domingo, 29 de dezembro de 2013

baires # 1



en baires embriaco de una pasion luminosa. sin ninguna explicacion necesaria, o possible, so la luz , y su sombra a inebriar-me

podíamos



podíamos estar roubando, matando, mas estamos pedindo atenção.
e um gole de cerveja, e mais um trago.
e alguém para enrolar o cabelo com os dedos, andar de mãos dadas.

podíamos, glória suprema, tirar uma soneca na porta da fábrica, enquanto os outros nos guardam.
podíamos estar causando, rindo, mas estamos na velha correria.
debatendo, pegando a mesma estrada, " um pequeno pedaço do céu", as estrelas mortas ainda brilhando
podíamos estar lendo os russos, sentir a velha febre, mas estamos nos distraindo.
ninguém se engana por muito tempo, o coronel está por aí, pronto pra te acusar.
podíamos estar sonhando, mas estamos na espera de um sorriso.
e o ano novo que não chega...
podíamos, não é, podíamos

textamento # 2



afastado do xamanismo, mas só tá morto que não sonha.

textamento





nada do que faço tem valor comercial

qualquer linha e traço pode ser copiado, alterado, diminuído ou aumentado. 
Minha ambição é que algum texto sirva para fazer média com o dono do mercado, segure uma nota numa escola, roube um beijo de alguma namorada.

nada do que curto está a venda,
flores jogadas no cimento, um cego tateando o vento, conversas de surdos, a prata banhando o corpo de minha negra, ralar o joelho em escaladas para chegar no alto das montanhas e dizer: ahhhhh.

nada do que penso faz sentido,
consciência cósmica e inconsciência de classe
inconsciência cósmica e consciência de classe
inexatamente em vós passeio

nada do digo pode ser escrito,
vale o escrito, que pode  pode ser copiado, alterado, diminuído ou aumentado. No entanto se qualquer empresa auferir  lucro com um asterisco sequer, será processada na forma da lei.

nada, nada, nada

só as forças naturais
só os mistérios
só a soul music
só os gestos de carinho
só o último banco de praça
só você que agora me abraça

sem essa aranha



tudo muda e
tudo fica
alguém sempre explica
o que não precisa

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

o predio da frente # 1



essas 3 pessoas peladas, em janelas diferentes, no prédio 200 metros á frente, não estão nem ai pra mim.
empate.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

a vida não cabe no bolso # 403



não acredito em nada
eu tenho é fé.

metanoia




metanoia, aqui vamos nós.
temos que ir
ah, se temos

o sol




o que significa esse sol no fim de tarde?
e essa fome?
e esse beijo, que não conheço?
e o medo, o medo, o medo?


significa fugir do gueto
significa eu não te ouço, apenas te vejo.
significa que te vejo, mas não sei o endereço
só o medo, só o medo

circunstâncias # 1



- as circunstâncias são essas.
- já eram as circunstâncias.

lutar contra o luto



via de regra 
sairei perdendo

negra é minha tarde
em minha mãos 
meu grito parece surdo
mas eu canto

a vida não cabe no bolso # 402



improvável é a felicidade
quem provou que o diga

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

a vida não cabe no bolso # 401



amanhã será igual a hoje, basta você querer.

porque



porque eu não sei dizer isso
não significa que eu não saiba dizer isso

porque eu não consigo falar isso
não significa que eu não consiga falar isso

porque eu não falo isso
não significa que você  deixe de escutar isso


pera asiática



A gente ia ao Zoológico uma vez por mês. Eu tinha dificuldade de gostar mais de um bicho, de ter que escolher um para gostar mais. a Má gostava do urso, o Marcio do leão. Eu gostava do espaço das cobras, e do espaço das formigas, mas era mais pelo espaço. Hoje eu gosto mais de lobos, mas os lobos não podem viver sozinhos, e eu disse lobos!
Acho difícil escolher um fruta da qual eu gosto mais. Mas comendo essa pera asiática, acho que fica difícil não dizer que ela é minha favorita.

domingo, 22 de dezembro de 2013

ponto de apoio



sustenta-se 
indefinidamente
embora não se saiba onde
embora enxergue-se o fim

sustenta-se
indevidamente
pois flutua
flutua, diz-se, no céu que não tem mais fim

sustenta-se 
finalmente
pois embora nada dure eternamente
meu olho me engana
comumente
como me engana

ah o mundo



aqui e ali
um risco
tudo por um triz
e o mundo,
ah o mundo,

o mundo a correr de mim

no céu bem alto




começar pelo começo
levantar com o pé direito
e numa volta consigo mesmo
redescobrir o valor das coisas que não tem preço
um pipa voando alto no céu
furando as nuvens sem pressa
como que dizendo:
- felicidade eu te mereço

sábado, 21 de dezembro de 2013

Essa vocação do brasileiro pra fila.




Essa vocação do brasileiro para pedir coisas.
Essa vocação do brasileiro para furar filas.
Essa vocação do brasileiro para sempre entrar em contradição, não saber se vai ou se fica, se sim ou não.
A vocação do brasileiro em permanecer onde está, em reclamar de tudo,.
A vocação do brasileiro em puxar papo, conversa fiada, sem conflito enriquecedor para nenhum lado. Isso tudo numa fila.
A metáfora da fila.
Essa vocação do brasileiro para, numa fila, falar alto intimidades, e a vocação nas filas, a vocação para a bisbilhotice.
A vocação brasileira para ficar atrás dos outros.
A vocação brasileira da fila,o viés burocrático,a ordem e a desordem, transgredir sem transgredir nada.
É a nossa cachorrada.
Nossa falsa peraltice, nosso passo em falso de mãos dadas.
Essa vocação do brasileiro é seguir para o matadouro, sorrindo e :
- Alegria, alegria, sorrindo!.
A vocação do brasileiro é permanecer na fila do desespero e da alegria:
- No segundo andar tão dando leite...
Essa é a vocação do brasileiro entrar em fila, viver na espera.o brasileiro entrar em fila,
viver na espera.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

olharei o mar



olharei o mar
paisagem que muda
fala tanto a mim

olharei o mar
antes que tudo
seja o fim

olharei o mar
até que sua palavra
seja sim

domingo, 8 de dezembro de 2013

bam!



O gato olhava pra mim, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam!  batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correendo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correendo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava, olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correendo e bam! batia a cabeça na parede. Tonteava olhava pra mim, voltava, saía correndo e bam! batia a cabeça na parede. 
Terminei o cigarro, apaguei e saí para tomar uma cerveja, que ali  dentro estava quente.

jardim patente 5029 # 36

virou a esquina em alta velocidade, tem que ser assim, se não morre.
prudente o rapaz esperava com a bicicleta parada que o ônibus passasse. o menino, porém, ainda não conhece a prudência e descia à toda velocidade.
quando ele viu o que ia acontecer, fechou os olhos. eu tampei os ouvidos com as duas mãos.

jardim patente 5029 # 35

o cabelo descia, escorrendo, repuxado, molhado. a camisa estava grudada nas costas. uma mancha de óleo se instalava, crescendo.
mancha assim não sai nem fudendo.

jardim patente 5029 # 34

o cachorro estava deitado de lado, com o bucho cheio, as pernas duras, esticadas. o olhar fixo, parado, olhando a parede.
o velho arrastou ele e pôs em outro lado. era melhor que o menino não visse aquilo quando acordasse.

jardim patente 5029 # 33

de manhã o piso frio amanhece molhado, fosse de vidro ficaria embaçado.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ah, Mauricio


encarcerado à beira de um precipício
eu estava
não volto mais lá não, não volto!



Lu
perto de você, longe da sarjeta.

não sou mais um pedaço de mim



hoje não estou tateando muros
não sei de nada, mas
não me escondo em buracos
nem sou mais um pedaço de mim.

hoje não procuro alívio
em coisas baratas
e não procuro apoio na vulgaridade
não sou mais um pedaço de mim

hoje 
o principio de todas as coisas 
o inicio da grande jornada
o fim do dia anuncia a madrugada
depois da noite escura, sem nada

não sou mais um pedaço de mim
e estou pelo fio de uma espada
dirigida por mim

Te amarei



Te amarei
ainda que resistas

a deixar-me te a amar
Te amarei
ainda que desistas de respirar
Te marei
custe o que custar
Te amarei
mesmo que desacredites
em tudo que acabei de falar

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Ninguem diz que eu sou italiano, mas eu sou um pouquinho.


Meu bisavô Francisco Mele nasceu em Monte de San Giacomo, província de Salerno, na Campania, Itália, em sete de dezembro de 1867. Era filho de Gaetano Miele e Teresina Marone. Ele ficou orfão com sete anos.
Veio ao Brasil com minha bisavó,obviamente de navio, no mesmo navio que Francisco Matarazzo, e minha bisavó era um das centenas de viúvas que recebiam uma mesada do Chico Matarazzo. Minha bisavó  ficou conhecida como a Vovó do Brás. 
Os irmãos do meu bisavô, Paschoal e Vicente tinham vindo antes, estavam estabelecidos na rua Santa Rosa, próxima do que hoje é o Mercado Central, já naquela época uma rua de comércio de grãos e comidas deliciosas.
Meu bisavô tornou-se alfaiate, tinha uma porta na rua Quintino Bocaiúva. O Chico Miele teve muitas mulheres, mais de sete, e eu tenho um monte de primos que não conheço. Meu pai fala dum primo dele, o Zezinho, que era filho da dona Margarida, a derradeira mulher do velho Chico.
Os Miele moravam na rua Doutor Clementino, esquina com a Celso Garcia, e tinham um sítio no Tucuruvi. Fotos desse sítio, com todo mundo, ainda existem. Eu tenho algumas.Nelas aparece meu tio Dino, neto do Chico. O Dino era um homem lindo.
O pai do Dino, era o Caetano Miele, um puta homem, um gigante. Meu avô era comunista.
É nome de escola, do grupo lá de Cangaíba. Foi jornalista do Estadão, responsável pelo seção interior por décadas. Foi diretor do primeiro grupo escolar de Itaquaquecetuba e também diretor em Mogi das Cruzes. Foi diretor do grupo escolar Rangel Pestana em Amparo. 
Em Amparo ele conheceu a Dina Bueno, e apaixonou-se pela caboclinha linda. Quando a minha vó Dina morreu ele definhou e morreu menos de um ano depois.
O Caetano Miele não gostava desses negócios de Itália, gostava era de cachaça e foi um grande entusiasta do São Paulo Futebol Clube, quando alguém perguntava por quê? ele respondia: " Somos brasileiros!". 
Eu por minha vez, toda vez que posso assisto o Miss Itália, o Festival de San Remo, e choro ouvindo musica italiana

Ninguem diz que eu sou italiano, mas eu sou um pouquinho

Ninguém diz que eu sou português, mas eu sou um pouquinho.

Meu bisavô Joaquim Loureiro nasceu por volta de 1840, aos pés de Braga. Não sabemos ao certo a cidade, ou aldeia. 
Ficou órfão de pai aos treze anos e embarcou num navio para o Brasil. Chegou ao Rio de Janeiro e ali labutou por cerca de dez anos. Um patrício o convidou a trabalhar numa fazenda de café em Rio Claro, estado do Rio de Janeiro, próximo a Angra dos Reis.
Quis casar com a filha do dono da fazenda, Ernesta Pereira, mas Quincas era pobre. O casamento não foi autorizado.
Quincas e Netinha fugiram uma noite para um quilombo e lá tiveram sua primeira noite de amor. Mas o fazendeiro, pai da minha bisavó, não daria sossego a eles e eles não poderiam  ficar no quilombo. Tiveram que fugir e assim fizeram.
Junto com eles estava Tiana, que serviu de pombo correio na fase do namoro, era negra Mina, negra de casa. Fugiram margeando a estrada de ferro. 
Numa viagem de meses chegaram a Amparo, porque o nome era bonito.
Lá compraram um chácara nos arredores da cidade e tiveram sete filhos. A minha avó, Ernestina era um deles.
Esses filhos tinham um regional. Minha vó tocava bandolim, meu tio Irineu pandeiro, meu tio Benedito violão e minha tia Marcília cantava.
Minha mãe, a Consuelo Loureiro Bueno, filha da Ernestina, não nasceu de olhos verdes. Todos os os filhos do Loureiro tinham os olhos verdes.
Minha mãe adorava ser descendente de portugueses.

Ninguém diz que eu sou português, mas eu sou um pouquinho.