terça-feira, 27 de junho de 2017

praça da liberdade


Proibido de fumar faz sete meses. Tanto faz o diagnóstico.
Antes descia no ponto final, sentava na praça, ficava ali, mas as pessoas começaram a puxar papo:

- Será que vai esfriar?

- O ônibus já passou?

- Essa corrupção acabou com o país.

Agora desce dois pontos antes, no alto da ladeira, um ou outro aparece ali, ninguém ousou lhe dirigir a palavra.
Senta e fuma. Quatro maços por dia.Não faz gracinhas com a fumaça. Fuma e solta a fumaça.Tem os olhos caídos, a pele esgarçada, vincos fundos na face, os dedos e os bigodes amarelados. Três isqueiros no bolso. Fuma quatro maços por dia, toma três cafés pretos e curtos. Não tem prazer em comer; come um bife e deixa a salada.
Não lê jornal, não ouve rádio, não vê TV. 
Quando escurece volta pra casa. Na cama fuma um cigarro e dorme. Profundamente.
Não sabe se vai voltar amanhã.
A noite sonha. Sonha que fuma um cigarro sentado na praça e que ninguém puxa papo com ele.



carrego livros
carrego ossos
deus que me carregue

domingo, 11 de junho de 2017

mim



estórias de morte
de quase quase
de qualquer nota
por favor afastem-se
quero ficar perto de mim

sexta-feira, 9 de junho de 2017

cartas


escrevi cartas para sertanejos
- nos anos 80 fiz muita coisa por aqui
coisas de assassinatos
de roubos e furtos
de carreiras de 5 metros 
de fumo incêndios fumaça
segredos que eu esqueci
coisa que não se podia falar
e nem espalhar
espalhar mortes por aí em letras
que talvez ninguém queira ouvir

como o peixe voa
e o pássaro voa
o ser humano erra