segunda-feira, 27 de julho de 2020

finjo que danço

eu gosto de fingir.


isso aos apressados poderia dizer: ele finge.
aos leitores do Pessoa, sem pressa, porque a vida é imensa; não cabe nessa rede. e Pessoa não cabe no Pessoa, ele precisa de outros, de outras. eu preciso também, mas não é essa: ... é mais essa: o outro. que está aqui, sem esquizoanálise, sem confissão; nem poesia.
eu gosto de fingir, de brincar, to play, o atuar, mas não com ticket, ou com passo marcado. o artista da vida de que falava o Allan Whatts, aqui me entrego, um verso furtado, de onde não sei. vou em busca de um fio, do novelo, nessa novela errática, minha entrega a monotonia - só do lado de fora.
mas me entrego, um pouco nessa entrega. Nessa minha constelação. Shakespeare, Allan Watts, Pessoa.
Claudio Ulpiano.
Caetano Veloso e Gilberto Gil
de onde vem esse verso furtado? do Celso?
Gosto de buscar o fio da meada, falo muito nisso, como condutor/ ouvinte dessas lives, muitas vidas do Pessoa, muitas lives nessa semana: meia dúzia! falar do quê? do abismo de nós mesmos? de poesia, da arte de aturar lives? da arte de atuar? De educação. Novelo de lã. Falar é falhar. Fingirei, fingirei, darei a eles, o que eles querem! Fingirei!Como foi que cheguei aqui? como sairei daqui?
Comecei isso, aqui me engano, num pequeno texto sobre dança:
"a narrativa da Dança é a que mais me deixa em um estado de loucura sadia.
A loucura sadia é a própria não corporeidade, algo além da química orgânica: química anímica, alquimia, alma que dança.
um espetáculo de Dança tem muito a ver com sonho
Dança: não linearidade; não necessariamente uma história; não lógica cartesiana.
o Corpo.
tudo em movimento está. mesmo calado fala tanto"
Copiei esse texto em busca de uma imagem para o texto e ele me levou para um monte de teses, a alguma coisa sobre "fingir" que me fez ir ao um ponto fundamental, e daí ao Cláudio Ulpiano! Prossigo com ele, em busca da Pina Bausch, que é a imagem, que eu quero colocar. Mas coloco uma imagem que tem muito a ver com a sensação de estar no teatro, e tem a ver com o que eu sinto quero falar , enquanto Dança e inconsciente
Escrevi os dois textos ao mesmo tempo. copiando aqui, fingindo ali :
"Aqui, na Dança, vejo uma plasticidade, nunca antes vista; mesmo no retangular, ou na arena. ou no sofrimento corpóreo do backstage, porque o corpo chora, o calo grita.
acho um luxo assistir espetáculos de Dança: livre da palavra, livre da física de newton, livre da história da dança, que desconheço, livre do meu corpo em movimento.
Eu aceito essa ininteligibilidade, esse corte no racional, minha cabeça dança, meus pezinhos balançam, eu quero me jogar, sem fio de ariadne, sozinho, embora ainda reste a noite, e os outros dias.
entrego-me a leitura dessa língua estrangeira, a Dança, sem manual, numa liberdade de espectador, que enfim entra na própria ferida, e saindo dela, dança "

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