domingo, 23 de fevereiro de 2014

eu não estou sozinho



eu estou longe de mim também, mas estou perto de casa. estou longe de toda confusão, ouço os gritos, mas parece que não é comigo, se eles não chegam até mim, o que eu tenho com isso?
estou protegido dentro da minha casca, da minha armadura, no gesso pélvico, no meu desconhecimento de Libras, ouvindo Mozart celebrar um rito antigo.
se você quiser ficar na minha casa eu não sei o que digo, por isso não me pergunte
onde fica a minha casa, eu estou perto dela, a um sopro entre nós dois que nos mantém vivos.
eu estou longe de você, eu acho que não consigo mais ficar só, junto ao seu umbigo eu estou longe do precipício, de volta ao inicio.
eu estou longe de mim também, assim como você, saciados na matéria, ficamos juntos em espírito, mas a minha casca, minha outra máscara, meu outro  espírito, não quer mais ficar só, olhando o próprio umbigo. Adão não tinha um, nem tinha casa, nem casaca, nem casca, não estava longe de si, nem tinha consciência de nada, e não dizia palavra, não tinha nem com quem trocar, nem a dúvida do precipício.
eu estou muito longe de Adão, muito tempo sozinho.
minha casa, minha cara, estou muito longe de tudo, a um sopro, eu sei que há uma troca, de cordas, até alguém tocar o violino, seduzir o espantalho, prender os mascarados, tudo aquilo que nos mantém sozinhos  está preso, escondido dentro de algum coração bandido.
de qualquer forma,  a minha casa, minha cara, minha máscara, meu desconhecimento, meu descobrimento de tudo isso, me leva a um sopro, a presença tua, a tua desordem, o meu embaraço, o nosso contrário, a lógica da pesquisa cientifica, ao novo fogo Prometeu, a futura ausência, a minha casa, tão próxima de tudo, a minha falta, a tua ausência, os black blocs, o buraco negro da alma, a minha cara na lama, um passo do abismo.
estou a um passo disso tudo, e não estou sozinho.

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