quinta-feira, 30 de outubro de 2014

cidades feias

receita pra destruir qualquer tudo:
cimento
barulho
falta de água
ruas cheias de carros
ruas cheias
ruas sem amor
ausência de amor
insensibilidade
solipsismo
ódio desenfreado
ausência de bancos nas praças
ausência de praças
ausência de amor nas praças
ausência
falta de olho no olho
consumo desenfreado
lixo
misture tudo
bata muito
sirva para vinte milhões de pessoas
brinde a estas cidades feias

diálogo no brasil

o brasil não precisa de diálogo, precisa de milagre

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

free soul Spirit



free soul Spirit 
ou seja lá o que for isso
o que eu posso está antes daquela serra
anterior a qualquer árvore derrubada
pássaro antes da asa quebrada

nomadismo 
eu muito bem sei o que é isso
silêncio no alto das montanhas
silvo nas ilhas canárias
enquanto o vento sopra há vida

minha alma livre 
se não é isto é quase isso
nenhuma bandeira no alto do morro
fumo enquanto espero
eu quase não sei o que quero

o amor insiste

terça-feira, 28 de outubro de 2014

o outro



eu sou o outro
o amigo do outro
o pedaço do outro
do outro lado do muro

o salto no escuro
ao abraço do outro
a memória do outro
desse lado do muro

aqui fica o outro
o outro sem dono
e ali também está ele
o outro é o tesouro

bem lá no fundo
dentro do mundo
que é o outro
eu me encontro

o outro é o ouro
ele sou um eu
outro
e nele me reencontro

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

campos de girassol



os campos de girassol recolhem-se quando chega a noite, tudo muda, e não há silêncio no caminhar dos insetos, longas horas, intermináveis farfalhares,insetos caminhando e voando
mas os campos de girassol continuam lá
sopra o Mistral , um vento medonho que tudo arrasta,  e as finas hastes repousam para, na hora certa, voltar ao seu lugar, tudo isso pede muito engenho e contínuo esforço,
os campos de girassol ainda estão lá
noutro dia a chuva,tudo alaga, flutua o inseto, não há mais farfalhar noutro mês o granizo, grossas bolas, buracos na terra, covas de insetos
vem o tempo de inverno e os  flocos de neve caem suavemente para tudo enterrar
e os campos de girassol ainda estão lá
a noite, o Mistral, dias frios, poças d'água, muito diverso o tempo, a neve branquinha
resistir os campos de girassol , resistem,ainda estão lá
vem primavera,volta primavera, vem amarelar
o Sol, amarelo bronze, ouro diáfano, aliança no dedo anular , canário longe da gaiola, amarelo manga fruta deliciosa de se esfalfar, casas caiadas de amarelo da minha infância chácara Loureiro e vila Itororó, o antigo é minha prosperidade, felicidade eis-me aqui inteiro nu em pelo,inspiração, van Gogh, meu irmão que já foi vermelho, luzinha da minha vida inteira é só começar a abraçar,metade da tarde me completa, a colcha de retalhos toda de flores amarelas que a cigana fez inteira pra mim, dourado é o ouro, louras douradas, a vida começa tarde, por do sol, amanhecer, lisboa seus pasteis, a cidade baixa,  berlim alexanderplatz, calor, o rio de janeiro, raciocínio, raios que partam e abram o destino de toda gente, o amor está para gente completar, vem Sol, vem, a tardinha, banho de mar,o sítio, os olhos da morena, Oxum, minha mãezinha, todas as meninas, atenção
os campos de girassol estão lá

domingo, 26 de outubro de 2014

sobre a clara oposição entre a burguesia e a malandragem.


"o oposto do burguês não é o proletário é o boêmio"
Oswald de Andrade

o malandro ainda resiste

"que a aquela tal malandragem não existe mais"
Chico Buarque de Holanda

o malandro se nega a ter seu tempo roubado em trabalhos pesados, sujos, perigosos. em bater cartão, em cheirar pó. ele é perfumado, discretamente perfumado; só quando é abraçado sente-se seu perfume.
um pouco aéreo, etéreo o malandro.o malandro é maconheiro.
o malandro flerta com a condição sempre de ser desocupado.
ele goza seu tempo em atividades prazerosas.
ele gosta de rosas.
ele tem asas.
ele flutua.
o malandro goza.
o malandro não aceita a condição de ser servil, de conhecer o seu lugar. o malandro está no fio, no meio fio.ele flana entre as classes, embora ás vezes atue como flanelinha, embora ás vezes ele ature uma carteira assinada.
nenhum documento assinado tem valor maior que uma palavra que o compromisso do malandro com outros malandros.
o malandro não vota e não é votado, não concorda e não dá corda, e acorda cedo ou tarde, tanto faz, curte o nascer do sol e o por do sol, curte a vida e a natureza simples. principalmente o malandro não trabalha
o malandro não aceita condição subalterna, por isso é odiado.
naturalmente é perseguido, mas sorri.
o malandro deixa a grama crescer, vem o jumento e acaba com a grama. o burguês consegue lucro explorando o trabalho do jumento.
o malandro inclusive deixa as coisas pela metade, nada tem fim, tudo é incomple

terça-feira, 21 de outubro de 2014

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

sábia cantando as quatro da matina



entendo que o sabiá cante porque tem que cantar
e se ele canta na árvore em frente á minha janela
é porque ali pra ele é o melhor é o melhor lugar.

entendo que uma alma triste
que vive escondida em algum canto
almeje ouvir trinados, coisa que traria a ela
algo para continuar

comigo é diferente
não sou essa alma triste
são quatro horas da matina
eu quero continuar a sonhar

por isso eu também assobio
vai cantar na puta que o pariu maldito sábia

o consumo redime a todos


Uma grande rede de supermercados anuncia que amanhã haverá um sem número de promoções.
Pessoas armam barracas, passam a noite em vigília.
Quando a porta do mercado abre é aquela correria.
Para ser o melhor consumidor tem que ter um objetivo claro em mente saber para onde ir, que caminho tomar.. Na corrida pela melhor oferta deve-se seguir direto para a prateleira X, onde se encontra o objeto de desejo - pode ser um biscoito, um molho de tomate, um quilo de qualquer coisa, uma garrafa, um pedaço de pano, etc.
Chegando ao caixa deve-se usar dinheiro de plástico, após ser liberado o débito ergue-se em triunfo o produto.
Assim estamos redimidos pelo consumo.
Assim manifesta-se nossa identidade.
Assim nos identificamos como um igual, igual a eles igual a todos nós.

dia mais quente da história de são paulo



dei uma volta no centro, senti vontade de pedir demissão da vida

o próximo passo

considere sempre a necessidade de dar o próximo passo

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ajudei um velho bebado a levantar do chão


No alto do morro (subi-lo me deixa de língua de fora) vejo um velho caído no chão. Ele tenta levantar,uma, duas vezes, não consegue. Eu chego perto dele, sento no chão e pergunto se ele está bem.
- Não consigo levantar.
Eu digo:
- Vamos lá! Fique sentado.
Mil e um , mil e dois, mil e três, conto até mil e vinte e sete.
-Vamos lá! Vamos ficar de pé.
Ele segura no meu braço e levantamos.
-Onde o senhor mora?
- Na primeira travessa.
(Graças a Deus, eu penso).
- Vamos lá! Uma perna de cada vez!
Ele está cachaçado, tem as unhas compridas, sujas. Os dentes amarelecidos, a roupa imunda, fedida.Apesar do calor de 40 graus veste casaco. Pergunto quanto anos tem. Só tem dez anos a mais que eu.
Vamos andando beeeem devaaaaaagaaaaaaar. São só uns cem metros.Eu vou abraçado firme no ombro dele.
- É aqui.
- AQUI ONDE TEM ESSE PIT BULL?!
- Não, na minha casa não tem cachorro.
Na próxima casa uma escada de cimento sem acabamento leva a um precipício.
- Vamos Lá! Segura em mim.
Descemos. Eu ponho meu corpo na frente, desço de costas, seguro os dois braços dele,vou vendo cada passo que ele dá. Foi muito fácil.
- É aqui.
Ele começa procurar a chave num bolso, no outro bolso, depois o noutro.
- O senhor está com a chave?
- A porta não tem chave.
Dou as costas, vou-me embora.
Ele não diz obrigado, não sorri, mas a gente não faz essas coisa esperando um obrigado. A gente faz essas coisas pra contar depois.

encontro com famosos # 28 Nelson Triunfo

eu estava na fábrica do Som em 1983 e ele, Nelson Triunfo, estava dançando com um neguinho que deveria ter uns 5 anos e todo mundo vaiava, não é porque fosse funk, mas por que eles eram pretos, e eu fiquei chorando muito porque muitos amigos meus eram imbecis e sabendo que eu nunca tive um lugar e nem nunca teria

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

a terceira margem do rio



eu sou um homem branco, paulistano, classe média.
essa carapuça não me serve.

eu não sou a casca.




quiet nights








- você tem o meu silêncio
- eu tenho o seu silêncio

bonito isso que falamos

o primeiro que puder atira a flecha




o cupido que atira a flecha não pode ele mesmo amar?
quem atira a flecha no cupido?

o futuro



o futuro já era

o seu silêncio


eu tenho o seu silêncio

meu coração parece bola de ping pong

meu coração parece bola de ping pong, prestes a explodir

Paulo Cesar Caju, campeão da Taça Guanabara de 1967



Grande ídolo Paulo Cesar. na foto ele faz o terceiro gol dele na final da taça guanabara de 1967, tinha ele 18 anos

conselho



siga o meu conselho não siga meu conselho

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

exceto # 16

exceto bukowski

exceto #15

exceto o mar

exceto # 14

exceto a magia

exceto # 13

exceto dance

exceto # 12

exceto heaven

exceto # 11

exceto a raça

exceto # 10

                                                                                                                                                               luis avelima

exceto o que está dentro é o que está fora

exceto # 9

exceto o mistério

exceto # 8

exceto a memória

exceto # 7

exceto a coragem

exceto # 6




exceto a camaradagem

exceto # 5



exceto a ousadia

exceto # 4



exceto as ideias

exceto # 3

exceto os cavalos selvagens

exceto # 2


exceto  a Terra

exceto # 1




                                                        exceto as estrelas

sábado, 11 de outubro de 2014

ainda ontem



filme triste
canção antiga
aroma mofado
mãos enrugadas
hieroglifos

o pensamento ainda no antigo

de gueto em gueto # 1



procurou o gueto, por opção de raça.
ficou no gueto, mas por opção de raça disseram-lhe: 
- seu lugar não é aqui não.
quer dizer, ficou no gueto até dizerem-lhe não, aí quem disse não foi ele.
disse ele: 
- estou no gueto por minha opção, mas se vocês não me querem aqui, se me dizem não, o que é o gueto então?
escutou isso aqui: 
- o gueto é aquilo que os outros dizem, pra nós ele não é gueto, mas seja lá o que você pense desse gueto daqui você não é  não.
bom se não me querem aqui, pensou ele, aqui não é o gueto não.
e pra outro gueto foi então.


morte



a morte é dormir sem sonho

estou sempre buscando


caminhando sobre o gelo fino
peneirando o fluido
equilibrado no meio fio
assim cansadinho...

sábado à noite quanto esperei por ti
venha de uma vez pra mim!

doença e cura



todas as doenças ainda não foram inventadas
menos ainda a cura delas

corra de ambas elas

terça-feira, 7 de outubro de 2014

meu lugar de hoje



meu lugar de hoje
- eu fui tirado de lá pelo mau comportamento de ontem.
meu lugar de hoje
- eu não aceito essa minha condição de paciente terminal
meu lugar de hoje
- deixem-me em paz em qualquer lugar
meu lugar de hoje
- estou lambendo as feridas

meu lugar de hoje
- qualquer lugar que não seja aqui
meu lugar de hoje
-esperem enquanto eu vou dar um role
meu lugar de hoje
-antes que toda fumaça se torne sólida
meu lugar de hoje
-enquanto isso o medo rodeia
meu lugar de hoje
-por favor não me deixe aqui sozinho
meu lugar de hoje
-te digo de antemão, não estou mais aqui
meu lugar de hoje
-ser feliz há quanto tempo...
meu lugar de hoje
-igual ao de amanhã
meu lugar de hoje
- mais veneno, põe mais aí
meu lugar de hoje
- 1988 foi um puta ano
meu lugar de hoje
eu não sei não

domingo, 5 de outubro de 2014

coragem


pra quem passa e acha graça
pra quem chora dessa palhaçada
pra quem vai, pra quem vem

pra quem está sempre discutindo
pra quem está sem destino
pra quem sabe ir além

pra quem espera filho
pra quem não tem criança
pra quem carrega o neném

pra quem sabe
pra quem nunca esquece
pra quem sempre entretém

pra quem não sabe o que quer
pra quem qualquer nota cabe
pra quem nada convém

pra quem busca
pra quem desama
pra quem não sai do armazém

pra quem está sempre de mudança
pra quem nunca dança
pra quem tudo mantém

pra quem ás vezes é do mau
pra quem não sabe que apito toca
pra quem sempre é do bem

pra quem é do palco
pra quem nunca sai da platéia
pra quem faz tudo pros outros brilharem

pra quem tudo merece
pra quem nada escreve
pra quem nunca fica sem

pra quem chegou agora
pra quem espera dar um tempo
pra quem quer ficar pra matusalém

pra quem corre atrás
pra quem está parado igual poste
pra quem fica esperando que telefonem

pra quem anda de carro
pra quem vai de bike
pra quem dorme no trem

pra quem é comando
pra quem é chamado aparador
pra quem aguarda que os outros intuíssem

pra quem bate palmas
pra quem chora lágrimas de amor
pra quem ferve pra que os outros o saúdem

pra quem está sempre no aguardo
pra quem perdeu a esperança
acho que não esqueci ninguém

CORAGEM


sábado, 4 de outubro de 2014

excuse moi, eu tenho que dizer, sem propriedade porém



quem fala com propriedade nesse país?
só aquele que tem propriedade.
só aquele que tem propriedade deve falar nesse país.

na lógica da propriedade, que é a lógica da exceção, do país da exceção,  quem tem propriedade é extremamente diferente de quem não tem. 
Assim temos  quem pode falar e  quem deve repetir.
Aquele que deve falar e aquele que deve reproduzir e bater palmas assistindo o aprofundamento do seu morticínio e a distribuição de toda  a merda que ele deve engolir como se fosse hóstias embalsamadas.
Aquele que deve apenas reproduzir, deve sorrir e deve assistir ao próprio féretro com impassividade, deve assistir o aniquilamento geral de tudo,ouvir o discurso vazio,não deve saber que nada, nada está direito, tudo está errado, não deve ousar, intuir, o fora todos.
excuse moi, não toque no meu segredo, deixe de lado esse baixo astral, vamos sorrir, é o que ele intui, é o que ele deve reproduzir.

a exceção deve ser o proprietário, pois esse, esse deve falar e ele fala, com uma lógica muito própria.

a lógica daquele que fala com propriedade, vem desde as capitanias hereditárias, é  a lógica da escravidão, a lógica da aula de cinquenta minutos, a lógica de todas as disciplinas. a lógica da segurança e do desenvolvimento.

a lógica daquele que deve reproduzir é votar com o patrão, sorrir e amar seu trabalho servil,  saber servir esse país sorrindo e amando seu trabalho servil.

a lógica de falar com propriedade... esse é um país que tem uma lógica própria, mas comum de país colonizado, de periferia.
um país de muita lógica, e com muita lógica, basta a todos aqueles sem propriedade para falar,  saber sorrir.

toda a lógica da exclusão, todas as exceções às regras, toda a gramática, toda a falta, toda execução das penas, todas as letras, a exaltação e a ostentação, tudo está baseado na lógica da propriedade de poder falar.
Para quem não tem propriedade resta todas as canções de trabalho, todo o sofrimento, e depois disso, tudo é válido se depois você sorrir.

cantar e sorrir, mesmo sofrendo, próprio da nossa gente,próprio dessa lógica: todos sorrindo, todos sorrindo e cantando.

sem propriedade nenhuma isso eu cantei; sem ser próprio de nada e de ninguém, contra todos e a favor do neném, pela vida e pela coragem,
amém

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

nascimento miele



dina, dino, durval, dirceu, dagoberto.
chelo, má, mau, marcinho.

viemos melados
começamos delicados
fluímos ternos

chegamos de mansinho

despontamos melodiosos
crescemos brandos
ocorremos calmos

viemos tranquilos

nascemos doces, é isso

eleições # 22



A discussão não é sobre corrupção, sobre quem traiu quem, sobre egungum, sobre mercado, desenvolvimento econômico,sobre quem chora mais, ou não toque no meu bule
O Principio de qualquer conversa é:
Você á a favor das capitanias hereditárias?
Do sequestro dos índios?
Da servidão voluntária
do agronegócio, do transgênico, da monsanto?
do carrão com ar condicionado?
Você é de direita?
Aí cada um segue um partido, porque não adianta discutir posições inconciliáveis, que aliás não vou discutir.
eu sou da armada dos cavalos selvagens, se liga mané.