quarta-feira, 7 de novembro de 2012

guerra em são paulo / a vida não cabe no bolso # 23




A cidade está se comendo.

E tem gente batendo palma para os discursos, que pedem

mais polícia, mais armas, mais violência, mais aperto e        

mais merda.


Muito nervoso o bagulho, a periferia em sofrimento.

A encruzilhada não é só dos exus e das pombas-gira, tamos

todos nela, sem pedir licença.


Sem eira, nas beiras da city, engolindo o veneno, o povo tá

se matando, o povo do salário de fome, do bico no açougue,

está se matando. Muito nervoso o bagulho: periferia em 

sofrimento.



A riqueza não é pra todos. O consumo de lixo e derivados

aumenta, os economistas sorriem, mas a vida não cabe no

bolso, falta poesia e imaginação, transformar a dor em 

arte.



Brasilândia, Capão, quebradas de Itaquera, Itapevi e o lado

Heliópolis,Paraisópolis, Colombo, Real Parque, o abecedário

inteiro das favelas. Favela não cabe no dicionário. Quem tá

dentro não fala, os bicos de fora dão palpite.


Toque de recolher na cidade.

O barulho das hélices, tiroteios, crianças correndo, isso não

é uma novela de televisão.

Qual é o nó? O laço entre policiais bandidos? O vicio da

alegria de um frame? Duas baforadas, Red Label,

energético, “o que é isso tio”?


Marginalidade, miséria, merda. Sonhos de melhoria de vida.

No consumo todos se igualam a vida não é para os fracos... 

Vencer, competir, individuir.


Carros em movimento, a vida sob a perspectiva espaço

temporal das máquinas.



Como dividir o bolo da riqueza? Redistribuição de renda? 

Nunca foi distribuída. Eu sei que existe o líder servidor,

existe a brincadeira de roda, as canções de Paz, mas a força

dinamitadora da violência é de um entranhamento na alma

brasileira, que parece não ter adversário a altura.


O que poderá nascer para combater a violência?

De todas as maneiras muitos pobres continuarão nascendo,

pobreza e marginalidade correndo juntas, o espectro do 

fracasso ronda o beco.


A pobreza maior, de espírito, dos burocratas, dos que 

acreditam nas coisas de cima pra baixo, naqueles que

acreditam no próprio discurso de competência, continuarão

fazendo planos e fazendo.


Os políticos continuarão costurando acordos para os  

programas de bangue na TV, o show deve continuar.


Enquanto isso, enquanto os acordos são feitos, os manos

tão morrendo. Até quando isso?

Não tem fim.

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