela alguem escreveu um dia
que nós nunca deveríamos
deixar as pessoas nos olhar por dentro

as senhorinhas reclamam
com as caixas de supermercado por qualquer coisa
enquanto os velhos tentam fazer graça
as funcionárias sonham com beijos enlatados
papéis de balas com mensagens cifradas
e técnicas de clareamento
o salário é muito baixo o lixo é muito caro
não existe cura para o câncer
os pais não sabem como educar os filhos
a escola não serve para nada
desenvolvimento é mais carro na rua
meu estômago fica embrulhado
todas as sacolas de plástico do mundo não comportam tanta merda

meu bando
sempre do lado de fora
pede esmolas na porta do supermercado
mas eu não estou mais com eles
e agora eles me chamam de doutor

aguardamos  notícias de Christiane F.
heroína vulgar, de Detlef R.
e de todos  que o trem sem destino
deixou esperando

na foto da parede
todos estamos sorrindo
de certa forma
nunca mais saímos de lá

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

a vida é muito bela e as portas estão abertas

Cabeças á obra, imaginação, descontínuo movimento, irreprimível, inconsciência deriva, meditação, salto sem rede, invulgar , cósmica, energética, rock'n roll, meu coração desafia meu cerébro, work in progress, receita para afastar careta, deixe a loucura salvar sua vida, desordem, caos, bafafá,um tempo para você mesmo, seus melhores amigos vão voltar a aparecer, nada como um dia de sol depois de tanta chuva, picnic nas praças, o mundo tem que evoluir, pensar coisas boas, jogar uma bóia para os desesperados, deixar sangrar, let i be, let it bleed, cada riacho é uma promessa de mar, cada sonho pode se tornar uma fantasia ou um novo amor, todos o fundadores das letras:Goethe, Cervantes, Dante, Camões,Balzac, Shakespeare; meus poetasfavoritos :Hilda Hilst, Roberto Piva, Mario Quintana, Thiago de Mello, meu mistério predileto: Clarice Lispector, eu grito para quem quiser ouvir: Goffredo Telles Junior é o maior brasileiro, Glauber Rocha no Abertura, nada mais foi tão importante na TV brasileira, flutuar nessa onda até que todo mal me deixe, em paz  seguirei a vida, terapia  integração craniossacral,novas terapias sempre hão de pintar, que tarde linda , que final de tarde melhor ainda, sopa de mandioquinha, muitas coisas gostosas, ê laia,pensar e encontrar uma saída , exceder meus limites, buscar auxilio de um cometa, cruzar a ponte, o pilar da ponte de tédio, um ano se foi e eu estou muito mudado, como tudo muda, como as coisas acontecem, onde eu vou chegar,onde eu quero chegar, de volta ao cameço, cabeças á obra.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Vila Itororó



Volto a Vila, a minha Vila. Quando o casarão tiver um novo  destino eu estarei lá, andando e escutando os meus passos e, sofrendo, procurarei em algum canto alguma coisa que ainda é minha.

Escombros de escombros, tudo é ruína.

O escombro tornou-se adorno, Adorno esclarece a complexidade da Vila Itororó, quebra cabeças sem razão, o vento sacode minha cabeleira e eu me emociono de novo no passeio.

Eu escutei um pedaço de música num beco e queria que fosse um afrobeat. Mas não era.

De escombro em escombro a Vila renascerá, e é essa a história.

Escombros do Teatro São José, precursor do Theatro Mvnicipal, fantasmas das temporadas líricas. Manon Lescault, o dinheiro não é tudo, mas ajuda um bocado. Baderna é aclamada e torna-se adjetivo, o povo não é do jeito que queremos, e pode, e deve NÃO ACEITAR. Incontrolar-se, eles(os dicionários) não reconhecem a palavra, mas todos devem saber o que é: perder-se e achar-se. Aceitar a vida sem a faixa preta, “a dor e a delícia de ser o que é”, mas convenhamos não é bom apanhar o tempo inteiro, principalmente de si mesmo.

Manon Lescault, Baderna ,revoltam-se no túmulo. A beleza é a prova dos nove. Caruso assobia só uma parte da canção, esqueceu a música num beco imundo.

Becos sem saída, flores que insistem em nascer no cimento, no que foi escombro, voltou a ser e voltará a ser.

Encarcerada em minha memória uma "imagem" da vila que nunca existiu. É uma festa de família, cento e cinqüenta pessoas comem bebem amam, eu criei uma imagem, e ela tornou-se fato.

Últimos dias da Vila com pessoas. Tirar a gente da Vila é Gentrificação. Estou passeando na Vila e a palavra gentrificação, está pixada. A Vila será um Centro Cultural. Será que será?

O que será que será?

Andando eu penso, o que eu estou defendendo? Eu estou atacando. O que eu defendo é meu sonho, Rosebud, Madeleine, Vila Itororó.

Na caminhada veio, as lutas comuns de libertação, um compromisso com a minha classe, com os pobres.

São Paulo não vai conseguir expulsar os pobres, enobrecer o urbano, gentrificar-se inteira; a cidade é feia, os castelos são feios, os novos castelos são feios.Tudo é escombro.

A dinâmica é essa, constrói, derruba, constrói. tudo será derrubado, mas quem contará o sonho? Aqui eu sorri, aqui eu roubei-te um beijo.

O povo é feio, sujo e malvado, somos mal educados. Mas o povo não pode ser do jeito que a classe média quer. Ou o povo é do jeito que a classe média quer?

Entro no Beco. Fumacês e farinhadas a luz do dia. Enquanto a tarde passa ele, o Jovem, fuma e o outro

Jovem diz:
- Me dá mais um tranquinho.

A droga, é uma droga, é uma droga.

Flagrante do nada, do vazio, da adolescência que se perde, não identifica que não se satisfaz, mas que copia, copia.

O Jovem perde o tempo, o do relógio, o da estação, o trem passou e ninguém quis entrar nele.

O consumo é a lei, a música para as massas, o entretenimento para as massas, deixa o povo lerdo, mas a foda é corriqueira, rápida e sem tesão, pois é isso que eles estão ouvindo, o que canta o fim da canção.
Mas tudo pode ser explicado, tudo foi explicado. Aqui um Adorno.
"Nada é espontâneo, a indústria cultural é portadora da ideologia dominante, e coloca na ordem tudo, dá um sentido a ruína."

Mas eu tropeço no escombro, de novo o escombro,um caco de vidro que eu chamei diamante, a beleza perdida, o delírio que eu vim buscar, a minha sombra na escadaria, a família que não era a minha, as vozes no casarão. É cópia da cópia, mas criar do lixo, fazer um castelo do lixo é algo que ilumina à tarde.

E estão aí o leão, a carranca, a ponte, a fonte, os becos sem saída, as flores que nascem no cimento, a beleza das morenas, o sol, o sol, o sol.

Na caminhada restauro. Blaise Cendrars falou das cinco ou seis casas com azulejos portugueses, mas onde elas estão teriam sido violadas, estupradas também?

Do escombro o português fez o castelo, o navio, a nave espacial ancorada no vale. Aqui a genialidade apropriou-se, a cobra se comeu-se. A antropofagia nos redime, mas isso faz muito tempo.

Os jovens se drogam, os velhos assistem TV e tem saudade de alguma merda sem sentido. As janelas estão abertas e eles estão lá dentro fechados, dormindo, ou pior: alegres. Por que tanta alegria?
Para poder submeter-se a mecanização de amanhã, responde Adorno.

Os velhos bebem, pobres bêbados dormindo em sarcófagos dessacralizados. O puxadinho, o tabique, a contribuição brasileira para o enfeiamento de tudo, campeia. E qualquer canto virou casa. Embaixo das escadas ,em cada vão, foi feita uma toca e lá alguém dorme, alguém se esconde e sorri bestialmente, três dentes na boca, mas sorri, “sorri, e verás que é feelizzzzzzzzzzzzz”.

A beleza foi sendo destruída, há séculos tudo vai sendo destruído, uma geração vem e outra vai, castelos tornam-se sedimentos, e num sopro alguém escuta que deve-se construir um novo castelo e efetivamente o constrói. Então se constroem novos castelos que se tornarão tumbas. Que serão escombros e ruínas e serão saqueadas.Nada de novo debaixo do sol, e eu envelheço na cidade.

As tumbas dos antigos faraós estão sendo constantemente saqueadas. Escaravelhos, escorpiões, cobras e lagartos. E muitos ratos.

Quando finalmente tudo for destruído, os doutores, os moradores, a poder público e os leitores tirarão seu sorriso da cara e irão atrás de outros escombros. A polícia aparecerá com suas bombas em nome da lei e cumprimento delas.

Aqui mais um Adorno,que oscila na impossibilidade da criação de um refúgio, ou a busca nele, após o nazismo e o stalinismo, após a violência total. E o meu corpo balança, minha sombra na escadaria, mais uma vez, mais uma vez.

E o vento sacode a cabeleira, se eu tivesse um adorno nela voaria, que se exploda de toda forma o Adorno, e toda incapacidade de explicação, toda dor deve ser transformada, talvez seja essa a nossa última chance.

Olho para a nave ancorada, um navio ancorado no espaço da minha memória. Qual o destino dele?

Na caminhada a restauração, por que não? A cidade não é museu, não é um presépio, tudo está em construção, em deglutição, sobrou isso, sabe Deus como o navio ancorado na vila não naufragou.

Vem a restauração, mas o sonho não pode ser restaurado, serão outros sonhos, de outros. No meu sonho eu estou acordado, na nave ancorada  procurando toda minha gente.

O casarão eu não sei o que será dele, o que haverá nele. Reuniões, um museu, a parte administrativa? Com tudo isso precisam ser construídos mais sanitários. Muita merda precisa ter um destino civilizado.

Estou muito cansado de tudo isso e a escadaria é cada vez maior quando se tem que subi-la.



sábado, 4 de fevereiro de 2012

erro erre

amo
não é demais
faltou  mais que um erre
amar nunca é demais

joanópolis # 2

muita coisa muda depois que você sai para passear

Da infindável série "coisas que fazem do Brasil ser o Bananão"

não existe direita e esquerda: não existe luta de classes
rico dá emprego ao pobre
feliz do pobre que tem um emprego
quem quiser muito , mas muito ser rico, que trabalhe bastante.
não sou conservador, sou a favor da ordem e dos bons costumes
os comunistas são uns invejosos
esse é um país que vai pra frente
bom era no tempo dos militares
tem que matar todas essas bichas e esses maconheiros
rota nas ruas
deus fez os animais para servir aos homens
a globo é a melhor tv do mundo
no Brasil existe liberdade de imprensa
aqui não existe racismo, o que existe é preconceito social
seu elevador é o de serviço.
eu só estou cumprindo uma medida judicial

joanópolis

nesse dia de tanta estrada olhei para onde a vista não alcança
agradeço a responsabilidade
de ter vivido essa tarde
meus irmãos comigo junto estão lutando
e o amor esta sempre a nossa espera
a vida flui
e nós fruimos o melhor dela
olhando para dentro tudo é paz
enquanto isso vejo pela janela
a paciência da pomba a esconder seu ninho