sábado, 22 de setembro de 2012

Celsinho, São Paulo merece!




Com a eleição acontece um mínimo de conversa sobre política, mas não é uma conversa sobre política é uma conversa sobre eleição.

A eleição e o resultado da eleição acontecem pelo sistema democrático, de democracia representativa. Política vai além disso.

Numa eleição deveria ocorrer uma discussão sobre visão de mundo.

Não é isso que acontece.

Política tema ver com visão de mundo, com ideias.

Nesse tipo de democracia representativa, o sistema está organizado por partidos políticos. No Brasil, de agora em diante grafado como Bananão, os partidos tem nome que não significam nada.

Aqui, no Bananão, não temos sequer herança getulista, como los hermanos possuem do peronismo.

Em países civilizados, "Suécia, França, Espanha, Portugal, Alemanha, Itália", etc. "Socialista, Democrata-Cristão, Comunista, Verde, Socialdemocrata, etc." não são nomes, ou siglas, correspondem minimamente a um significado dentro do espectro ideológico. Como explicar o que é PMDB, PRB, e centenas de etc. a alguma pessoa de outro país?

Nos EUA, país tão importante para o Bananão, os partidos Republicano e Democrata revezam-se no poder, e embora basicamente iguais - um é mais liberal "defende” o aborto,outro mais "conservador" defende a pena de morte,um defende mais verbas públicas, política externa menos expansionista, outro defende uma mais agressiva,posse de armas, casamento homossexual, etc. - os dois partidos confundem-se, pois, mas é possível identificar, aqui e ali,ao optar por uma ou outra visão de mundo, se você é mais conservador ou liberal. O que é ser liberal, ou conservador, no Bananão?

A pessoa age absurdamente de forma conservadora, o que sem dúvida deve ser associado a uma posição de direita, mas não sabe que é de direita.

Aquelas que sabem, dividem-se em pessoas definitivamente fascistas, racistas, xenófobas, homofóbicas, e tudo que é possível reunir numa pessoa definitivamente estúpida e retrógrada, e outras pessoas, que negam a existência da divisão da esquerda e da direita, acham que isso é invenção da esquerda, que não existe classe social.

Quanto as que não sabem ser de direita são  pessoas somente desinformadas e que repetem o discursos da mídia, dominada pelas corporações e favoráveis a manutenção da ordem. Essas perfazem o grosso da população,pois a tendência é de conservação, de comer pelas beiradas.

A direita defende a situação permanecer do jeito que sempre esteve, ou por que está por cima, ou por por conformismo.

O discurso dela vai manter as coisas todas do jeito que estão, ou seja, na mesma merda.

A esquerda deve ser associada sempre a transformação, a alteração das regras do jogo e a construção do Paraíso na Terra.

Ao fim do trabalho, ser favorável ao ócio e ao pleno desenvolvimento de todas as possibilidades do ser humano, e que todos tenham o direito de ser aquilo que são. Dessa forma acabaríamos com a vontade de chegar a sexta-feira, com a divisão entre palco e plateia e com a criação de lixo,  - e dessa forma não haveria a necessidade de haver lixeiros, mas convenhamos uma esquerda assim, ou um mundo assim é muito difícil de existir.

Fiquemos pelo menos com uma esquerda que quer mudar o mundo e que entende que a pobreza e a diferença social são forjadas pelo capitalismo, e que ele deve ser combatido e eliminado, formulando ações então de desenvolvimento das pessoas, para que um dia ( ....) possa existir um mundo sem lixo e sem lixeiros.

Eu odeio racismo, odeio quem acha que pobre é pobre por que é "Vagabundo", "não Trabalha", que não gosta de preto, de índio, de viado, de puta.  Esse negócio de bandeira, de hino, "esse chão é meu", "essa é nossa terra', isso é uma grande besteira. Isso de: “esse meu deus não é tremendo”?!", "só se chega ao céu através de mim," isso é abominável. 

Eu sou de esquerda. Eu acho o mundo uma merda, e quero mudar o mundo.

Naturalmente devemos ir além de nossa condição de nossa classe( "eu nem sou tão pobre assim, conheço Mondrian, Bach e outros querubins, tem sempre um disco voador no meu panorama, meu cabelo não é ruim, etc.") a coisa mais simples seria o oprimido saber dessa condição, de poder quebrar tudo, e tomar os meios de produção e acabar com os poucos patrões, e estabelecer o Paraíso,, onde não existe fome nem gula,e nem armário ou cofre, e nem é preciso ter mais que dois sapatos e  etc. Mas não é assim.

Acontece de o mundo ser uma merda, as pessoas serem estúpidas, etc., e aí temos que ser pragmáticos. Quem combate o capitalismo é marxista, socialista, comunista, trotskista. E aí tem os partidos. Quem não combate assim está muito por fora. É Punk? Anarco? Niilista?Malandro?

Aqui no Bananão (como as coisas são ruinzinhas aqui !) tanta fragilidade ideológica, tanta falta de discussão, a esquerda é tão pequenina, os pobres nem se acham pobres, etc. Mesmo o pragmatismo não funciona.

O partido, que com o fim da ditadura, numa espécie de frente faz oposição a direita por 25 anos, quando chega lá, confunde desenvolvimento com projeto de classe média, geladeira cheia e automóvel, deixa de ser ético, faz tudo o que todo mundo sempre fez, ROUBA - o que aliás o povo falava que eles fariam!

E , pimba, danou-se.

 - Eu sabia, a direita grita.

 Enfim, esse partido, o PT, acaba com a esquerda no país! 

Naturalmente as pessoas continuarão lutando, esquerdas mil não se conformam com o PT ser chamado de esquerda, existe um número, muito reduzido, aliás, de gente que continuará sendo de esquerda, mas todo um projeto possível, um grande projeto, um grande partido, e um projeto que deveria de ser de esclarecimento, de didatismo, que vinha engatinhando, morre. "Tudo que é sólido se desmancha no ar".

Mas essa esquerda, marxista, trotskista, mais esquerda, não consegue, não chega a massa, não consegue construir projeto, são mil e duzentos, terão 5 mil votos na eleição, ninguém quer saber dessa esquerda, ninguém ouve o que eles cantam.

Eu vou continuar a ser de esquerda, aqui quieto no meu canto, desafinado e sem harmonia. Sem partido. Não gosto de sindicato, de trabalhar, de igrejinha. Não sou marxista-leninista, trotskista. Eu nego o pragmatismo, o partido político, e a democracia representativa. Em outras oportunidades, outras cartas, eu já valorizei a condição individual, e mesmo já condenei a bravataria, a bateção no peito, a cagação de regras, tão presentes no discurso da esquerda, aquela que estuda Lucaks, Gramsci e outros. Mas eu fico com Slavo Zizek em oposição a Olavo de Carvalho.

Sempre fica, no entanto, aquela grita: 

- Como pode ser de esquerda sozinho?!

Por ser desorganizada a esquerda é assim... aliás, quando a esquerda se organiza, quando faz a primeira assembleia, quando é eleita a diretoria, ela deixa de ser esquerda e imediatamente passa a ser direita, que é organizada, burocráticae , principalmente, detém o poder.

Ser de esquerda, nessa posição que eu defendo, é assim: ser de oposição, ser do contra.

Eu sou contra o que está aí,contra desde sempre, talvez os essênios, talvez Walden I e Walden II, talvez a República de Fiúme, talvez Paris 68, talvez as comunas da cidade luz e mais querida, talvez o grupo União da Ilha Grande, talvez,talvez, maybe tomorrow.. não sei direito como fazer para mudar, não acredito em revolução e luta armada, em partido político. Gosto de Spartacus e Barrabás. Mas isso é outro tempo.

A pessoa deve reagir a a opressão, aquilo que emperra sua evolução. Como reagir a minha condição de escravo? Como lutar contra a opressão de um governo estrangeiro? São essas as minhas lutas? Não devo eu, por minha condição de ser humano, ir além da minha classe, além da minha situação?

consciência cósmica
inconsciência de classe
inexatamente em vós passeio


Enquanto isso... Vinicius canta:  a tristeza tem sempre uma esperança de não ser mais tristeza não...


E a direita? A direita relincha. E continua engordando

A direita não vota no PT por causa do mensalão, a direita não vota no PT, por que odeia pobre, preto, puta, viado. Mas a direita aproveita a cagada do PT, para acabar com qualquer possibilidade de discussão de política, de amadurecimento, de saber-se quem é quem.

Bem, eu não estou apelando ao didatismo, ou a um tom senhorial, eu estou falando do modo que falaria num café, numa padaria, num botequim... Claro se eu estivesse num lugar civilizado, aqui não é, aqui é:

-  grobo; curintcha; é noizes; todo mundo brincando, todo mundo rindo; e: olha o povo de deus; só eu sei dos meus poblemas; e oh, vem chegando o feriado; você viu o que o fulano disse? Viu que linda minha nenê? Eu te falei que ele ia comer na minha mão...


 e eu digo:

-  O autismo está atingindo 99% da população.

Nessa conversa, pequena de eleição, que deveria ser de política, de visão de mundo, a discussão deixa de ser política, e passa a ser de gerenciamento da cidade, custo-benefício, orçamento. A discussão deixa de ser política, como se não existisse ideologia, luta de classes. E passa a ser técnica, de gestão, marketing, mídia.

Nessa cidade de ninguém, cidade do trabalho, cidade feia, cidade do dinheiro,nessa cidade de consumidores, no grande mercado, na ausência de cidadania, ninguém melhor que o Celsinho.

São Paulo merece, a esquerda merece, eu mereço,  nós merecemos.


ah, dona aranha # 4





não há como escapulir
assim eu pensava 
até sair dali

ah, dona aranha # 3



surpresa 
 a teia reflete
uma lágrima

ah, dona aranha # 2






pintando o sete
brincando
a aranha tece


ah dona aranha # 1






antes que a noite chegue
tece aranha a aranha tece
silêncio e prece

um anjo na cidade de São Paulo, no antigo palácio das indústrias




Andei a cidade toda
e não achei anjo algum
na Praça Ramos, não era
passei a República
fui até o Arouche, cansei e pensei voltar
até os lados da Tabatinguera.

mas o enigma proposto                                                       
falava em café
pensei então naquele pequeno Largo,
mas antes de chegar a outra Praçaa Antonio Prado,
percebi meu erro 
depois de chegar aquela grande Praça, a Sé.

e me perguntei:
 - será na Boa Vista que o anjo espera?
Segunda pista, que fala;
" o anjo guarda a criança"
assim seguindo a pista,dou a volta mais uma vez
e chego à Santa Casa
provido da mais funda esperança

nessa casa de misericórdia

a procura do anjo com o ramo de café
afinal ali é o lugar que acolhe todos os que padecem
nos quatro cantos da nossa grande morada
- quem nunca acompanhou amigo 
nesse hospital que recebe a todos  na madrugada?


Mas não era ainda alio

Onde se protege

porém as crianças nessa cidade?

 - No Hospital Menino Jesus. 

Mas isso não fica no centro, mas no mundo a parte

que se chama Bela Vista que embora perto 


não pode se dizer que fique no que se chama

cidade


Onde estará o anjo, então?

Não consegui descobrir
Deve ser por que não ando
Há tempos pelas bandas de lá
O anjo guarda as crianças
No antigo lugar de trabalho
Hoje projeto catavento
Do outro lado do Tamanduateí

crack, coisa que parte




escapei e bati na trave
bati a cabeça na parede
e matei a sede
na  água da sarjeta 
no fim de mundo
que era meu mundo
caído pela lei da gravidade

lambi as botas do sargento
comi a bosta toda
- é minha asa quebrada -
ninguém está imune
a pedir esmolas , um beijo,uma pedra
a beijar a erva que cresce 
entre as rochas da cidade

não há vacina que possa curar a dor
qualquer um pode cair na rede
somos todos peixes,zumbis
esperando a vez
somos coisa
na imensa latrina
repartindo pesadelos sem querubins




quinta-feira, 20 de setembro de 2012

sobre ir além dos muros da escola, mudar o mundo e assumir o controle da vida



O presente texto pretende refletir o teor do diálogo realizado com colegas das disciplinas de Ciências Humanas (Filosofia, Sociologia, História e Geografia) no 4º Encontro Presencial REDEFOR /área CHT.



Um dos objetivos do Encontro foi uma reflexão sobre a transformação do aluno de Ensino Médio em sujeito de sua formação, bem como as atividades de Cultura e Extensão Universitária poderiam colaborar com as escolas de Ensino Médio para se atingir esse objetivo.

Naquela ocasião, como forma de orientar nosso trabalho, foram usados dois textos. O primeiro deles de Wautier, com foco para a proposta de François Dubet sobre as três lógicas de socialização.  E um texto sobre o papel da área de Cultura e Extensão Universitária, da Professora Maria Arminda Arruda.

Na presente atividade, foi nos solicitado responder a duas questões em formato de proposta de ação no Ensino Médio, usando para isso a experiência do diálogo realizado no encontro e a leitura dos já citados textos:

Como, na Escola, consolidar o aluno do Ensino Médio como sujeito de sua própria formação, mobilizando para isso a compreensão de que três lógicas de ação agem na formação da identidade do aluno?

Poderiam ações junto à comunidade local, a exemplo de ações de extensão e cultura, favorecer esse processo? O que pode fazer a Escola para isso?

Segundo o texto, a experiência social é o resultado de uma articulação aleatória entre estas três lógicas: a integração, onde o ator é definido pelos seus vínculos com a comunidade, onde o externo é coercitivo, a ordem é reproduzida, e existem papeis que são esperados de ser executados, não acontecendo isso ocorre o desvio; a estratégia, onde o ator é definido pelos seus interesses no mercado, aqui o máximo do individualismo, uma perspectiva liberal, as ações soa um meio para atingir determinados objetivos e a subjetivação, onde o ator é um sujeito crítico frente uma sistemática de alienação, e em determinado momento o ator toma consciência e da um passo além, assumindo controle da própria vida. (WAUTIER, 2012).

São lógicas autônomas e não hierarquizadas. São três lógicas, três tipos de explicação da sociedade, e todos nos deparamos com elas, ao mesmo tempo. Porém emerge dessa leitura a convicção de que entre elas seja imperativo que procuremos, para que haja um mundo mais justo e solidário, a formação de um aluno crítico.

Na difícil tarefa de fazer com que o aluno passe a ser sujeito crítico, surge a figura do professor, que busca ele também ser sujeito crítico, assumir o controle de sua vida.

Para isso o professor deve ser curioso, e despertar a curiosidade, saber que é necessário dominar determinados conteúdos, que são imprescindíveis para poder formular hipóteses ou críticas, ser ele mesmo um eterno aprendiz, buscar sempre o estudo, a leitura; permanecer atento a importância das transformações de suas condições de trabalho, e dessa forma estimular aos alunos que façam o mesmo.

Na sala de aula, durante sua prática cabe ao professor a tarefa principal de não se constitui em agente autoritário e propor ações que despertem a independência dos alunos e coloquem sentido naquilo que acontece na relação ensino-aprendizagem.

Tais ações sugerem, entretanto, relações individuais. “O” professor e “o” aluno conseguem, com muito custo e luta assumir o controle de suas vidas.

Aqui ocorre, então, a necessidade de expandir esse movimento, pois só assim ele poderá ser pleno, e isso deve ocorrer através de ações junto a comunidade, através de ações de extensão e cultura.

A Professora Maria Arminda em seu texto afirma que “o dilema da área de cultura e extensão resulta de uma dificuldade de pensá-la para além da estreita divulgação e da simples prestação de serviços e de atendimento de demandas, mas, em especial, da necessidade de distingui-la do domínio do mercado”. (ARRUDA, 2012).

A única maneira de extrapolar o individualismo, ir além da proposta de tornar-se sujeito da própria vida, é fazer isso junto a comunidade.

Na sua crítica a professora Maria Arminda Arruda assegura que a universidade “não cumpriria seu papel de formar cidadãos para o mundo em movimento, caso não democratizasse e difundisse o acesso à cultura, êmulo da ultrapassagem das profundas desigualdades sociais”. (ARRUDA, 2012).

Da mesma forma a escola não pode cumprir seu papel de difusor da cultura e transformadora da sociedade, se ela não ultrapassar os muros e buscar integração e articulação junto a comunidade local, promovendo ações que discutam o valor da independência e de uma consciência crítica do mundo.









Bibliografia:
ARRUDA, M. A. Políticas Públicas de Cultura e Extensão Universitária (págs. 9 a 14). Disponível  em: http://www.prceu.usp.br/revistausp4.pdf. Acesso em: 4 set. 2012.

WAUTIER, A. M. Para uma Sociologia da Experiência. Uma leitura contemporânea: François
Dubet. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/soc/n9/n9a07.pdf. Acesso em: 4 set. 2012.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Convenientemente, uma verdade inconveniente,



O documentário "Uma Verdade Inconveniente", premiado com o Oscar de melhor documentário descreve as graves consequências do aquecimento global.

 A produção utiliza estudos científicos que afirmam que o aquecimento global gerado pelas emissões de gases poluentes causará uma mudança climática que acabará com a vida atual tal como a conhecemos.

Uma verdade inconveniente é um documentário muito bem estruturado, é uma grande produção de hollywoodiana, com direito a efeitos especiais, gráficos visualmente atrativos e apelos melodramáticos na busca do convencimento de suas assertivas.

Pelo envolvimento de Al Gore com a ecologia, mas principalmente pelo filme, o político que chegou a ser vice-presidente americano, ganhou muitos prêmios, inclusive um Nobel. 

O filme arrecadou muito dinheiro e é o sexto documentário em arrecadação na história dos Estados Unidos.

Todo esse sucesso, a grande repercussão do filme, gerou muita polêmica e popularizou o debate científico sobre o tema do aquecimento global, ou como querem alguns, das mudanças climáticas.

Ao analisar o filme, e criticá-lo, diversos autores apontam erros no filme. São apontados erros de conteúdo, imprecisões científicas, e conceito, ao colocar um político falando de ciência.

 Por imprecisões cientificas um magistrado americano, exigiu que antes de cada exibição ”sejam apresentados os argumentos contrários às informações divulgadas pela peça de propaganda, plena de erros – erros que, segundo o magistrado, não resistiriam a uma análise científica imparcial”. (PONTES, 2007)

Quando um político usa a ciência em seus argumentos a climatologia não gira em torno da investigação, dos métodos, dos experimentos ou testes de hipóteses. Na práxis goreana, evidências empíricas ou lógicas dão lugar a (in)convenientes verdades e a estranhos consensos.” (MAUAD,2007)

O tom alarmista do filme encontra eco em no discurso de outras pessoas, inclusive de James Lovelock autor da Teoria de Gaia, mas embora a maioria da comunidade científica defenda que exista um aquecimento global, e que ele seja causado pela queima de combustíveis fósseis, o tom dos defensores dessa hipótese vem tendo posições mais moderadas, menos alarmistas ou apocalípticas.

Verdadeiramente a polêmica levantada pelo filme ultrapassa o tema do aquecimento global, se é a industrialização, o modo de vida atual, a responsável pelas mudanças climáticas, e nos leva a outras indagações: qual é o modelo de desenvolvimento que queremos? Como o gênero humano se vê diante da natureza? Quais são os limites da ciência? O que é ciência?

Essas indagações, e a controvérsia causada pelo filme, vêm colaborar na prática da sala de aula, estimulando a leitura e a não acomodação com verdades, convenientes ou inconvenientes, buscando sempre revelar que as dúvidas não nos fazem empacar, são elas que nos levam adiante.


REFERÊNCIA
MAUAD, João Paulo. O triunfo do medo. Disponível em: < http://www.fimdostempos.net/al-gore-oportunista-hipocrita.html. Acesso em 27/08/2012>
PONTES, Ipojuca. Al Gore e o ecoterrorismo. Disponível em: http://www.fimdostempos.net/al-gore-oportunista-hipocrita.html. Acesso em 27/08/2012>

terça-feira, 18 de setembro de 2012

a vida não cabe no bolso # 24




e etcétera vem a ser coisa muito poética

e la nave va




naive ingênua
neve branca
redundantemente 
navegando
no balanço
de amar

a vida não cabe no bolso # 26



                        
anti vulgar
 voar é para poucos
é para os loucos

a vida não cabe no bolso # 22




o futuro é cada vez menor

por isso eu abro o presente

a vida não cabe no bolso # 20

                                                                                                                                   luis avelima - ilha do cardoso



não adianta ter apego

o amor muda sempre de endereço

a vida não cabe no bolso # 21





                                                                                                                                       fan ho



enquanto caminhas a cabeça esfria

domingo, 16 de setembro de 2012

nossa nudez é extremamente elegante





a necessidade de cobrir a nudez
só tem sentido em
vestir-se para despir-se &
descobrir-se 
e abraçar-te
e querer-te novamente
vestida
para despi-la
e mais uma vez
amar-te

a roupa é um despiste
uma sina
desnudando-se
o destino é Vênus
outro planeta
nunca Marte

eu coloco essa camisa
como um um sinal
de eu te quero minha
para nossa pequena morte
tudo é contradição no amor

nossa nudez descompromissada
tem a ver
com os corpos saciados
encharcados de amor
somos bichos eternamente no cio

nossas roupas 
jogadas no chão
são costumes
que sem cautela
revelam mais que ocultam
nosso desejo de nos vermos livres delas

embora o amor devesse ser cotidiano
embora nada possa ocorrer conforme nossos planos
nada no amor é óbvio

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

existe um milhão de coisas que não cabem dentro dessa linha / a vida não cabe no bolso # 27




não se trata de buscar linearidade
isso não existe
existe a invenção da linearidade
a invenção de sentimentos
de dores e remédios

mas nesse lugar que não convém
- a corda bamba -
onde tudo converge e se expande
vibra e chama
nada tudo
&
não tem tratamento
não tem tratado
não tem tratador
não tem chicote que segure a fera
o bicho que nós temos no fundo

não é simplesmente loucura
é complexamente loucura

não tem pauta
nem pistas no caminho
não há fio de linha para voltar pra cima
  - o resgate da fera encarcerada -
vai se fazendo
e há um errro aqui e ahli
e o que minha cabeça não aguenta
eu jogo o coração
e se o coração não aguenta 
os sentidos e a força da potência
eu jogo
e se não há espasmo
eu irei na fé de sempre

não é inteligível
entendível
decupável
é o corpo em pedaços
em frangalhos
quebra cabeça
cabra cega
racha cuca
esconde-esconde
no meio da noite está o segredo
no abandono de si mesmo
no olhar do outro
e evidentemente na criação de arte

se eu te pegar eu te beijo
eu fecho contigo 
sete dias antes do fim do mundo
antes que a noite clareie
antes que a fera espreite
antes do fim do começo
antes que termine o dia

somente as coisas novas e belas

cada coisa em seu lugar ou nunca não existem

a vida não cabe no bolso 





meu limão, meu limoeiro





Naquela rua, que ninguém sabe o nome,tinha um limoeiro.

Naquela rua, que foi o que restou de uma outra rua , ou do quintal de algumas casas, rua que surgiu do faz de conta de algum prefeito - canetada de doutores, falta de planejamento, de visão xamânica e profética do vem a ser viver em conjunto - e que surgiu quando a Bela Vista foi rasgada para a criação de uma via expressa exclusiva para automóveis, tinha um limoeiro.

Nessa rua, uma ruazinha de nada, com edificações apenas em um lado,marginal à avenida marginal,  que é a Via Expressa que liga a parte Leste à Oeste da cidade de São Paulo, e  permanece invariavelmente congestionada, entupida de carros, e que chamam, erroneamente, cheia de trânsito, existiam, presumo, muitas árvores frutíferas: pitangueiras, amoreiras, jabuticabeiras, jambeiros, goiabeiras, andirobeiras, muricizeiros,  e pinhas e frutas-do conde e pindaíbas e mucuris e maracujazeiros, e inclusive limoeiros.

Embora eu não recorra a registros, por isso presumo, suponho que ali existisse esse extenso jardim de frutas, e de flores e naturalmente com toda essa beleza, pássaros.

Esse passado idílico de sonhos é, seria, sério, um lugar propício ao passeio despreocupado de amantes, um lugar afeito aos jogos e à vagabundagem, a contemplação, ao fluir e ao fruir da vida, coisas que eu almejava peremptoriamente em meus passeios, e finalmente descambavam por um sem número de lugares esquecidos e perdidos, sem nome, da Bela Vista.

Especialmente nesses passeios buscava a surpresa, o encontro inesperado, um olhar novo, a abertura de uma outra coisa, diferente daquele meu destino, que eu julgava definitivo, porém contraditoriamente ansiando, sempre, por coisas novas e belas.

Naquela rua, em que o viaduto que liga dois lados da cidade, ergue-se absoluto, sem majestade porém, e divide em dois a Bela Vista, particularmente ali, de um lado a casa da Dona Yayá (a que permaneceu em cárcere privado por décadas, porque queria amar e ser amada, e presumo, passear por entre as árvores e ali encontrar o inesperado, que todos esperam - o amor) e de outro lado o limoeiro, eu transitava sem majestade e igualmente preso a determinado destino,porém ansiando coisas novas e belas, descobrindo centenas de coisas, envolvido que estava na roda da juventude, atento à uma miríade de situações que permanecem, ainda, em uma espécie de bruma. 

Eu sei que meus sentidos na época estavam bastante dispersos, mas igualmente  aguçados. Eu andava cuidadoso com muitos detalhes, entre eles, quase que principalmente com minha sobrevivência - o que para juventude brasileira é tarefa cara, ou seja, sobreviver à juventude, resistir à loteria de assassinatos e violências, e ao canto da sereia e à tentação e a sensação de invencibilidade, as quais  ela, a juventude, é submetida.

Era uma tarefa cotidiana, pois bem: era preciso estar atento à minha sobrevivência.

Eu dedicava poucos dias ao trabalho,ficava dez dias num, três meses em outro, e muitos meses desempregado. Estudava no Centro Cultural, lendo os russos e os americanos e Leminski, (o caminho havia sido: Folha Ilustrada> Bukowski>Editora Brasiliense, daí: Ana Cristina César, Reinaldo de Moraes, Leminski, Bukowski)  mas estava sempre na casa do meu pai na hora do almoço e da janta.

Mas eu andava atento não exclusivamente a sobrevivência,ou a não ser atacado pela polícia ou por outros vagabundos, mas também á aquela miríade de detalhes que existe nas ruas.

Perscrutava platibandas e varais e pernas e mocós, e os altos das casas (algumas continham a data de construção delas) e sorrisos que não apareciam nas faces das morenas. Procurava cheiros e cores e sinais de fumaça que pudessem preencher as minhas tardes e meus pulmões e  buscava amores, mas não procurava um pé de árvore remanescente daquele estupro que aconteceu quando rasgaram o Bixiga para a construção da avenida.

Naquela rua, cujo nome nem mesmo agora eu sei, eu caminhava invariavelmente todas as tardes para o coração do Bixiga, e para o coração de todas as coisas que eu queria minhas, coisas aliás que eu nem imaginava pudessem ser minhas se definitivamente assim eu quisesse, envolvido na bruma do meu delírio, e preso à um destino que eu julgava definitivo; naquela rua existia um limoeiro, que eu descobri quando uma folha deste voou por cima do muro e veio flutuando por cima, por entre e ao lado e sobre o meu caminho.

Eu descobri o limoeiro pelo cheiro, e pelo sumo, da folha, e ali, naquela rua, etc., eu passei a ter a minha árvore.

E embora eu sentisse-me absolutamente tentado à apanhar limões, ou pelo menos uma folha da árvore, para que eu pudesse sentir o gosto, o sumo, o cheiro, o delírio, a bruma, o destino definitivo, o olhar atento, as platibandas, o sorriso que não aparecia na face das morenas, e todo o resto, e todo o resto, eu olhava o limoeiro, tocava as folhas, e então o limoeiro estava comigo.

Faz quase trinta anos que o limoeiro foi derrubado,cada vez mais cimento na cidade, eu não posso sequer tocar nas folhas, mas,maravilha, wonderful tonight, ma che cosa bella, ah definitivo destino, eis aqui as coisas novas e belas:

- Toda vez que eu passo naquela rua,embora não haja, o limoeiro é o meu limoeiro.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

contraditório



Se não fosse isso, era quase aquilo e
com um pouco disso e uma pitada daquilo outro,
seria outro tanto.

Era para ser daquele jeito
se não fosse menos, seria próximo, ou quase de outro tamanho.

Mas, entretanto, porém, de alguma forma
de outra maneira, evidentemente, seria outro, de outro jeito, com outro canto.

Outrossim, não custa esperar, data vênia,
que assim me ouças.

Se quiser eu grito, uivo e assobio.

Que mal lhe pergunte:
- Por onde andas?
- Que apito tocas?
- Onde é que te escondes?
Sei lá o quê...

Tudo diverso, de outra forma,com outra cor e diferente cheiro.

Parece que não entende...
Vê se me erra!
Se já me esqueceu, se não me encontra, não se encontra, não sabe contar, não sabe dançar, não canta, nada move...

- Não me abandones
- Não te esqueças
- Não te mexas
 -Não me procures
"Vamos, desapareça,
Caia fora, desapareça"

Noves fora, nada.
De volta á nave,
de novo o antigo,
de velho que fiquei novo.

E assim dessa forma, como quem diria, com quem riria, de onde viria:

-a fisgada da virilha, a figada da vizinha, a figa de ouro da Índia, o porquinho da Índia, Gal Costa também cantou Índia, no Paraguai eu tenho uma filha, quem sabe numa ilha, quem sabe eu abaixe as calças, quem sabe a bolsa sobe, até talvez...

até tal dez, e o chocalho faz delem, delem
e eu por aí sem comer biscoito, e o Ludovico Einaudi, e a enciclopédia, o Newton Santos, e o Milton Santos, e a canção que não para de tocar na minha cabeça, e se outra bomba caísse aqui... 

Pra que tudo isso?

Por que assim tão sem sentido?

 - Que falta você faz.