segunda-feira, 7 de junho de 2021

eu não estava atento


eu não estava atento aos dias mais curtos - e nem
ás noites mais compridas.
não reparava nas folhas inutilmente varridas para algum canto, que depois seriam revolvidas com a menor ventania
não prestava atenção ás flores pisadas ou aos gatos estraçalhados nas esquinas.
não considerava as quadras dos amores perdidos;
os gritos das crianças e o leite derramado.
eu não tinha atenção despertada para nada,
para fantasmas ou balas perdidas
para os olhos do furacão, para novela das dez,
para os novelos ou fios de linha.
não notava o barulhos dos enxames de vespas,
o solo de guitarra, o ronco da cuíca.
não ligava para o travo amargo das palavras malditas ou a benção das palavras benditas.
nem para o solo de guitarra e a chatice dos bateristas.
estava desatento à tudo e não lembrava de orações, de nomes, de caminhos, de curvas ou de qualquer destino.
não desvirava os sapatos, não fazia figas, nem elegias.
o que eu sabia é que eu era jovem e invencível

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