terça-feira, 28 de janeiro de 2014

a vitória da mediocridade



A mediocridade sempre vence. E o poder do medo, e da culpa... triunfa.
O engano é pensar que eu, e você, conseguiremos sozinhos, ou em duplas, escapar dessa maldição. 
Não há saída.
O destino do Brasil é a maioria crente.
  Eu só tenho a dúvida

chuva de sapos



fenômeno usual a chuva de sapos ocorre com uma frequência irregular, porém constante. Numerosos relatos foram registrados nos últimos decênios. 
Raridade é chover na minha horta.

domingo, 26 de janeiro de 2014

a vida não cabe no bolso # 387



podemos poder

aqui


o mundo anda
a fila anda
o livro anda
a lua anda
só eu e você estamos parados aqui

sem perder a ternura



amar

fluir

fruir

envelhecer

refletir

anoitecer

canção de pirata



continuarei a vagar, como um fantasma sem navio.
sem descanso, sem paz de espírito, sem desejo de guarida.
não busco porto, nem bote, colete salva-vidas, sequer busco um pavio.
continuo a vagar, sem busca de descanso, sem pranto, sem esperança de ermida.
vago pela vida sem resistência de nenhum obstáculo, sem porta fechada, sem trinco.
nada me detém, meu coração é ateu, sem dono, não tenho coleira e tudo mais será de ninguém.
vagando sem destino, sem pressa, nem objetivo

vagando eu vou, e assobio uma canção de pirata, essa que ora envio.

sábado, 25 de janeiro de 2014

amar São Paulo



amar ultrapassa a razão
amar São Paulo ultrapassa qualquer razão
São Paulo ultrapassa meu coração

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

é um fato conhecido




é um fato  conhecido, disse a menina do ônibus, não sorrindo, que o caldo de carne deixado no copo por alguns dias, fica turvo, malcheiroso e que nele se desenvolvem micro-organismos.
é um fato conhecido, dizia ela, quase sorrindo,  que em diversas cidades o valor da voltagem fornecida as residencias é de 220.
é um fato conhecido, disse ela, me distraindo, que depois do sábado vem o domingo.
é um fato conhecido, quase eu disse a ela, quase te vi sorrindo.
é uma fato conhecido, ela concordou comigo, eu vi jesus uma vez, mas ele estava saindo.
é um fato conhecido, nós dissemos em uníssono, não há ninguém parecido comigo.
é um fato conhecido, eu tentei dizer a ela, acho que a a paixão aconteceu, eu não estou mais sozinho.
é um fato conhecido,todos nós sabemos, como a gente se engana, quando pensa que está apaixonado, acaba falando e pensando bobagens e passa a viver em desatino.
é um fato conhecido, as viagens de ônibus duram ás vezes mais tempo que merecemos, a gente conhece pessoas, passa a crer  nas palavras, criando climas onde não há, escutando clichês como fossem coisas lindas.
é um fato conhecido, finda a paixão, acabado o sonho, cada qual seguindo seu destino, terminar a noite assim sozinho

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

pra quem não sabe o que é o amor




ela disse :

 - eu vou fazer xixi.

eu parei tudo que estava fazendo para ouvir o barulho:

- shhshishihsihiss.

eu ouvi em silêncio.

E quando ela saiu do banheiro quase tropeçou em mim, que estava deitado no chão. Então ela fez uma careta, mostrando a língua  e ficando vesga .

Então eu virei o rosto de lado, pra ela não ver me ver chorar.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

a vida não cabe no bolso # 386



aquilo que me cala mais fundo
é o que ne fala mais alto

a vida não cabe no bolso # 395



thc é o maior barato

meu ateísmo



o meu ateísmo dura até a dor de dente,  o da maioria dura até ouvir o barulhinho da máquina do dentista. poucos ateus aguentam uma extração de dente do siso sem anestesia.

o meu ateísmo dura duzentos metros, a distância da minha casa até a catedral da do bixiga; o de muitos dura até a primeira esquina, o primeiro encontro com o estranho, o esquisito, um fantasma.
poucos ateus suportam uma vida inteira de caminhada sem companhia.

meu ateísmo dura até o primeiro movimento, lento e largo, da sinfonia número 3 de Gorecki; o de muitos ateus dura no máximo até o funk barulhento atrapalhar a novela das 9.
poucos ateus suportam uma vida inteira sem música, sem som e repleta de nostalgia e solidão.

meu ateísmo dura até o primeiro por do sol, o da maioria dura até o breu total.
poucos ateus mantem a ingenuidade.

meu ateísmo dura até a primeira barra, impossível de segurar sozinho.
meu ateísmo dura até hora do amar, hora minha, dividida  e multiplicada, com ela, só minha.
meu ateísmo dura até a singeleza dos versos que não me deixam sozinho.
meu ateísmo dura ate o voo do sábia, até a flor deixada no chão, até a palavra que me cala, e faz-me falar.
meu ateísmo dura até a incompreensão de tudo isso.
meu ateísmo dura até a emissão do acaso, do encontro fortuito, da ausência absoluta, do todo superlativo, de saber-se só, singularmente só.
meu ateísmo dura até a primeira gota de chuva nesse fim de tarde.
meu ateísmo dura um segundo, o primeiro ficou sozinho.  a maioria dos ateus segura a barra até o encontro com a morte.
poucos ateus suportam a barra de, sabendo-se um ponto de luz isolado, cercado de sombras eternas num mundo sem sentido, sem voz, sem destino, cheios de dor e fastio, continuam a continuar, mantendo-se, sabe-se Deus lá como, vivos.

naves espaciais formando cadeias de átomos de carbono



as naves espaciais moveram-se em intrincada coreografia representando estruturas orgânicas, cadeias de átomos ligadas umas as outras, que diziam: somos vida!

a vida não cabe no bolso # 384



as palavras que me calam 

são as que mais precisam ser ditas

subi o morro, subi cansado



essas novas atenas, esse velho cruzeiro, esse morro velho, essas crianças morrendo. 
e eu de costas pra esse mundo inteiro.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

love me do



rosa choque no céu
amores em colisão 
o amor sangra

lost child

                                                                                                                                             sakamoto

para um náufrago 
um palito de fosforo não tem validade
para um cego 
um palito de fosforo não tem validade
embora náufrago
embora cego
em ti me apego

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

sorriso escancarado.



sorriso escancarado.

vem vento violento, vem.

sobriedade irmãos




sobriedade irmãos
a parte a miséria
a parte a sofreguidão
o desejo de amar

não nos abandona

um pouco de paz

nós merecemos
mais,
precisamos de paz

intervalo urgente
para nossa convalescença

um retiro sabático
um minuto conosco
intervalo do dia
para consumar a noite

a pobreza descobre com seu manto
a artificialidade e a complicação
as estrelas promovem o sorriso
e as flores
as flores estão todas por aí

a vida não cabe no bolso # 383



consuma o amor

dança



vem
tuas mãos ainda estão aqui
volta
tuas mãos ainda estão aqui
fica
tuas mãos ainda estão aqui

nossa dança
as minhas juntas com as tuas
para nunca dizer adeus

domingo, 19 de janeiro de 2014

tenho um livro á minha espera.



tenho um livro á minha espera.
além desse livro, tenho outros livros à minha espera.
muitos desses livros estão nas estantes, nas minhas estantes, e outros em outras estantes, de outras bibliotecas.
muitos desses livros ainda não tem título, tema, ou personagens; alguns deles esperam tradução, outros  ainda não foram sequer escritos.
sou eu quem espera o livro, ou é o livro que me espera?

sábado, 18 de janeiro de 2014

minha terra



minha terra não tem terra
só cimento
e quando tem, tem é desabamento
e no fio de alta tensão canta um sábia.
a insistência do canto
às quatro da manhã
é irritante
e faz com que todos pensem eu união,
maldito sábia
vá cantar em outro lugar!

a vida não cabe no bolso # 382


sorricidio

o outro



o outro é eu mesmo
em outro endereço.

o outro sou eu na janela
eu vejo
o outro, no reflexo
com menos apreço.

o outro está nu
diante do espelho.

o outro está ao meu lado 
mas está errado, não tem jeito.

o outro do meu lado,
mas sempre enganado.

o outro, esse outro,
já me deu no saco,
o outro, ás vezes sou outro
embora, ele esteja aqui dentro.

o outro cingido
vestido de preto
o outro no Carnaval
e eu aqui no eito.

o outro, aquele outro
com quem não pareço.

o outro, sempre o outro
cindido, dividido, multiplicado
sempre me fudendo.

o outro entre mim e o outro
uma ponte de tédio, recomeço.

o outro, e mais aquele outro
de volta pro começo
o outro, é, sou eu mesmo.

a vida não cabe no bolso # 381



não está no gen, está na dor

pózinho



Domingo. Uma linha
Seis horas de la matina.Outra linha.
Parede branca. Outra linha.
Meu cotovelo está inchado. Outra linha.
O armário está desarrumado. Outra linha.
Música de trem. Outra linha.
Cinco minutos. Mais uma linha.

Por isso que eu não cheiro mais pózinho.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

encontro dos gametas



todos convidados
para o encontro dos gametas
solicite o seu ingresso via correio

a vida não cabe no bolso # 280



reprodução assexuada não tá com nada

supermarket



o prazer está a venda
o amor está a venda
a dor está a venda
a culpa está a venda
o testamento está a venda
o corpo está a venda
o sorriso está a venda
a companhia está a venda
a lágrima está a venda
o lazer está a venda
a prosperidade está a venda
a cura está a venda
a cultura está a venda
o silêncio está a venda
o gozo está a venda
a ordem está a venda
o carinho está a venda

preço justo
atendimento adequado
agradecemos a preferência

essa não é a vida que eu quero



essa não é a vida que eu quero
respiração reprodução movimento
tampouco aquela outra, a do outro
respiração reprodução movimento
a vida do pássaro do bicho da planta da bactéria do vírus
respiração reprodução movimento

mas o fogo
mas a terra
mas o mar
mas o vento 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

conjugação do verbo enganar sem nenhum engano


eu me engano
tu te enganas
nós nos enganamos.


tudo o que não me diz respeito



tudo o que não me diz respeito, é suspeito.
o silêncio
tudo o que não me diz respeito, eu desrespeito.
o silêncio.
tudo o que não me diz respeito, ficou ali, marcado no meu peito.
o silêncio
tudo o que não me diz respeito, alguma hora vai ser meu, por direito
o silêncio.
tudo o que não me diz respeito, por supuesto.
o silêncio
tudo o que não me diz respeito, é aquilo, descubro, que me cala mais fundo, interrompe o fluxo, me pegou direito.
o silêncio
tudo o que não me diz respeito, outra vez
o silêncio
tudo o que não me diz respeito, assim, uma nuvem passou, eu nunca fui do mesmo jeito

a favor de alguém


tem alguns filmes que eu preciso ver,
a menina disse

é muito bom saber que o tempo está a favor alguém.

sábado, 4 de janeiro de 2014

sagitário



comprei um colar que tem uma seta. agora só falta um alvo

não entendo muto a vida


a gente deixa frutas, vaso com água, tudo ajeitadinho. espera colibris e aparece essa pomba doente fudendo tudo.

devo contentar-me?



devo contentar-me com a via láctea, imensa, eu fora e dentro dela, um caminho no céu, tão longa essa estrada., tão grande o céu. milhões de estrelas quase todas com nomes, quantas delas já mortas?
devo contentar-me com  os pássaros em revoada? o bando de maritacas brincando sem parar, o voo tranquilíssimo dos urubus?
devo contentar-me com o cheiro do pão no começo da manhã, o azeite regando tudo? o limão siciliano, o alho poró, as caldas de caramelo? Com a ambrosia?
devo contentar-me com o futebol dos cegos, a discussão dos surdos, o amor dos aleijados?
devo contentar-me com a mãozinha da filha segurando a mão do papai?
devo contentar-me?
devo contentar-me com as flores que crescem sozinhas nas beiras dos caminhos?
devo contentar-me com o gosto da neve?
devo contentar-me em subir na montanha e suspirar?
devo contentar-me com a leitura de Shakespeare? o primeiro movimento da Nona de Beethoven? o dedo de Michelângelo
devo contentar-me, e sorrir?


contos e fadas



dez contos no bolso e nenhuma fada
não tenho escolha quando se trata de demônios
nove contos no bolso e a fada?
muita tristeza pela horda que precisa de alegria
oito contos no bolso e esqueci da fada
fumando cigarros em lanchonetes vagabundas
sete contos no bolso não dá pra nenhuma fada
a vida não é um salpicar de estrelas
seis contos no bolso e ela distraída pousou no meu abraço
a seda , o barulhos dela no seu corpo, oh baby, oh
cinco contos no bolso e tudo em volta explodindo, leves penas
difícil olhar de verdade no fundo dos olhos de alguém, só de você.
quatro contos no bolso e ela sumiu
o casamento é somente um negócio entre as famílias de bem
três contos  no bolso, ela abraçada em mim
os bichos estão a solta, dando voltas antes de poder voltar ao jardim
dois contos no bolso e ela já está quase  louca, uma devota do limão siciliano
bom dia asas, bom dia antepastos italianos, bom dia menina com a flor, bom dia cãezinhos, bom dia malas que viajam sozinhas
um conto e a fada?
bem, todos sabemos o que fazemos com elas





sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

enquanto



enquanto você me estelar
enquanto você me aquarelar
enquanto você me degelar
enquanto você me abrasar
enquanto você me codificar
enquanto você me barbarizar
enquanto você me embriagar
enquanto você me levar
enquanto você me ocupar
enquanto você me siderar
enquanto você me prosperar
enquanto você me elevar
enquanto você me plantar
enquanto você me relevar
enquanto você me principiar
enquanto você me navegar
enquanto você me pulsar
enquanto você me mineralizar
enquanto você me acelerar
enquanto você me multiplicar
enquanto você me revelar
enquanto você me aconsoantar
enquanto você me cambiar
enquanto você me instigar
enquanto você me autenticar
enquanto você me fasquiar
enquanto você me corporificar
enquanto você me ampliar
enquanto você me desabrochar
enquanto você me ionizar
enquanto você me amorenar
enquanto você me coabitar
enquanto você me novelar
enquanto você me improvisar
enquanto você me capturar
enquanto você me liquidificar
enquanto você me ocupar
enquanto você me chamar
enquanto você me inquietar
enquanto você me desassombrar
enquanto você me miracular
enquanto você me insuflar
enquanto você me codificar
enquanto você me pescar
enquanto você me madurar
enquanto você me desatinar
enquanto você me regenerar
enquanto você me quadruplicar
enquanto você me solidarizar
enquanto você me posterizar
enquanto você me tarar
enquanto você me sacar
enquanto você me revolucionar
enquanto você me preparar
enquanto você me tourear
enquanto você me rodopiar
enquanto você me sarar
enquanto você me polinizar
enquanto você me esparramar
enquanto você me fagulhar
enquanto você me ombrear
enquanto você me pratear
enquanto você me fulgurar
enquanto você me desencodear
enquanto você me intrigar
enquanto você me ladrilhar
enquanto você me nenúfar
enquanto você me engrenar
enquanto você me pandegar
enquanto você me impactar
enquanto você me permear
enquanto você me guardar
enquanto você me questionar
enquanto você me gamar
enquanto você me reconquistar
enquanto você me radar
enquanto você me desregrar
enquanto você me ligar
enquanto você me inundar
enquanto você me mastigar
enquanto você me reabitar
enquanto você me narcotizar
enquanto você me nidificar
enquanto você me oscar
enquanto você me entrar
enquanto você me pautar
enquanto você me temperar
enquanto você me saltar
enquanto você me reavivar
enquanto você me recapturar
enquanto você me semear
enquanto você me preservar
enquanto você me cultivar
enquanto você me pacificar
enquanto você me amar
enquanto você me namorar
enquanto você me lambuzar
enquanto você me ar
durará o enquanto

a vida não cabe no bolso # 94



enquanto você me elevar eu vou

mensagem # 6


tem alguns filmes que eu preciso ver,
a menina disse

é muito bom saber que o tempo está a favor alguém.

Curviana



Da minha solteirice não tenho saudade. Das madrugadas aflitas, da putaria, da bebida e de nenhuma droga, não tenho saudade.
Tenho saudade somente da Curviana.
Saudade da Curviana soprando nas esquinas do meu Bixiga.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

tipos inesquecíveis # 1 - Arcati Saavedra


Logo no início de nossa conversa Arcati Saavedra, convidou a mim para que fosse ao restaurante dele, e disse que eu poderia levar mais dois convidados.
Esse senhor apareceu no Serguei , isso em algum dia de junho de 2003. Estava acompanhado de uma mulher escura de feições ofídicas, que eu logo chamei de Ferrerinha.
Ofereci um café a esse senhor, que aceitou oferecendo-o em seguida a acompanhante, fazendo com  que dessa forma, eu lhe servisse novamente.
Ele estava, sabe-se lá por qual  motivo no meu ambiente de trabalho. Mesmo sentado, era um homem grande. Forte, mas um velho. Ele tinha longas pernas ossudas, cobertas por uma calça de tergal. Tinha um cabeça ossuda igualmente, com os cabelos besuntados de vaselina. Fumando um cigarro sem filtro, parecia um cavalheiro saindo de algum antigamente.
Perguntei de seus pés leves de dança e de seus gosto pelas morenas de cabelo bom, prazeres compartilhados.
Abrindo o peito ele revelou ter sido do Estado-Maior. Falou que eu teria com ele muito a aprender.
De fato.
Continuei o meu colóquio com minha fatal pergunta: Sobrenome?
Ele apresentou-se como Saavedra.
Eu redargui: O do Don Quixote? 
- Ele é o meu tio, respondeu o velho homem.
Comentou alguns fato da cavalaria, acrescentando às aventuras do Tio, aventuras do pai que teria vindo ao Brasil de forma muito rocambolesca, iniciando a viagem na Espanha e rodando até a França de cavalo, coisa de 200 km.
Fomos interrompidos pelo trabalho, que clamava por mim.
Ferrerinha (agora lembro-me, trabalhava com a gente)  depois de horas  perguntou se eu havia percebido que ele era alcoolatra.
Não percebi. Nem isso, nem muito  mais coisa, assim eu suponho.

sem tradução


não há tradução possível para o nosso beijo.
que outras línguas poderão sabê-lo?

a puta da vida


estamos enfim
a espera de alguma coisa que não sabemos o que é

um beijo 
e depois a espera de outro beijo

um jogo após o outro
até a final do campeonato
e mas tarde
outro campeonato

sonhar e no final do sonho
o outro dia 
mais um dia de trabalho

estamos a espera
de alguma coisa que não sabemos exatamente o que seja
e não há ninguém
ninguém que possa dizer o que seja isso






"as coisas"



não as "coisas"
se não elas passariam a sê-las.

não as "coisas"
separadas entre elas
mas sim as relações entre elas.

não as velhas coisas
elencos de coisas
numerário de coisas
não as "coisas" como coisas.

as "coisas" não são coisas
as "coisas" não podem ser separadas em regiões departamentos favelas
separadas de outras "coisas"
classificadas como
rotuladas e predestinadas como coisas

O nome correto das "coisas"
o verdadeiro sentido e destino delas
se não as "coisas" tornam-se coisas 
passam a ser temidas ou adoradas como coisas
se apresentam e se escondem como coisas
e deixam de ser gente
pessoas
entes
seres humanos
dignas e respeito
e amor