sexta-feira, 1 de abril de 2016
Tia Lenita
Hoje é primeiro de abril, dia do golpe que arrasou o brasil, e pelo que tenho testemunhado, de forma definitiva.
Minha Tia Lenita, amada e querida, linda, linda. Foi presa e torturada pelos animais de 1964. Durante três meses presa no presídio Tiradentes, junto com a digna Amelinha Teles, mãe de meu amigo Edson Teles, e outras mulheres dignas que lutaram contra a tirania assassina e golpista, puxava o hino da república " Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós!", isso ásseis horas, hora do crepúsculo, hora de Nossa Senhora Mãe Maria.
A Lenita é prima do meu pai Dirceu, e amiga da minha mãe, a Chêlo. Meu irmão Marcio Miele, foi professor de música das netas dela. Celina Charlier, a chamava de Tia Lenita desde a infância. Eu estou aqui escrevendo isso. Minha irmã Marilia Miele está na escola ensinando ás crianças a sentar direito, a escovar os dentes, a falar, a cantar, e amar. Minha mulher Maia Miele, está indo para escola, trabalhar com muito amor e fé na humanidade e no seu projeto revolucionário de emancipação de crianças da comunidade. Deus Nosso Senhor Jesus Bendito protege a todos nós, homens e mulheres de boa vontade.
Meu amigo e irmão Paulo De Tarso Gracia, cujo pai,senhor Nelson, um poeta que recitava a nós adolescentes Camões e Augusto dos Anjos, foi perseguido pela ditadura, mas nunca deixou de sorrir, Paulo é fã da tia Lenita, e não deixou de ser uma surpres ele saber que ela é minha Tia. A família do Paulo é de uma inteligência absoluta e sabe tudo. Paulo está com sua mulher Thais Barcala, um lutadora doce e gentil, em um lar abençoado, protegido por Deus e por uma falange de anjos prontos a massacrar os inimigos.
Aos jumentos e aos viados enrustidos, a todas as piranhas, á todos os que só sabem gozar com o sofrimento dos outros, á toda gama de animais irracionais sem sentimento e que não sabem de porra nenhuma, que apoiam o golpe de 64, eu desejo o inferno.
Os babacas nascem aos borbotões , mas nunca vencerão a paz e o amor e o destino, protegido por Deus, de meus amigos e familiares.
Aqui o depoimento de minha Tia, a Tia Lenita:
"O jornalismo era minha maneira de lutar contra a repressão. Na noite em que soube do AI-5, chorei. Dois anos mais tarde, me tornei uma das vítimas do ato. Em 20 de dezembro de 69, dez homens com metralhadoras me arrancaram de casa. Chegaram a apontar as armas na cabeça de meu filho, que estava dormindo. Na cela 3 do Dops, fui torturada, espancada, levei choques elétricos. Entrei com 57 kg e, três meses depois, sai com 32 kg. Mas a pior parte foi ter que engolir páginas de uma edição da Folhinha com a capa de comemoração a Tiradentes porque a chamada era 'Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós'.
LENITA MIRANDA DE FIGUEIREDO, 93 anos
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