sexta-feira, 16 de novembro de 2012

memória da água




Eu quero essa outra coisa que está na água.

Eu tenho a memória do meu afogamento.

Água que vai embora.

Substância  a que devoto especial atenção, não por sua composição físico-química, nem pela clara ligação com aquilo que flui, ou pela transparência, ou pela liquidez redundante, ou por tudo isso, ou por nada disso, mas por que não sou de água.

Então por oposição, pelo deleite de querer o antagônico, pela minha inflexibilidade.

Pela nau fantasma e os chatos do navio com as facas nos dentes, pela caneca usada para evitar o transbordo, pelo esporte náutico, pela solidão da menina contando os ladrilhos no fundo da piscina, pela espera da maré propicia, pelo mar revolto como o cabelo da minha amada, por isso tudo e mais por aquele que andou sobre as águas, pelo gosto daquele beijo salgado, pela triste chegada dos ancestrais napolitanos, por tudo aquilo que eu já fui, pelo o que eu não sou, pela mudança que eu quero ser.

Pelo farol do fim do mundo.

Eu quero a solidez dessa coisa, esse vapor, eu quero essa outra coisa que está na água, em seu principio, em sua possibilidade , em sua alquimia.

Eu quero navegar, ver o mar mais uma vez.

Como será que é a neve?

Por essa condição de transitoriedade, por cima de tudo isso
eu quero a água





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