sábado, 4 de janeiro de 2014

devo contentar-me?



devo contentar-me com a via láctea, imensa, eu fora e dentro dela, um caminho no céu, tão longa essa estrada., tão grande o céu. milhões de estrelas quase todas com nomes, quantas delas já mortas?
devo contentar-me com  os pássaros em revoada? o bando de maritacas brincando sem parar, o voo tranquilíssimo dos urubus?
devo contentar-me com o cheiro do pão no começo da manhã, o azeite regando tudo? o limão siciliano, o alho poró, as caldas de caramelo? Com a ambrosia?
devo contentar-me com o futebol dos cegos, a discussão dos surdos, o amor dos aleijados?
devo contentar-me com a mãozinha da filha segurando a mão do papai?
devo contentar-me?
devo contentar-me com as flores que crescem sozinhas nas beiras dos caminhos?
devo contentar-me com o gosto da neve?
devo contentar-me em subir na montanha e suspirar?
devo contentar-me com a leitura de Shakespeare? o primeiro movimento da Nona de Beethoven? o dedo de Michelângelo
devo contentar-me, e sorrir?


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