quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Livraria do Bixiga, tudo muda e ás vezes pinta alguma flor


Um salve pro Eduardo Britto, amigo ainda de 1972.
A Livraria do Bixiga foi uma boia e uma âncora nas madrugadas do Bixiga, que era o reduto de notívagos, malandros e até de quem estivesse de bobeira no começo dos anos 80 em São Paulo.
A Livraria ficava na Rua Santo Antonio. Na Rua 13 de Maio ficava a Arte Pau-Brasil, um luxo em qualquer época na cidade, duas livrarias que ficavam abertas durante a noite!
Eu e todos os outros ficávamos a vontade para tirar um livro da estante ou do mesão que ficava no centro da Livraria do Bixiga e passar horas lendo sem ser perturbado por nenhum vendedor.
Li os livros que não podia comprar: Tanto Faz, do Reinaldo Moraes; On the Road, do Kerouac; Bukowski e John Fante e outros da Brasiliense que era a "Editora" da época e tinha um catálogo de livros da geração beat que demoraram muito a ser lançados no Brasil. Ás vezes dava só uma passada na Livraria, lia um Hai Kai do Lemisnki, ou um poema de Eu profundo e outros eus, do Fernando Pessoa e voltava pra aventura das ruas.
Na mesma noite após a derrota das Diretas Já, sabe-se lá como, tinha dinheiro e comprei 3 livros, só a arte pra tirar aquele bode.
O Amadinho Maita, baterista cult, era irmão do Marcelinho Chokito que foi pianista até do Jair Rodrigues. O Marcelinho jogava bola contra a gente, ele pela Santo Antonio, nós pela 9 de Julho. O Amadinho casou-se com a filha dos donos da livraria e ficava com aquela de Santo Antonio e eu com minha cara de 9 de julho. Dois bicudos. Rivalidade até o fim.
Uma noite vi uma iluminação diferente: A Lúcia Veríssimo fazia o lançamento da Playboy dela. Entrei na fila, peguei a mãozinha dela, beijei e ela disse: - Que energia! Mas eu estava flutuando e muito fraco ... ela realmente era uma mulher experiente e sensível.
Antes de ser Livraria ali foi um lugar que vendia produtos cirúrgicos, nós comprávamos seringas ali, para brincadeiras inocentes de jogar água uns nos outros.
Antes de ser Revendedora desses produtos ela foi uma casa de Samba, das muitas que haviam na Santo Antonio quando éramos crianças.
O espaço chegou a ser comitê político do PT e faz anos que está fechado. O Bixiga é muito dinâmico... Pessoas se apegam a determinado tempo e querem se cristalizar nele, mas não é isso que rola. Nunca vou sair daqui.
Forte abraço!

4 comentários:

  1. Que gostoso ler isso e lembrar, mais de 30 anos, das ruas movimentadas do Bixiga, a noite paulistana por excelência, antes da Vila Madalena. Valeu!

    ResponderExcluir
  2. Flávio Gikovate e Dra. Gertrudes.

    ResponderExcluir