quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

o quadro com 120 anos





não consigo escutar o silêncio do quadro
ouço gritos desesperados
mensagens em garrafas
sedentas para serem decifradas
o que eu vejo
é diverso do que foi pintado
eu vejo outra paisagem
com os olhos de todos que já a olharam



a presença da tua ausência

então fica assim
a presença da tua ausência

no lugar vago da mesa
no cinzeiro vazio
na metade do copo
no fim da boêmia

se eu posso amar o cambuci

porque sou capaz de amar o cambuci
sou capaz de amar qualquer coisa aqui

e arde como pimenta
meu estômago não aguenta 
vê se atenta
o sexo desengonçado dos travestis
acho que alguma coisa esbarrou em mim

nessa cidade,
não, não é nossa cidade,
pra pegar um ritmo
uma cor
respirar 
é preciso estar muito afins
para ficar aqui é preciso
ouvir uma voz muito distante
que diz
Stay
numa dessas tanta línguas
que gritam por aí e nunca beijam ninguém
duzentas e treze línguas sem se entender entre si
e nenhuma pede pra eu ficar 

há trinta anos o lugar mais longe que 
eu tinha ido era o cambuci
e não gostei nada do que vi
as ruas são banheiros
e não há bancos nas praças
e não há sol
e não há lua
mas enfim
não há nada de definitivo
tudo escorrendo
em mim aqui

desculpe eu menti
mas foi isso que a cidade fez em mim

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ok, Glass










nossos sonhos vigiados


nossos desejos adivinhados

nossos delírios comentados

nossos pensamentos copiados

nosso amor devassado






aquela história de agulha e linha




fuxique-se
tricoteie-se
costure-se
invente-se em novo patchwork

renda-se


saia da linha
entre na minha

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

a Bela Vista não é para os fracos # 1

Em 1974 eu e minha turma da 9 de julho brincávamos na rua Santo Antônio num terreno baldio, ao lado onde nos 80 teria um bar chamado Chopp Haus.
Brincávamos de índio, de matar gatos, usando cabos de vassoura. Jamais acertamos num gato. 
Numa tarde aparece um jovem.
-Querem ver como se mata um gato? Vem cá bichano, miau, miau.
O jovem paga o gato, torce o pescoço do gato e não satisfeito, pega um cabo de vassoura enfia na boca do gato, empalando-o. 

meu olho me engana



meu orgulho me engana, minha fome me engana, eu me engana.

meu cabelo é vermelho





Achei bem loko o encontro dos ruivos aqui no Sul pleiteando 

a categoria ruivos no quesito cor do  IBGE.

Meu pai era quase ruivo.


-  Meu cabelo, pai, meu cabelo é vermelho! 

Ele não aceitava.Deixa pra lá.
...
Mas a Jessica Chastain... deixa pra lá.

artane



sobrevivemos a muitos naufrágios

Claudio Cavalcanti




Claudio Cavalcanti, intrigante,um ator diferenciado  presença na tela  causando 'estranhamento". 
Extraordinário.
Fez aniversário esses dias. Sumiu da mídia, e não era pra
menos.
Ele é do tempo que atores eram atores e etc.
O Cláudio faleceu.e nem assim teve destaque... Defendia os animais, era espiríta, um ser humano de verdade.
Meu amigo Claudio escreveu o livro Coelhos de Serragem
desses livros que eu pago 50 centavos e são jóias de valor
incalculável. No livro, que são fragmentos, pensamentos de
quem tem pensamentos, vida amorosa, essência, filosofia, encontrei uma das maiores sacadas, sobre o significado de toda correria, sobre o vazio da vida, e sobre a gente se enganar sobre o vazio da vida. O livro é ótimo e resgatou, ou colocou no lugar aquele estranhamento, o Claúdio é mais que quase todos os atores, ele supera o galã, ele é o cara da esquerda. Ele tem muitos pedaços, e o livro é cheio de pequenas jóias, boas sacadas, fragmentos. 
Aqui o texto que dá título ao filme e me levou pra um pedaço grande da vida:
" os ratinhos aprendem, a custa de muito sofrimento a
 procurar comida atrás da porta branca... até que um dia a
 porta abre e a comida não está lá."
Ponto..
"Vocês já viram corridas de cachorro, daquelas que o
 cachorro corre desesperadamente atrás do coelho de
 serragem... finalmente o impossível ia acontecer; um
 cachorro ia alcançar o cachorro mecânico... e mordeu 
antegozando o sabor de carne, de vitória. E sentiu o gosto 
de serragem... e teve que ser sacrificado, pois que 
enlouqueceu."
Quantos coelhos de serragem na sua vida?"e agora Mauricio Miele ?

Dario e Tostão



Dadá e Tusta, o grosso e o fino.
 
Se o Sócrates não tivesse existido o Tostão seria o único 


doutor e também o centroavante mais fino de todos  (penso 

que o Sócrates deveria ter sido o centroavante em 82...)

O Dario é o rei Dadá, filósofo, prometia e cumpria 


completo." Não existe gol feio." "Eu sou a solucionática" e 

etc.

O Tostão é o mineirinho de ouro, o filósofo, o cara que fez


 a análise da tabelinha:" comunicação dialógica"

Dois ídolos do tempo que jogador de futebol era jogador de 


futebol

Led Zeppelin, minha segunda banda favorita



esse balão me põe no ar

cair e levantar





Eu não sou muito sensível, mas essa queda me fez mais

humano, sofri e chorei com isso.

Esse filme foi o que eu mais amei ultimamente.E ela é a


dureza das ruas e, cair e levantar.

A melhor cena do cinema dos últimos 123 filmes:


O cara, de trinta anos, fudidaço, acordando os pais, falando


do livro do Hemingway:

"A VIDA É UMA MERDA, VOCÊ LÊ UM LIVRO E , NO FINAL DO 


LIVRO  NÃO DÁ NADA CERTO ! QUEM FOI O FILHA DA PUTA 

QUE ESCREVEU ISSO?

E joga o livro pela janela.

Cair e levantar, muito humano

o tempo que eu estou hoje




Em 1984 eu conheci a casa de todas as casas, a Love Story. Onde eu escutei essa música: i can't get  sleep, bem a calhar no navio encalhado da minha vida onde então eu 
estava.
Um maranhense me levou ao Love Story. Esse maranhense 
andava com o Pedro  que comia a sicrana, que era minha
vizinha e eu tirei do  beco da Pompéia - onde ela estava 
tomando baque de sal de anfetamina com o Chocolate. O 
Chocolate era uma figura popular da rua Vergueiro, conheci em 1977, e andava com o filho da Leny Eversong, que enfim era uma figura única na canção brasileira, 8 temporadas em Las Vegas...
Vegas é uma casa na rua Augusta, que foi um puteiro, onde
eu estive também nos anos 80. Nunca mais eu vou voltar ao 
Love Story, e do Vegas eu não sou desse tempo. 
O tempo que eu estou é esse do meu amigo Keith, que vem
a ser hoje, uma ponte para o infinito, tempo fora do relógio e de qualquer escala. Arte que não faz dormir. Sem sal de anfetamina.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

segunda-feira



Impressionante como o calendário é cheio de segundas-feiras...
Mas sou tão bom em fazer nada e tenho todo o tempo que quiser pra cuidar da vida, que isso é apenas um comentário.
Hoje é só mais um número na folhinha.Minha folhinha, aquela onde vejo em que dia estou, aquela que mostra que hoje é  o dia tal e é domingo, é uma de casais enamorados, gente caminhando de mãos dadas, beira da praia, linha do mar, aqueles calendários onde todo mundo sorri, onde todo mundo sorri.
Hoje está um dia tão lindo, ensolarado, realmente é um desperdício ficar chateado. Embora seja o dia tal, que é uma segunda-feira.
A britadeira não é a melhor trilha sonora, mas encontrei tantas coisas bonitas, novas para ouvir, e o eco de nossas conversas em off, linguagens codificadas, memórias do futuro " andar de mãos  dadas, beira do mar, linha da praia", está aqui.
(Distraído reparo, colado no meu tênis, um capim do jardim de ontem, lembrança de nossa dança na chuva.
O calendário está cheio de domingos, e isso não é nem um pouco chato.

más lembranças


tempo ruim  vá embora
não quero mais essas más lembranças
pena não existir um guarda-chuva pra memória

















sábado, 23 de fevereiro de 2013

dessas coisas enroladas



dessas coisas enroladas
blocos cheios de rabiscos
navios tão longe do mar
fios de telefone
velas sem pavio
nossas vidas a esperar



a vida não cabe no bolso # 65



a vida está por um fio
por favor não acenda o pavio

a arte e o não humano a serviço do humano




a arte e o não humano a serviço do humano

três ou quatro palavrinhas sobre o amor



o amor não cabe em mim
o amor não fica assim, assim
o amor não é quase

o amor encontra além
o amor que não cabe em si

solidão

                                                                                           paulo de tarso gracia


paralela entre os vãos
a solidão corre fixana hora exata da escuridão

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

liberdade

liberdade é quase isso:
você ao meu lado,
pra cima e pra baixo

liberdade é assim mesmo,
a gente sorrindo

liberdade,
devagarzinho

liberdade,
me pegou desprevenido
o seu suspiro

liberdade sem suspense
meio non sense
sem penar, sem pesar

liberdade ainda que não pensasse
você pintou de repente
e veio pra ficar

novembro demora a chegar






novembro demora a chegar

lá as nuvens e a chuva 


aqui o sol e o mar

toda a pressa

 
todo o sonho


toda vontade de encontrar

não existe diferença


que a distância


exerça no sonho de amar

tradução


na sua língua

a poesia

transpira

a loucura

de ver a vida nua


a vida não cabe no bolso # 64



a minha autoindulgência levou-me a falência

o meu cansaço



não há espaço pra todo mundo

no inferno
não tem lugar pra todo mundo
no céu
triste esquerda
triste direita
triste toda essa merda
adoro a inocência daquele que se chama kadiwéu,
e age imbecilmente reproduzindo tudo que há de mais 
antimoderno


o meu cansaço 

da fome do mundo

o meu cansaço
porque nem todo mundo pode ser
micro-empresário
artista visionário
nem ptodo mundo pode
questionar os meios de produção
culpar a estrutura, o pós moderno, a luta de classes
a mídia, o jornal nacional, os assassinatos sem freio

o meu cansaço
quem vai escutar minha canção?

antídoto



antes de amanhecer


durante a madrugada


no alvorecer


ao sol do meio dia



no por do sol


depois da meia noite


de manhãzinha




no fim de tarde


ás dez e dez


na madrugada


na lua vazia



em seus cabelos eu me encontro nos seus sonhos reais de 


amor e poesia

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

poder voltar pra casa



na eminência do derradeiro suspiro
no bamboleio do último trago
depois de ver um caboclo comer um copo de vidro
a um passo do cadafalso
entrei numa treta sem sentido
tomei um pau danado de um diabo
fiquei com a cabeça zonza desse cacete
pronto a ir a nocaute
a um centímetro do asfalto
bailando no precipício
pronto pra dizer "un baccio"
perdi as chaves do hospício
voltei o disco
levantei assim meio aflito
lembrei o caminho de casa !


sobre a fuga




sob fogo
subterfúgio
saindo no escuro
sem ter pra onde pular

super jugo
desejo ao cubo
o coração aos pulos
pra quem quiser pegar

sobretudo
não esconde tudo
todo desejo converge
em direção a jugular

o passeio noturno
promete mais que tudo
vontade profunda
da vampira encontrar

eu quero qualquer coisa agora




eu quero qualquer coisa
agora 
eu quero um bote
um novo golpe ninja
uma bala
o que quer que seja
quero do bolo a cereja

eu quero qualquer coisa
agora seja rápida
me dê uma mão
algum pedaço seu mulher
já chegou pra mim não dá mais pé
tenho certeza vai cair a chuva
a qualquer hora




a vida não cabe no bolso # 62


no game no play, no pain no gain, bullshit is no way. 

the way is not way

a vida não cabe no bolso # 61



o amor é aquilo que fica

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

de como as coisas não parecem o que são, e no final são terríveis mesmo. # 5


Tornando os olhos em um 360º, perscrutando todo o movimento da estação abandonada, Phillippe mal tomou conhecimento do velho Spencer, que com os olhos semicerrados seguia em transe extático fazendo leves e ritmados movimentos com os dedos como se estivesse a reger uma orquestra.

Num dos cantos junto a uma fogueirinha um imponente espécime da mais pura cepa da terra encarou-o com os olhos em brasa.

Cruzaram os olhos e Phillippe regozijou-se do fato de ter despertado do torpor que se encontrava. Quase sorriu, quase acenou, mas nenhum gesto ou esgar foi manifestado.

As vozes do casal que entrava promoveram a possibilidade de desviar o olhar daquele índio.

Otto e Gretel, João e Maria, Pedro e  Esmeralda, ou o que quer que o valha, entraram em silêncio.

Quem os visse assim, agora distantes, despreocupados, parecendo antes dois desconhecidos que por obra de algum acaso correram juntos para o mesmo lugar procurando abrigo da chuva fina, não poderia supor ou vislumbrar o número de vezes que fizeram amor nos últimos dias, a ausência de qualquer plano, conversa, discussão, debate, diálogo entre ambos; somente o amor feito e refeito inúmeras vezes.

Quem os visse em desamparo, os corpos jogados junto aos trapos em desalinho, no quarto do hotel fuleiro onde passaram os últimos dias, mal e mal se alimentando, sem sair dali para nada, fumando  e bebendo, e amando-se de verdade, sem descanso nem piedade dos corpos, esvaindo-se e esgotando-se, nunca saciados e nunca perdendo a vontade, teria até um pouco de solidariedade para com os jovens lindos e sadios, que de fato eram.

Ao vê-los entrar Spencer, levantou num pulo e batendo continência, gritou:

-Eparreia, meu pai!

E desabou novamente no chão.

Phillippe Danjou voltou para seu lugar estratégico numa das portas da velha estação abandonada e Gretel segurando na mão do jovem Otto encaminhou-se para a fogueira e o índio.



comendo o pão da preguiça






apartado do mundo workaholic
adicto convicto
dos lazeres mais baratos

dos furtos de supermercado
das grandes ideias surgidas no ato
de ver crescer o mato
da vida que não cabe no bolso
devagar como o Martinho
desse jeito vou seguindo
sorrindo




sábado, 16 de fevereiro de 2013

a vida não cabe no bolso # 56



a vida é o intervalo inútil entre duas trepadas

corações tortos



corações tortos
não existe lógica
quando se ama

caminhando



                                                                                                   arvi vivas


o caminho fazemos ao caminhar
sincopadamente
dançando
dando piruetas
navegando
metendo o pé na jaca
chutando a água da sarjeta
na ponta dos pés
arrastando a chinela
voando
pé ante pé
aos saltos
trancos e barrancos
pulando cercas
enfiando o pé na lama
escalando muros
movendo mundos e fundos
dando o primeiro passo

fora de controle e do tato




                                                                                                   bernini



a abstração elevada
á pincaros inauditos
fora de controle e do tato
nos carrega á lugares nunca vistos
ao desejo da explosão de metástases
mas o que vemos é a caminhadas de zumbis
que nunca chegarão ao fim
algo nos mantém colados
à distância dos séculos
aos vales profundos
repletos de lágrimas
secas
lugares distantes de nós dois
muito longe do sim

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

slow day




sou dado a delírios
fui á uma entrevista para a  pós na USP
antes já estava me vendo na piscina do CEPÊ
agora estou naufragado
porque também sou dado a metáforas

vida, ah vida

                                                                                                   steichen - the pond moonlight



ah! imenso fardo!

carregas em ti o sonho impossível
de liberdade
a possibilidade inatingível
da felicidade
a vontade insaciável
da abundância
a relevância inconquistável
da quietude
e  o espetáculo inacessível
da beleza

permita-me 
observar o voo pássaro
sentir a chuva cair devagarinho
ver brotar a primavera
ver a luz da lua no lago
subir a montanha
quero me enganar mais uma vez

eu rôo o osso, mas não te largo

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

se eu fosse um poeta como o Cacaso



se acaso
eu fosse um poeta como o Cacaso

simples e luminoso muito livre de rimas imbecis
por acaso você diria:

- Contigo eu caso!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

sobre quando a morte chegar

chega vida, benvinda vida, vem vida, para sempre

cê sabe o que é que eu penso?
cê sabe onde eu me acho?
cê sabe meu endereço?
cê pode ver meu embaraço?


se você vem, eu penso
se você vem, eu me acho
se você vem, eu traço
se você vem, eu te embaraço

acaso se pergunta?
acaso se perdoa?
acaso se escuta?
acaso, onde estás acaso?

assim eu me esqueço
assim eu me esborracho
assim eu nunca cresço
assim só desabafo

é um dó de peito
é um sol no laço
é um mi agudo
é sempre um se
em tudo que eu faço