sábado, 30 de setembro de 2017


minha situação
é sempre de oposição

estou agora a pensar
 em coisas que não estão na minha cabeça

de mãos dadas


de mãos dadas caminhamos
parados do mesmo modo
que nos encontramos
calados nos falamos tanto
nossos pensamentos
encontram-se em lugar algum
cartas sem destino
a falta de festa
nossa alegria em nos reconhecermo-nos
pela última vez
o Sol a brilhar uma noite inteira
enquanto tu te levantas
a noite avança
tudo tão distante
ah! os fragmentos brilhantes de nada
ardente calma
imperiosa vontade de não fazer
eu te agradeço mais uma vez
por não ser aquilo que eu esperava
outra nuvem passa
adiante, até mais ver

prometa-me enganar-se sempre

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

com o dedo no nariz


sobe a brigadeiro com o dedo enfiado no nariz.
loira (quase loira, é uma cor antiga, um castanho acobreado) os cabelos francamente oleosos, escorridos, repartidos ao meio.
na cara grande angulosa destaca-se o nariz, com o dedo indicador da mão direita enfiado nele.
- cinco mangos como vai limpar no cabelo, diz o velhote, aposentado, 42 anos de labuta no serviço público, sabe-se lá qual, mas do serviço público; a testa brilhando ao sol de quase primavera, outono mais quente que o normal, mas devemos nos acostumar, e agradecer, tudo.
- limpa na calça! limpa na calça!! rebate o chaveiro, que termina os serviços rapidamente para apostar o dia inteiro com o velhote, ou com qualquer outro que se disponha a apostar sobre qualquer coisa: a cor do próximo carro da fiat, se a placa do parque dom pedro tem final par ou impar, se a velha vai tropeçar na guia, quantas camisas do corinthians passam em dez minutos, se alguém vai chegar atrasado e dar com a porta fechada do cartório, quantos minutos o churrasqueiro demora para acender o fogo, se o menino solta da mão da mãe ao atravessar a rua, se a morena levanta a calça ao parar no ponto de ônibus, se o balconista vai trazer a cerveja assim que eles sentarem, antes mesmo de pedir, e muitos etc.O imponderável atrai muita gente, fornece adrenalina e muitas outras inas, na primavera, verão outono, inverno e etc. Porque sem o imponderável tudo é tão óbvio, que não vale uma aposta.
- limpa na calça!!! balbucia naquela torcida.
Os dois estão sentados bicando a cerveja, lá vem loira de cabelo escorrido com o dedo no nariz,,,
Bem na frente deles, aquela torcida, ela tira o dedo do nariz, arrisca, e enfia o dedo, com a caca, direto na boca.
O empate não serve a ninguém, mas sabe como é:quem não arrisca, não petisca.

vila Itororó


a vila Itororó é um castelo de areia imperecível; enquanto eu viver, ela vive.

sábado, 23 de setembro de 2017

você não entende nada


a quem não está a entender:
funique-se

vide verso


desde o primeiro segundo
sou vice
verso
sobre a inesgotável capacidade de perder

tudo azul
mas no zoom 
nosso blues

ainda bem que ainda bem; 
e não: que nem ...
porque sem,
pra mim, não convém!

enquanto tudo desmorona

lágrima vai
e tudo mais volta como onda

recomeço


minha vaidade, oh! perjúrio, infâmia que não cansa,
força que alimenta, engorda, espelho quebrado,
caminho sem reta, descanso que não almejo,
enquanto me vejo, me engano e morro, fracasso.

ah! tardes em busca de um meteorito que não preciso encontrar
mas, oh, como necessito de ti; procuro-te ainda nessa idade, morando num pequeno apartamento uns trapos como bandeira, um troço que caminha 
sinto, e continuo a sentir, o fogo da juventude em brasa
que nunca se apaga, jardim que nunca canso de voltar.
meus pés fora de compasso, mas você me acompanha
e ainda dança comigo, passo errado, pra onde eu for
preciso é seu abraço, onde enfim, tropeço acabo e recomeço:
minha vaidade, oh! perjúrio, infâmia que não cansa,
força que alimenta, engorda, espelho quebrado,
caminho sem reta, descanso que não almejo,
enquanto me vejo, me engano e morro, fracasso.

ah! tardes em busca de um meteorito que não preciso encontrar
mas, oh, como necessito de ti; procuro-te ainda nessa idade, morando num pequeno apartamento uns trapos como bandeira, um troço que caminha 
sinto, e continuo a sentir, o fogo da juventude em brasa
que nunca se apaga, jardim que nunca canso de voltar.
meus pés fora de compasso, mas você me acompanha
e ainda dança comigo, passo errado, pra onde eu for
preciso é seu abraço, onde enfim, tropeço acabo e recomeço:
recomeço:
minha vaidade, oh! perjúrio, infâmia que não cansa
força que alimenta, engorda, espelho quebrado,
caminho sem reta, descanso que não almejo
enquanto me vejo, me engano e morro, fracasso.

ah! tardes em busca de um meteorito que não preciso encontrar
mas, oh, como necessito de ti; para te achar
ainda nessa idade, morando num pequeno apartamento
uns trapos como bandeira, um troço que caminha
sinto, e continuo a sentir, o fogo da juventude em brasa
que nunca se apaga, jardim que nunca canso de voltar
meus pés fora de compasso, mas você me acompanha
e ainda dança comigo, passo errado, pra onde eu for
preciso é seu abraço, onde enfim, tropeço acabo e r
recomeço:

a Paz começa com P

domingo, 10 de setembro de 2017

selma e alcides


Ele havia morrido de morte estúpida, acidente.
Caiu de um andaime de um metro de altura e morreu na hora. Como é que uma pessoa morre ao cair de um metro de altura? Que erro é esse? 
Passados quarenta dias do ocorrido Selma não estava recomposta. grande choque. ela guarda o grito; Alcides surpreendeu-se com a queda, e gritou.
O pé encontrou o ar; conforme o outro pé forçou a tábua, esta cedeu, e como catapulta jogou o corpo para cima, para o ar e o vazio do ar. Só um metro até o solo, mas ele morreu de instantâneo.
Aquele barulho da cabeça de encontro ao chão. Ficou o grito, no ar, e ainda, na cabeça de Selma.
Em quarenta dias, quatro dedos de cabelo branco, ou menos quatro dedos de cabelo loiro, na cabeça de Selma. E o grito.
Agora, a casa cheia; que antes viviam os dois juntos, sem precisar de mais. Barulho de netos. Cozinha cheia. Talheres batendo, muita louça suja. A casa cheia na Santa Marina. As filhas não sabem mais o que fazer; os genros com essa mania besta de churrasco. E feijoada, pizzada. Até buchada fizeram.
Selma cheia de tudo isso.

- Mulher, você precisa sair, tem que fazer alguma coisa.

Conversinha de vizinha, que Selma finge que não escuta.
Cercado de mitos o sexo na velhice é tabu. Selma e Alcides eram felizes; namoravam e transavam muito. Era o sexo que os mantinha unidos e vivos. Muito felizes.
A vizinha continuava provocando:
- Mulher, você tem que se mexer. fazer alguma coisa, e etc. 
Selma escutava e só queria saber do essencial.
Saiu pela primeira vez depois de quarenta dias. Foi até a Água Branca. Prédio bonito, elevadores inteligentes, vista panorâmica da cidade, alta torre do edifício comercial.
Subiu ao décimo oitavo andar. 
Pensou consigo: daqui não tem erro.
Saltou da janela sem dar um pio.


sábado, 9 de setembro de 2017

Friendereich


o ídolo de meu pai; ele falava Frederrache.
O São Paulo de meu pai, o de 1931: Nestor, Clodô e Bartô. Rafa , Zarzur e Orozimbo. Luisinho, Armandinho, Friendereich, Waldemar de Brito e Hércules..

#doisvelhosamigos


- então a gente vê que tudo isso não tem significado...
- muito simbólico isso!

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

independência que nada


que independência que nada; certíssimo o povo-povo que nunca teve nem aí pra nada, só quer saber de putaria!

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

meu nome é Marcio


Hoje é dia do irmão.
Em 1969 tive um sonho. Estava a caminhar pelo campo. algo me chamou a atenção e subi numa árvore.Num galho alto, uma criança me estende a mão.
- Oi meu nome é Marcio. Sou seu irmão.
Acordei e falei pra minha mãe. 
-O nome do meu irmão é Marcio.
Minha mãe que sabia de tudo, me abraço e beijou. a Chelo não comentou nada. só falou para meu pai que a criança que ia nascer já tinha nome.

o destino da vaca é cair da árvore

ai não dito
valei-me são Benedito

me seguro nos meus ternos
quadras e quinas
loteria da vida
um dia acerto as contas contigo
me jogo na vida
perco ganho
só não sei o que é empatar

sábado, 2 de setembro de 2017


o marcola subiu em cima da kombi e gritou:
- violência gera violência.
eu e o paulo tentávamos dar uma bica na bunda de alguém que passava perto da gente e ríamos muito.
marcelo foi embora entediado.
o couro comia numa pancadaria generalizada na 13 que chamavam de bixiga.
tínhamos 18 anos e estávamos bem velhinhos

a solução para o capitalismo é a bomba atômica

poesia no rabo deles

como rastro de pólvora a esperar
um sopro um sussurro um suspiro
um assobio um ai
poesia yeah

marilene felinto sumiu


Marilene Felinto sumiu.
Deu no pé.Tchau sem beijo.
Por mais uma ironia, essa atitude, de dar uma banana ao mundo podre, é considerado um gesto nobre.
Escolher um destino, não como um fato, um vestido novo, blush, pó de arroz; eis um destino admirável.
Marilene Felinto disse não.
Aqui e ali, de forma diversa,monomitamente, alguém diz não. E vai fazer o caminho.
Essa saída á francesa, tão brasileira, de fechar-se em copas, recolher-se na concha, permanecer em si, sair a rever as estrelas, passear de mãos dadas,  encontro ao vento, descalça no chão espinhoso do sertão, vivendo com tão pouco, quanta imaginação! sem medo, sem medo, Marilene!
Aqui e ali, tão longe. 
Marilene, não se acha só; do alto da minha insignificância fogueira alta acendo, na falta de vela, pela presença tua, silêncio; pela negativa, por dizer não, sim; para sempre aqui e ali, não longe de mim.