segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

leonard bernstein




sobre a arte e a vida
repousa o vulcão

o ano passou

                                                                                                       paulo de tarso gracia

sobre o ano que passou
o outro ano chegou
mas logo, daqui um ano, chegará a vez dele também

o que me incomoda na esclerose cotidiana é a maldita esperança

de onde se espera



nada está perdido

no meu abandono

em algum bandoneon

está guardada a canção

esperando um sopro

que há de vir 

de onde mais se espera










sábado, 29 de dezembro de 2012

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

nebulosas



eu fico a imaginar se as nebulosas estão a nos olhar

nessas coisas de não fazer nada eu sou muito bom # 2





no vão

não são

não vão


não vou

não saio

não caio


sem fome

sem pressa

sem molho


não sei que dia é hoje

não sei que horas são



não sei que horas vôo

não sei a hora do zoo


não estou fazendo nada

não posso

não sou

não estou


não tenho sono

não tenho osso

não tenho dono


saí de prumo

não tenho rumo

eu não fui ali

eu não fico aqui


eu não traço

eu não linha

eu ponto

eu sonso



eu me cansa

isso me abraça

isso me cansa

eu sorri

eu sorry


esqueci de mim

esqueça assim


eu tô assim







flor




erótico ar
irremediável amor
devagar divagar
imagem da flor

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

a vida não cabe no bolso # 39



quase tudo nessa terra acaba em dor
amador, trabalhador, sonhador
isso explica muito sobre nossa gente

onda conservadora eu meto bala

                                                                                             paulo de tarso gracia

onda conservadora
eu pulo sete vezes
qualquer apito eu meto bala

a vida não cabe no bolso # 37




                                                                                      paulo de tarso gracia

o preço é o seguinte:

o fígado detonado
insônia
dívidas
não ir pra miami aposentado...

mas eu nunca escolhi café descafeinado, geleia light, contra file aparado, ficar alegrinho
minha direção foi a rua aurora e os anos 80 foram muito vivos

eu endireitei
mas não to morto

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

a vida não cabe no bolso # 38



qualquer e toda coisa
que possa ser vendida comprada trocada
é merda
merda alimenta a matéria 

eis nosso destino 

domingo, 23 de dezembro de 2012

na virada



recordar
hora de separar 
colar


a primeira conta
está próxima 
da última

o primeiro grito
e o último suspiro
estão na mesma linha

no final das contas
viver os dias 
é o que interessa

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

a vida não cabe no bolso # 36



o homem é aquilo que não sabe

pau no cu do calendário



noite muda
manhã planta
a tarde solfecha

noite clara
manhã pura
a tarde queixas

noite dura
manhã cura
a tarde esqueça

noite chuva
manhã espuma
tarde intensa

na madrugada viajas em ondas fora da estação

imperativo ser

sábado, 15 de dezembro de 2012

solidão, que nada



por que 
todos os bares
todos os lugares
as pontes e os viadutos
os barcos e o mato
e as canções e as nuvens 
e as ruas e as praças
tudo está 
absolutamente
completamente
definitivamente
cheio de gente
que eu não quero ver?

sorry



esboço de um sorriso
monalítico
extático
em movimento
desde o renascimento

o sorriso esboçado
monazítico
gravado no muro
rosado
anterior a vida

mítico
enigmático
vindo do sistema simpático
intergalático
ulterior a vida

o sorriso que não sorri
e que está em ti
lembra-me 
de te esquecer
enfim

sábado, 8 de dezembro de 2012

até quando?




tu desvias o olhar o olhar das faces das putas nas manhãs
mas persegue nas madrugadas as bundas delas

sois contra as cotas
mas fala em boa aparência e cabelo bom


se vês um beijo de dois iguais finge não excitar-se
e esbraveja dizendo: pouca vergonha!

és contra as políticas de redistribuição
porém seu caro é blindado e vives com medo

sobre a ditadura: ela não existiu
sobre os pobres: são uns vagabundos


dourado por fora
podre por dentro
até quando durará seu tempo?

não pense tanto



frágil
sem veneno
inteiro
corra
se não perde


ruidoso
estrepitoso
sem jeito
bate
se não apanha

passarinho
arisco
menino
voa
se não morre



enquanto isso a noite avança

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

ar rarefeito


                                                                                                                        paulo de tarso gracia


estrelas que eu não vejo
mar que não há
força que eu não tenho

 ... sonhos não me abandonem

sábado, 1 de dezembro de 2012

bukowski, estive contigo em 1983



acordar sem despertador
comer quando se tem fome
ficar á toa
namorar toda vez que der vontade
dormir quando se tem sono

todo resto é vida de funcionário
e ser funcionário é morrer a conta-gotas

terça-feira, 27 de novembro de 2012

nunca e sempre



nunca e sempre são parentes
andam juntos 
no imaginário da gente

sempre é uma figura querida
nunca ausente
na boca dos casais
na flor dos namorados
no sempre dos amantes

nunca é uma figura misteriosa
sempre presente
na boca dos casais
na flor dos namorados
no nunca dos amantes

sempre e nunca são irmãos
embora próximos
são diferentes


nunca é fácil
sempre é difícil
as coisas definitivas estão aí
a gente escolhe
para nunca e para sempre




a vida não cabe no bolso # 33



                     nunca menos sempre mais

domingo, 25 de novembro de 2012

sábado, 24 de novembro de 2012

a gente somos outros

                                                                                                                            paulo de tarso gracia



o fim da boêmia
cristal partido
milionésima vez no paraíso
andar em frente

olhar com olhos de se me quer
e pousar no ar
dessas coisas que já não estão
não procuro mais
o lado bom
daquele disco
e inventar coisas
sofrer sem motivo

multiplicidade
as ruas estão cheias de gente convicta
se divertindo
estou sem meus sunglasses
sem graça
tempo obscuro
assim fica difícil
consultar no copo de vidro
entender o passado

daquele disco riscado
ficou o grito 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

tristeza



aquela tristeza incrivel
jovem bonita cabelos voando ao vento
aquela tristeza
roupas marrons pasta do escritório
tristeza
não sorriu

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

a vida não cabe no bolso #32


                                                                                                                                      dan witz

a fidelidade ao arroz com feijão
é o que distingue
o funcionário  do artista

poli

                                                                                                            paulo de tarso gracia



os céus
as gentes
os deuses

terça-feira, 20 de novembro de 2012

encontro com famosos # 10 kabenguele munanga



Estava na USP.

O curso: Introdução a História de África.

Escutava os grilos na grama do lado de fora da sala, discutia com os grilos da minha cabeça, ouvíamos o professor Kabenguele sussurrar, lembrar da aldeia no Congo...

João do Congo









Estávamos eu e minha irmãzinha despreocupados na viagem, olhando a paisagem e sentindo a brisa, as flores  e os bichinhos e todos sabores da manhã ensolarada.

Seu João do Congo fez parar a charrete.

Olhou para nós e segurando nossas mãozinhas disse:

-Daqui pra frente vocês vão sozinhos...

-Mas, seu João...

Eu ia dizer, mas ele não me deixou dizer meu medo.
- o Caminho é reto, a charrete vai indo!

Seu João do Congo foi embora, mas eu nunca vou sozinho




domingo, 18 de novembro de 2012

foi nos dito # 1



foi nos dito:
essa cordilheira, esse mar de prédios, a vista do Altino
isso é lindo.

meus olhos não vem isso.


sábado, 17 de novembro de 2012

mas não ouves meu grito?


                                                                                                                       foto: paulo de tarso gracia


não houve nada disso
sem luta
meu coração flutua
andorinha estilhaçada
em mil chuviscos de pena
que não valem a escrita

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

memória da água




Eu quero essa outra coisa que está na água.

Eu tenho a memória do meu afogamento.

Água que vai embora.

Substância  a que devoto especial atenção, não por sua composição físico-química, nem pela clara ligação com aquilo que flui, ou pela transparência, ou pela liquidez redundante, ou por tudo isso, ou por nada disso, mas por que não sou de água.

Então por oposição, pelo deleite de querer o antagônico, pela minha inflexibilidade.

Pela nau fantasma e os chatos do navio com as facas nos dentes, pela caneca usada para evitar o transbordo, pelo esporte náutico, pela solidão da menina contando os ladrilhos no fundo da piscina, pela espera da maré propicia, pelo mar revolto como o cabelo da minha amada, por isso tudo e mais por aquele que andou sobre as águas, pelo gosto daquele beijo salgado, pela triste chegada dos ancestrais napolitanos, por tudo aquilo que eu já fui, pelo o que eu não sou, pela mudança que eu quero ser.

Pelo farol do fim do mundo.

Eu quero a solidez dessa coisa, esse vapor, eu quero essa outra coisa que está na água, em seu principio, em sua possibilidade , em sua alquimia.

Eu quero navegar, ver o mar mais uma vez.

Como será que é a neve?

Por essa condição de transitoriedade, por cima de tudo isso
eu quero a água





quinta-feira, 15 de novembro de 2012

dia da república

                                                                                                   foto paulo de tarso gracia


aula de história no feriado:

em memória da nossa brava gente , que tanto lutou pela República, que derramou o sangue em favor das ideias e ideais magnânimos, aos herois fundadores da pátria que souberam, na luta e pela luta, construir essa grande obra civilizatória, a nova Roma, a nova Atenas, a patriamada!

em memória dos heróis fundadores da ditacuja mãe gentil, da união das três raças, ao pacto firmado de fazer cumprir os ideias constituintes, eternamente lembrados, forjados no sangue da luta popular!

o meu louvor, o meu canto de guerra:

- SKINDO, SKINDO LELÊ!!!

E e é isso que se vê brava gente, o povo brincando e cantando nas ruas, nessa festa incontida, lembrando os heróis, recitando a  constituição, a Carta Magna digníssima, cultuado nossa linda história!

... as estradas cheias, passeio no supermercado, lavar o carro, etc.


 - como é mesmo o hino? Acho tão bonito!







Presta atenção:



                                                                                                                      foto: paulo de tarso gracia



O mundo não é dividido entre PT E PSDB, no fundo a mesma merda.
Presta atenção:
as pessoas estão sendo assassinadas na periferia de São Paulo por esquadrões da morte, numa loteria.
Presta atenção:
As pessoas responsáveis pela Educação de São Paulo, não tem a menor noção do que ocorre numa sala de aula, onde não existe educação, nem ensino, só violência e neurose.
Presta atenção:
Saúde não é hospital, é alimentação, atividade física, e paz de espírito.
Presta atenção:
as penas do mensalão não farão acabar a corrupção no Bananão.
Presta atenção o nível de criminalidade da polícia é acima do alerta vermelho.
Presta atenção:
a violência não existe exclusivamente pela desigualdade social, a maldade é coisa que existe.
Presta atenção: mil economistas para cada poeta.
Presta a atenção:
intolerância religiosa causa mais mortes que qualquer outra coisa.
Presta atenção: 
Gaia vai sobreviver, a gente não
Presta atenção:
a natureza acabou.
Presta atenção:
o PIG  existe.
Presta atenção:
o GAFE( globo, abril, folha, estadão) opera no nível distração e convencimento, na manutenção da ordem, que na verdade é a desordem e o caos.
Presta atenção:
a vida está morrendo.
Presta atenção:
os arautos do apocalipse talvez não estejam de todo errado
Presta atenção:
as igrejas neopentecostais promovem a intolerância e uma visão de mundo retrógrada e fatalista.
Presta atenção:
futebol já era.
Presta atenção:
escola de samba já era.
Presta atenção:
o Brasil não deu certo.

Ninguém presta atenção em nada, as crianças continuam nascendo e eu acho que não há mais nada a fazer, tenho uma tristeza medonha, sinto um desamparo profundo, não há palavra, não há sorriso, nada pode contra isso


Presta atenção: 
ainda não acabou.



o problema da felicidade

                                                                                                                           foto: paulo de tarso gracia

O problema da gerência da felicidade; o problema da gestão da felicidade; o problema da gestação da felicidade...

Permaneçamos infelizes então.

Não.

Deixemos de lado o "problema" da felicidade, ou o modo de encará-lo: "gerência", 'gestão", "gestação", são termos emprestados do departamento comercial, onde, evidentemente, não mora a felicidade.

Não se trata de obra de engenharia, de peça de marketing. Felicidade não fica em departamento, nem em obra.

A felicidade mora na filosofia, e, também, na sabedoria popular.

Eu tenho minha fórmula:

Sêneca e soneca
menos trabalho e mais poesia
Fazer amor a tarde
e todo dia.
Vento, sol, chuva, banho de lua
cachoeira, fogueira
fruta no pé
longas caminhadas madrugada adentro
menos correria
Menos orgulho, mais fantasia
rir de si mesmo
fazer batucada
não fazer cobranças
não esperar reconhecimento
ler um livro todo dia
e de manhã ao acordar 
dizer:
Bom Dia!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

nós não somos pássaros



Para onde vão os passarinhos quando chove?

Estarão de volta para os ninhos?

Sem cantar e sem voar a que atividade dedicam-se?

Como dormem, com o que sonham?

Por que cantam? Por que voam?

Para onde vão os passarinhos quando morrem?

a vida não cabe no bolso # 31





a cor do impossível da vida
matizes inclassificáveis
tons e semitons
nuances
o olho engana

acordo impossível com a vida
nunca sair dela
chega de altos e baixos
não mais armadilhas
o coração não aguenta

acordo impossível para a vida
chega de drama
ou vai ou racha
agora ou nunca
minha alma exige

terça-feira, 13 de novembro de 2012

it's perfect day # 2




das criaturas perdidas procurando retos caminhos
das faces sombrias que escondem sorrisos
dos rostos pintados nos ônibus em movimento
das mensagens ocultas nos lábios entreabertos
das boas notícias conversadas nas calçadas
da ousadia das velhas ideias
da energia da juventude esperta
da música erudita
dos amores impossíveis
dos dedos suaves dos pianistas  
do cheiro de mato
da epidemia de felicidade
do verdadeiro sentido religioso
da magia da boa vontade
da alegria de ver os outros acertarem
do compasso dos passos dos namorados
das loucuras da paixão
do entendimento
das longas caminhadas
das conversas inadiáveis nos celulares
das poças dágua que refletem você
da beleza que  vale a pena
da seriedade das crianças
do absoluto absurdo da vida
do irrefreável otimismo
do encontro de sentido
da solidariedade suprema
do intergalático entendimento
do impossível momento
do próximo passo em direção ao céu
da espera comovente da próxima bala
do eterno momento
de todas as milhões de flores nas calçadas
do passeio indolentes dos cães de muita idade 
do rejuvenecimento no espelho
da lentidão da leitura de uma mesma passagem num livro
do almoço fraternal dos domingos
da surpresa de tudo isso
da força de desejar um dia melhor amanhã
da esperança que assim seja o último dia

it's a perfect day # 1



das criaturas perdidas seguindo retos caminhos
das faces sombrias que não esboçam sorrisos
das fantasias pintadas nos ônibus em movimento
das mensagensn ocultas nos lábios cerrados
das notícias plantadas na mídia vendida
da tirania das velhas ideias
da boçalidade da juventude careta
da música alta
dos preços impossíveis
da falta de tato
do cheiro fétido
da epidemia de autismo
do fanatismo religioso
da ausência de boa vontade
da alegria de ver os outros cometerem erros
do descompasso
do desamor
do desentendimento
do trânsito insuportável intransitável
das conversas banais nos celulares
das poças dágua nas vias esburacadas
da beleza que não vale a pena
da sisudez imposta dos idiotas
do absoluto absurdo
do irrefreável pessimismo
da falta de sentido
da miséria suprema
do intergalático sofrimento
do impossível momento
do próximo passo no patíbulo
da espera comovente da próxima bala
do eterno momento
de todas as milhões de bitucas de cigarro nas calçadas
das toneladas de bosta nas calçadas
do não reconhecimento no espelho
da lentidão de um segundo na internet
do engolimento do almoço
da repetição demoníaca de tudo isso
da falta de força de mandar tudo as favas
da esperança que esse seja o último dia