quinta-feira, 28 de abril de 2016

mas e mais


não consigo entender uma pessoa que não sabe a diferença entre mais e mas, entre mais e menos, e entre a minha vida e a vida

quarta-feira, 27 de abril de 2016

mistério da vida


o mistério de um dia após o outro, não ser somente um dia após o outro.

a vida dos outros


não é porque tá tudo certinho na minha vida, que eu vou achar que tá tudo certinho na vida.

escolhi o amor

eu tenho muitos eus

minha vida e tua vida
é um jogo de montar vidas


seu sopro está no meu sopro

eu sou os outros

nossas diferenças nos igualam


fale e falhe

domingo, 24 de abril de 2016


resumo do feriado: tô 4 dias mais velho.

além




além do que se vê
muito além do que se vê
lá no além que se vê
lá fora estamos nós de verdade

a crise


mais um pouco disso
e você acaba comigo
a crise
mais um pouco daquilo
e eu tomo um chá de sumiço
a crise
mais um pouco de qualquer isso
e vamos juntos brincar no precipício
a crise
mais um monte naquilo
e acaba meu compromisso
a crise
mais um pouco diante disto
quase um cisco, terremoto, tsunami
a crise
e distante daquilo e quase perto
e apesar disto e muito distante de assim moto perpétuo eterna
a crise
e assim seja e migalhas e help me disso
e todas elas fugindo e zombando de mim
a crise
e apesar da crise e no entanto
entretanto, sempre
a crise

pode ser que eu não consiga fazer fogo, traga brasa

saudades da selva


saudade das cavernas
saudade das conversas
saudades diversas
saudades concretas
saudades abstratas
saudades fugidias
saudade de versos
saudades dos reversos
saudade da irreversibilidade
saudade da visibilidade
saudade do invisível
saudades dos verdes dias
saudades maduras
saudades de quando eu era velho
saudades de lamber os pés
saudade de lamber os teus pés
saudades da primeira vez a teus pés
saudades da internacional
saudades do falcão
saudades do bicho papão
saudades da vó conceição
saudades do dia sim dia não
saudades por que não
saudades são o meu ganha pão
saudades ainda que tardias
saudade das caravanas
saudades das savanas
saudades não as minhas
saudades da maninha
saudades crescentes
saudades descrentes
saudades saudosas
saudades sos
sempre saudades

sexta-feira, 22 de abril de 2016



ingenuidade leva ao abismo

a felicidade é insuportável

cuidado com as bordas escorregadias

e novamente eles sentiram medo e dobraram os joelhos...

não entre em pânico, nada que altere o plano está acontecendo

o morro me engana, mas eu gosto disso

coração dilata


meu coração dilata, expande
vagabundo, malandreia 
qualquer assobio me desvia do caminho

band aid


não posso nada contra tudo isso, só tenho um band aid


meio dia
mais um dia inteiro
de solidão

ferida


aspirina não resolve, 
band aid não adianta
não há o combine, não há cura
pra ferida enorme deste país de merda


liberdade,
me pegou desprevenido
o seu suspiro


entretantos
tu e eu

cada riacho é uma promessa de mar

sou da bela vista



no paraíso não há seres humanos
seres humanos são pecadores
eu, humano, vou fazer mais um pecado
porque não quero nem saber do paraiso


a letra f está sempre no mesmo lugar
antes de oda

quinta-feira, 21 de abril de 2016

do meu canto

eu posso dizer:
seguirei cantando
pois que canto

eu digo: 
seguirei cantando
assim, quieto, no meu canto

sigo cantando
surdo para muitos 
e mudo para ainda mais tantos

cantando
não sigo ninguém,
do meu canto,calado, 
insisto,canto

sem viagem não há quem se ache

o que eu sou não está no rg


o que não sou está aqui
olhos atentos, cansados
quase todos os dentes
os pés cada vez mais longe da mente
contraditório,serpente

o que estou, tão diferente
aqui estou, tanta gente
aqui eu sou, mais perto
longe, a distância seu vulto..
de tudo que me deixa contente

não estou, não possuo, não tenho
minha cidade, de todo mundo
meu corpo, aposentado pra tudo
minha cabeça a vagar
tão rápida, demente

a infâmia correndo solta
tudo a desmoronar
a infância e a adolescência
só dois ou três para abraçar
cadê toda aquela gente?

o que eu sou não está no rg
diferente de mim na foto
esfarrapado, luxuoso
diverso de mim no espelho
um outro nome, e agora
onde estão meus sonhos de ser gente?

e o medo de ser rídiculo me fez ridículo outra vez

palavras ao vento



que faça calor, mas que haja brisa
um pouco de loucura
que haja o sol, terminando esse tormento
e muita doçura.
que o momento, seja o momento.
que nunca cesse a procura
e tudo, tudo, sempre em movimento
faça o jogo virar, de novo, novo tento
e que haja luz, que haja luz,
novo advento, tudo desde o mais antigo verso
seja de novo, novo, barulho, 1500
outro descobrimento.
que antes que acabem todos os argumentos
e seja preciso nova rima, outro unguento
pra transformar a vida, em outra coisa
um mundo sem âncora, palavras ao vento

nada como a juventude


nada há como a juventude
entram no mar sem saber nadar
e voam

capturar




eu te vejo,você me vê
a gente é bem melhor 
do que a gente acha que é


a gente não se enxerga, a gente não se vê mais
a gente cada vez ama menos
o melhor que há em nós mesmos

e que o ócio fecunde e  movimente essa parada


sempre que escurece
clareia tudo pra mim

terça-feira, 19 de abril de 2016

quando


quando eu quando
assim
junto á palavra
diferente de quando
eu chego em casa
e fico pensativo, quieto
quando eu quando
gritar mais alto
algo de concreto
mais perto de quando
eu queria sair
ficar distante de qualquer gesto
quando eu quando
conjunção de libra e touro
um desequilíbrio em cima de outro
nada mais distante
quando saber que todo esforço
não daria certo
quando eu quando
perguntava
a mim mesmo
se era redundante
explicar o óbvio
tão perto do fim, correto
quando eu quando
- somente mais um esforço
estamos chegando perto -
quando em que ocasião
você disse quando
conjunção ou advérbio?

deixaram de ser pobres há 10 anos e esqueceram da pobreza

hoje é dia índio


há uma geração apenas eram índios, tem a pele vermelha, não são negros, são pardinhos, não querem ser negros e nem índios, querem ser outra coisa, sair em capas de revistas, em programas de televisão baratos
pensam não ser mais índios porque comem em pratos ou sacos de produtos industrializados, lixo, lixo, marcas, sociedade de consumo, asco.
muitos pensam não ser mais índios, esqueceram o nome das tribos, o nome das avós estupradas, o nome de qualquer erva, de qualquer folha e flor, divindade, nuvem que voa, ramo, chuva, sol, riacho
outros pensam não ser mais índios porque tem nomes americanos, outros porque tem corpos plásticos, próteses, cabelos escovados
muito pensam que deixaram de ser índios , porque não estão no meio do mato, e moram encaixotados
na selva de concreto, selva das cidades, vendem-se e vendem-se por canetas e tênis e gravatas e carros e aparelhos de ar condicionado
e bíblias e futuros no colo de algum pai, e divisas e arames farpados e títulos de propriedade e tabelas de campeonatos
e ouvem rádio
e escutam falar em outra vida, e em falências, juros altos
deixaram de ser índios de viver na floresta
de fumar cachimbo, de andar pelado
de perguntar ás estrelas, onde é que me acho?
deixam de ser índios somente para si, nunca vão deixar de ser índios pros capitães do mato

deixam de ser índios somente para si, nunca vão deixar de ser índios pros capitães do mato