segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Hoje é um dia de festa,antigos rituais pagãos renovados,revisitados, força que não se esquece.


Festival Druida do Fogo, que celebra a união da Deusa ao seu consorte, o Deus, sendo também um festival de fertilidade.


Cante uma canção sagrada, leia poesia em voz alta, reúna-se aos amigos em volta da fogueira.


Frutas vermelhas, incenso rosa, no banquete aproveite e use a cor vermelha dos alimentos.Quartzo rosa, rolling stone,tome vinho.


Se isso for feito no alto da montanha melhor. Se for feito em grupo melhor.


Se não puder ser feito, imagine isso ao nascer da lua, pois vale.


A realidade é virtual.


O que é a realidade virtual?


A verdadeira pergunta é: o que é a existência?


Material ou Espiritual?


Hoje eu não posso subir a montanha e celebrar junto a fogueira , renovar o voto por uma intenção de fertilidade do mundo.


Mas se eu imagino vestir uma capa, comer framboesas, entoar hinos e dançar com minha armada,com minha amada, meu time, nessa hora, hora, hera, outra era, que eu por um acaso agora lembro, mas eu esquecerei e depois na hora, time, uma freiada de carro, uma pedra rolando no asfalto, eu vou lembrar , então se naquela hora eu pensar em rodas de mãos dadas no alto da montanha,o mundo girando a nosso favor, unidade resgatada, se tudo isso eu penso, eu posso sintonizar essa nova estação e isso será real?

domingo, 30 de outubro de 2011

30 de Outubro aniversário de Dostoiévski

A segunda vez que li Crime e Castigo, faltei no trampo e na facul pra acabar de ler o livro, bein... qualquer motivo é motivo pra não trampar, mas esse é um verdadeiro motivo.

A primeira vez li no Centro Cultural. Uma edição caprichada em dois volumes, capa dura, tradução de Rosário Fusco, ilustrações que me davam medo.


mil tardes no Centro Cultural
aflição silêncio e agitos
lendo esperava outros dias



A febre do Raskolnikov, a Lu pegou tambem,quando leu o livro. Sensibilidade demais ás vezes põe a gente doente.

O livro é extraordinário. Justificativas que não justificam nada, um crime. Calafrios, dores intensas na alma, culpa, o castigo.

Livro pra mim é tudo. Cheiro de livro novo é o cheiro, melhor do que flor. Esse livro para mim é tudo.É que lendo a gente vai pra outro lugar, não é somente ver o que está escrito, fazer um filme na cabeça, é muito mais que isso. Ler é a maior viagem.

É claro que eu amo a adaptação com o James Mason e a Geraldine Chaplin, filme que assisti na infância e não acho, mas vou procurar e achar. Aliás eu vou procurar e achar muitas coisas. E mais: eu acho muitas coisas, e achar alguma coisa é uma felicidade. Os cretinos não acham nada, pensam que sabem. Eu acho que eles pensam que sabem. Uma acha, salvo engano é quase uma fogueira, uma salva de palmas para tu que achas,achou, Abraxas, e abraças esse canto.

O episódio do enterro de Marmeladov; quando Ekaterina Ivanovna dança com lenço para o governador;a perda da virgindade de Sonetcheca, eu não esqueço.

No Centro Cultural li os russos, o Capote de Gógol , e uma seleta de contos e aí cheguei no Dostoievski, e li quase todos. O jogador, Noites brancas,O filósofo. Depois li   o Haroldo de Campos dizendo que esses títulos eram nomes de músicas do Jorge Ben. Se fosse sem querer era ainda mais impressionante, disse o Campos.

viram os Campos
irmãos
de tantas fontes e folhas férteis
os irmãos Campos
virão.

Caetano Veloso votou em mim na Fábrica do Som e eu ganhei um prêmio por um poema sobre os irmãos Campos. Acho que era ainda pior que esse que escrevi agora, acontece que eu era o mais bonito e o Caetano votou em mim,no cabeludinho.

O Kamarazov eu não li. Assisti a novela com o Boldrin, o Julgamento, na minha tv Tupi. A abertura era o MPB 4 cantando Gonzaguinha: "casa de ferreiro espeto de pau, quem não engole espinho nunca vai se dar mal" Gonzaguinha o favorito da LU.

O Leminski fez um biografia do Trotski para lá de confusa, citando o conflito dos Karamazov, como algo que vai mais fundo para compreender a Rússia. "Quando um dos Karamazov mata o pai aí começa a Revolução Russa" vou ler mais uma vez o Trotski do Leminski para acabar, ou não, com essa confusão.

Hoje leio que o Brasil tornar-se-á a sexta maior economia, que depois a India irá passá-lo, mas que com a Copa e a Olimpíada, voltaremos, nós?, ao sexto lugar.


Brasil, Russia, India, o BRI dos BRIC'S. A China era como eu chamava minha mãe, um mundo era a dona Consuelo.

Mas a Russia...

A velha Russia, a velha russa sorrindo banguela, a velha Russia sobrevivendo ,a contragosto da nova Russia com os dentes parafinados a laser. O dinheiro ganho para parafinar os dentes no suor arrancado das sex slaves, minas de ouro, poços de petróleo que o rufianato mafioso da nova Russia soube explorar.

Quem é o novo Dostoievski? O que mudou na nova Rússia?

Uma coisa me leva a outra coisa, um livro leva a outro livro. Ah eu acho que achei alguma coisa aqui.

espelhos partidos não refletem direito

Mas as pessoas vem e me falam grandes bostas: que viram na Veja, escutaram na Globo, leram na Folha.

Foi descoberta a polvora: A corrupção é o grande mal do Brasil. E os petistas são os mais corruptos de todos. Sarney, Maluf, Jânio, DEM, são fichinha. PSDB não é corrupto, classe média não é corrupta. Corruptos são os outros.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Abertura do Show da Norah,Light is a feather.
Um ano passou, e só aumenta o meu amor. LU.

O show foi no Parque da Independência, vulgo Museu do Ipiranga, imita um palácio francês, Versalhes ?, mas imita bem e os jardins são lindos.

Para entrar no parque as mulheres foram pra um lado e os homens para outro, a polícia ia dar uma geral, revistar as pessoas. Um absurdo isso, separar casais.

 - LU. Eu grito para Lu:
 - me espere! Encontre-me na praça central de Viena todo dia 5, ás 6 da tarde.

E muita gente riu.

Deja vu: casais sendo separadas em estações de trem.

Eu não sei o final do meu sonho, deja vu. Não sei se daquela vez a mulher amada me encontrou na estação de Viena num fim de tarde do dia 5.Sei que eu e a Lu assistimos esse lindo show da Norah Jones juntos.
Quando a Lu chegou, depois daquela separação forçada pelos policiais pra dar geral no povo, eu a abracei forte e feliz pois a gente estava junto e nada ia nos separar.

someone

Someone created this place but I can not get over it
the blood can not flow freely through my veins
and feel difficulty in breathing
if I go up the mountain again
maybe I can see things from another perspective

Promenade

A busca de uma teoria de tudo revelou-se inócua. Finda a esperança, restou o cansaço. Não tenho onde esticar as pernas. A fragilidade de minhas exposições,são de uma fragilidade, que me cansa.

Trabalho? Não sou Bukowski, nem ateu eu sou!

Os filhos de orion,eu não achei.

O deus se come-se, ou a autofagia,o ourobórus,estava na palma de minha mão, estava num muro perto de onde encontrei Celina, mas não estão mais lá. Acho que que a cobra que come seu rabo foi pra Pompeia.

pomba-gira beats, legalize do Bush doctor, as missas do Gurdjieff
a concretude do real de Karel Kosic , mais piratear o fim do mundo do Chico Xavier, mais a sopa de letrinhas, foi um passeio, um refresco na tarde

Palito os dentes, acho que é o que eu devo fazer.

A Primavera?

e quanto a Primavera
ela não se conta por quanto a esperamos
pelos dias que nós sonhamos com ela


ah Primavera
agora vem
a menina canta
desviando das pedras
carregando uma florzinha na mão
há muito tempo
subimos a montanha
um lugar pra se lembrar

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

e viva a minha santa Ironia

Minha felicidade é muito grande!

Não existe corrupção no governo estadual de São Paulo, nem na prefeitura de SP. Assim todos podemos ficar preocupados com a corrupção que campeia somente no governo federal.

Devemos nos unir e exigir a retirada de todos os ministros do governo federal.São todos corruptos.

E viva o governos estadual e a prefeitura municipal.

a revista Veja e a rede Globo tem esse papel importante de concientizar a classe média? do país. A indignação com a corrupção do governo federal é incrivel,muito bonita.

Nunca se viu tanto roubo no pais.

É um fato inédito, e merece nossa atenção.Talvez uma nova marcha da Família com Deus seja necessária. Talvez novos caras-pintadas.

De toda forma classe média - isso existe?- quando se une, é só para fazer belezas por esse nosso Brasiiiiiiiiiiiiilllllll

mais uma da série" observando da minha janela o vale da saracura"

o misterio de um dia após o outro, um dia não ser somente um dia após o outro.

três linhas

todos trazem cabeça , vida e coração
mas nem todos tem
o destino marcado na palma da mão

sábado, 22 de outubro de 2011

é por isso que venho aqui





"A vida é uma merda e no fim a gente morre"– Beavis e Butthead

consciência de classe
inconsciência cósmica
inexatamente em vós vagueio


Subo a 13, entro na Paulas, viro á esquerda: a Vila Mariana é logo ali.

Entro na loja da Adidas no Largo Ana Rosa. "Adidas a marca mundial das três listras". Uma calça de abrigo, azul com listras prateadas, por 69 pratas. Não compro. Pensar que se matava (eu não me matava, mas desejava) por um pano desses. Continuo fiel a muitas coisas, panos e marcas. Lendas. Ser Bueno descendente de Bartholomeu Bueno da Ribeira  e Antonio Rodrigues e do Cacique Piquerobi. Pobreza e superstições. Sonhos e lembranças.

Johan Cruijff na Copa de 74 tirou uma das listras da camisa, não ganharia nada por fazer a propaganda. O esporte, pra mim futebol, o novo Olimpo. Adidas, sonho de consumo adolescente. Fetiche.

Cada vez menos a Vila Mariana é logo ali, como logo ali ficava a Barra Funda.

Maria Louca morava debaixo do Minhocão, quase na Barra Funda, em 1986. “O barulho interno dela é tão grande que ela precisa viver no meio de todo esse barulho pra se agüentar” disse a psicanalista. Betty Milan? Maria Rita Kehl?

Sigo andando sem dar um pio. Tudo muito quieto na Vila Mariana. Andar, como amo andar. Quando morei em Porto Alegre fiz longas caminhadas sozinho. Avenida Ganzo, Menino Deus, lugar quase divino, uma alegria infantil andar em lugares desconhecidos, perder-se. Manuel Bandeira disse que para pensar andava. Eu ando antes de ler o Bandeira. Eu ando para buscar a vida. Eu andei a vida inteira e agora cheguei a Vila Mariana.

Andar cinco, seis quilômetros não é mais a mesma coisa pra mim como era há vinte e cinco anos. Às vezes subir uma escada me cansa, ás vezes ir até a Vila Mariana me cansa, ás vezes lembrar muita coisa cansa.

Sair da Bela Vista e ir pra Vila Mariana a passeio. Deixar o barulho de lado, deixar a bagunça para trás. Encontrar quietude e algum mistério, casinhas com jardins, velhinhas de cabeça branca segurando vassouras, nada para limpar. Cachorros quietos, ruas de paralelepípedos, ninguém nas ruas. Fachadas intocadas, ruas retilíneas. Colegiais sardentas, uniformes de escolas particulares. Silêncio.

Entre prédios acho uma capela. Não sei o nome. Linhas retas, paredes brancas. A ausência de símbolos simboliza o quê? 

As igrejas eram museus, guardadoras do belo. Minhas três igrejas. Na do Carmo toda aquela imponência me fascinava, a nave alta, as pedras marrom claro, as escadarias. Uma igreja clara, limpa, em ordem. A Consolação, sombria, suja, cinza. Mas tinha as estátuas dos apóstolos lá em cima na rua, estátuas prontas para voar. Pobrezinha Achiropita, pequenininha, humilde, atulhada de coisas, imagens, flores de plástico.O maravilhoso Padre Toninho, chamando a negrada pra igreja, perguntando: por que você não está aparecendo mais? O velho Achiropita na porta, xingando quem o chamasse de Achiropita. Sucedeu-o Dick, que se dizia cinegrafista do Terra em Transe. Na quadra da Achiropita só jogava quem assistisse a missa inteira. No meu primeiro jogo eu driblo todo mundo e faço o gol, meu rush característico.

- Dentro da área não vale. Não sabe jogar bola?! Palavras do Cri-Cri.

Dentro da minha característica sumi do jogo e nunca mais fiz nada naquela quadra.

De volta à capela da Vila Mariana. Sim, tem bancos de igreja e algumas imagens. São José está lá. Passei a curtir São José, depois de velho. Xangô Velho, Aganju carregando menino. Ser filho de Xangô, ter um ponto ostensivamente marcado na palma da mão, estrela de Davi, selo de Salomão, com bandeirinhas abertas nas duas pontas de cima da estrela, marcou muito em mim.

- Você é filho de Xangô.

A moça falou no serviço. E na rua uma vez alguém falou, e a cigana noutra vez. E a baiana. E eu li no livro.

Uma Bíblia aberta na capela. Elias subindo ao céu num carro de fogo. Conheço algumas passagens. Já vi uns cinco discos voadores.

Não consigo sentir nada na Igreja. Nunca vi Deus na Igreja. Gosto do silêncio, do cheiro, Proteção. Adoro Nossa Senhora,na hora da morte vou pedir por ela. Rezo as orações que minha mãe ensinou. Vou andando na rua e rezando.Peço muito a Deus. Vi Deus quando mais precisei dele. Encontrei com Deus em sonhos, igualmente encontrei com o capeta. Valei-me meu são José.

Minha prima Roberta pergunta:

- Mas você acredita?

Cortar o velho Deus de Barba, um velho ranzinza e mandão, o Deus do Creio em Deus Pai, me é muito difícil. Mas eu vou tentando, tateando. Eu quero acreditar, o que é uma coisa estranha. É uma necessidade, é fome. Deus se come-se.

Jesus é como um irmão. Um amigo. Imagino-me – lembro ? De estar por ali, caminhando junto. Na mesma armada. Gosto de Jesus expulsando os vendilhões do templo. Gosto de Jesus plenos pulmões no sermão da Montanha, para mim a mais bonita página de amor:

- Vinde a mim os que choram, pois que serão consolados.

Jesus é Oxalá, Krishna, Buda.

O sincretismo não é uma coisa que se esgotou, como quer o movimento negro. O sincretismo é a afirmação que em diferentes dimensões de tempo-espaço manifestou-se uma luz? Um fenômeno: Thor, Xangô, São José, São Jerônimo, Hórus, Shiva, Agni, Tupã, Júpiter. Isso existe. E isso se manifesta. Isso caminha e anda.

Na saída da capela uma jovem senhora me deseja boa tarde. Dou cinco passos um senhor com bonito suéter Lacoste me cumprimenta com a cabeça.

Céu azul sem nuvens, um ventinho. Gosto do frio. Carrego uma jaqueta, Adidas. O fato de ter um agasalho nas mãos já me esquenta. Comprei uma blusa usada quando tinha dezoito anos, paguei mil dinheiros. A primeira blusa. Veludo cinza. Foi minha companheira por anos. Hoje tenho trinta blusas. Antes não sentia frio. Tempo.

A pobreza é uma merda. Passar vontade é uma merda. Esquecer que existe vontade é a maior merda.

Estávamos quase na Barra Funda, num casarão velho. Uma garota nova na turma fala:

- Mas que cheiro de merda! Vocês não estão sentindo?

Eu me acostumei com o cheiro da merda. Todos ali estavam acostumados com o cheiro da merda. Tristeza.

Perto da caixa d’água da Vila Mariana uma rua, quase uma praça, ótimo lugar pra se jogar bola. Enquanto desço em direção ao sindicato me pergunto:

-O que não faço para não dar aula?

Ou melhor:

- O que faço pra não dar aula!

Espero não ouvir muitos gritos, discursos intermináveis sobre a “conjuntura”, assistir brigas estúpidas. O falatório durará quatro horas. Paciência.

Sento e espero.

Acordo num susto.

- E você Mauricio, o que acha disso?

-Venho aqui há três anos e nunca abri a boca. A situação foi eleita recentemente, e eu estou com a situação. A oposição critica, diz que falta mobilizar a categoria. Penso que a diretoria do sindicato escolheu negociar numa sala com a Secretaria da Educação. Infelizmente (palavra que repeti muitas vezes) isso é o possível no momento.

Minha fala é desconexa, parabólica, piegas, irônica, sem sentido, prolixa, contraditória. Quem me entende? Quem me lê?

“A gente conhece a nossa categoria” com essa fala o diretor do sindicato me ganhou. Ele a disse reservadamente, numa primeira conversa nossa, dois anos atrás. Desde então nos tratamos amistosamente. Encontramo-nos em outros lugares, e ele sempre foi educado. Nesses três anos que freqüento o sindicato, nunca ninguém da oposição me deu um boa tarde.

Zé Luis, figura impagável do planeta pesquisa de mercado, ao ser indagado por mim por que não dava bom dia quando entrava numa sala, respondeu:

- Bom dia a gente dá pra funcionário. Aos amigos eu dou beijos. Poc, poc.

Bom dia, Boa tarde, Boa Noite, Amor. Com licença, Muito Obrigado, Faça o favor.

Penso diferente do Zé. Tudo começa com um Bom dia. E ás vezes basta isso: um desejo de Bom dia.

Na minha fala não pude dizer:

- A gente conhece a nossa categoria.

Férias divididas, aumento parcelado para cinco anos, salários de trabalhador com ensino médio.

Alunos deitando e rolando, “não vou fazer nada”, "não coloca a mão em mim”. O professor falando com as paredes. Quarenta alunos na sala de aula, todo mundo gritando. O professor também tem que gritar, não pode sorrir. Os alunos não ficam surpresos com o funcionamento do mundo, ou com o funcionamento errado do mundo, não querem saber de nenhuma explicação. Não querem procurar nenhuma explicação. Oitenta por cento sem saber ler, nem escrever no 3º ano médio. Uma geração inteira formada com a promoção automática. Crianças com problema de aprendizagem, falta de concentração, cheias de problemas, sem pai nem mãe.

O “grupo gestor” da escola repetindo, com prazer perverso, o discurso do governo que a culpa é do professor.

Professor fala gritando e não tem conversa. È o factual, o cotidiano. É só aluno, aula, carreira, calendário. Não agüento a não conversa de professor. Reclamações.

Uma situação de merda, uma oposição de bosta. Um massacre contínuo promovido pelo governo. O que é necessário para o professor reagir?

O sindicato mobilizar?

Jamais pensei em ser professor, jamais pensei ser nada, fui sendo. Quis um tempo pra ficar sentado vendo a grama crescer. Deitei no chão e fiquei vendo um caminho de formigas por quase meia hora. Parei no Viaduto do Chá e dei risada da correria. Gente não nasceu pra formiga.

A esquerda e a direita valorizam o trabalho, sempre estive fora. Ninguém aprende nada sozinho, ninguém ensina ninguém. Cada um tem seu caminho, eu fiz o meu andando.

Ao final da reunião o representante da oposição quase encosta a mão em mim, pequeno sinal de reconhecimento, solidariedade? Um quase toque, um quase comprimento. Ele tem os cabelos brancos, usa um brinco. Numa reunião, num discurso, disse que o trabalho do sindicato seria acabar com a escola particular. Fala em salários de quatro mil reais, numa escola transformadora da sociedade. A oposição é trotskista. Essa fé na classe trabalhadora, na redenção dos povos, todos responsáveis, trabalho segundo as necessidades, governo internacional, é bonita até a página dois. Para mim.

Fica marcada uma assembléia pra próxima sexta-feira. Outro dia que eu não darei aula.

Vou voltar pra minha terra, de volta á BV.

Minha leitura é pouca. Desencanei de ler sobre teoria e tática e estratégia sem nem começar. Li o Manifesto Comunista. Trotski, biografia que o Leminski escreveu. Algumas páginas sobre Teoria do Valor, Formação de Preços na faculdade. Quase nada. Li sobre a Nomenklatura em 1979. Os assassinatos de Stalin, gente morrendo eletrocutada pulando o muro de Berlim. Enfrentando o mar numa banheira, fugindo de Cuba.

O comunismo é maior que Marx, é maior que Economia, é maior que Proudhon, Bakunin. Pra ser comunista precisa ler em alemão ou em francês? Precisa saber ler pra ser comunista?

Tanta coisa para ler e vou ler Trotski? Ou pior, leitura de orelha de Trotski? Ou ainda, leitura de alguém que leu Trotski e está traduzindo o que Trotski quis dizer?

Gosto do Apolônio de Carvalho, um meu herói

Essa guerrinha para saber quem é mais comunista é uma tolice. Os trotskistas se acham os comunistas.

Mas eu sou comunista, na falta de uma palavra melhor. Eu quero outro mundo, isso sim.

Numa das primeiras reuniões no sindicato perguntei para uma mulher pequena, que gritava muito, inflamada,muito brava, da oposição:

- Escute, você não é da Bela Vista?

Ela negou.

Acho que ela pensou melhor e viu que era muito feio negar. Chamou-me de canto, falou baixinho:

- Sou eu sim, só que naquele tempo, sabe, eu era da Igreja, muito bobinha e agora...

Naquele tempo ela vestiu-se da Carmem Miranda e dançou, representando o Maria José na TV Cultura.

Eu hasteei minha camiseta vermelha no 7 de setembro. O pátio lotado todos prontos pra cantar o hino Nacional e eu coloco a bandeira vermelha balançando no céu. Tinha eu quatorze anos.

Até hoje a ex-zeladora da escola, a querida Dona Geni, uma santa a quem nós beijamos a mão, me chama de comunista.

Na falta de uma palavra melhor vou assim mesmo. O Nacionalismo é abominável, mas o crime de lesa pátria é o pior que existe. O Internacionalismo, a cidadania terráquea, é um sonho maior. Qual é a função do Estado? Deixar a vida acontecer. Qual é a função de um governo?Promover a cidadania. É promover uma vida digna para todos. É proteger o carneiro das raposas.

Agora ser comunista me deixa muito sozinho. Briguei com meu pai por isso. Meu pai era do partido conservador. Eu sou do partido Terra Nova. E não brigo com minha família inteira, porque não quero brigar com minha família inteira. Do que resta das 150 pessoas que iam aos Natais na Vila Itororó, de todos os descendentes de Amador Bueno, só eu e o Márcio somos comunistas.

Ser de esquerda, do contra, acreditar no mistério – uau como é veloz esse beija-flor! – cansa, por isso eu sonho tanto que estou voando, e estou quase chegando.

Repenso, reverso.

inconsciência de classe
consciência cósmica
inexatamente em vós passeio

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

nossa Senhora

salve nossa Senhora
mãe de nosso Senhor
pra ela eu vim aqui
que me deu tanto amor

Em toda a cultura
em qualquer pedaço de terra
existe a memória da deusa Mãe
e a verdade que isso encerra

é lembrança muito antiga
O amor de Mãe Maria
ela é a deusa Mulher
onde tudo principia


Esse é um escrito de menino
não esqueça disso não
fica então esse recado
de lembrar essa outra dimensão

entrelinhas

me revelo
no não dito
no grito supenso
no não desabafo


nesse dia nublado
tem um pio de pássaro
a teimosia de uma flor
olhos procuram longe
a lua onde quer que ela for


quanto mais me perco mais me acho

domingo, 9 de outubro de 2011

mergulhar onde não dá pé

entre as pedras mofadas da água rasa
no fundo d'alma
furtiva palavra vibra

amor se faz fazendo amor

fazer amor de manhã
antes de dizer bom dia
pra começar bem o dia


fazer amor de tarde
suprema vagabundagem
pra espantar a caretice
dos tolos conformados


fazer amor de noite
interromper os jornais falados
os gritos de gol
as novelas sem fio de meada


fazer amor de madrugada
voltar aos 80
quando crianças sentía-mo-nos velhos
acabados


fazer amor não como imposição
impostura
intimidade devassada


fazer amor como
uma súplica
um desejo de felicidade

 
fazer amor como eu escrevo agora
sem despertador
nada programado


fazer amor sem coreografia
de forma desleixada
sem gritos desesperados

 
fazer amor
como da primeira vez
e sempre será a primeira vez
encontro único das almas preparadas


fazer amor é a única coisa necessária
espiritual religiosa importante
revolucionária
é o tudo nada que queremos
desordem, alegria, mãos dadas
memória esquecimento
não ter medo da morte
para tudo para todos
coragem


saber que fazer amor
é todo tempo que estou ao seu lado

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Amemo-nos

Agradeço meus pulmões saudáveis, meu fígado ok. AGRADEÇO OK!

Nesse grande calor que está fazendo tomei um banho morno, na verdade quente.Diz que isso é que refresca: banho morno no calor. Quando o inverno chegar a água do chuveiro estará fria,e a resistência irá queimar. C'est la vie.

Acredito que a cerveja esteja sendo servida quente nos balcões. Poucas coisas são tão gostosas como o primeiro gole de cerveja num dia quente. Mérde, parei de beber.

Escuto um disco antigo da Gal, enquanto tomo banho. Ela canta: Lágrimas Negras, Até um dia, e outras canções que não gostei tanto.

Acho o disco quase bom. Quem sou eu para criticar a Gal? Pessoas criticam quem colocou o avatar de desenho animado no perfil no Facebook. Quem sou eu pra criticar quem critica quem pôs o avatar do desenho animado? Pessoas cagam regras para pessoas que cagam regras, pessoas cagam regras para pessoas que cagam para quem caga regras. Aniway, tudo como dantes no quartel de abrantes. Criticas que serás criticado, curtas que serás curtido. Shit.

Enquanto tomo meu banho escuto um casal brigando. Briga-se por pouco ou quase nada. Dinheiro, contas atrasadas. Toalhas molhadas, sapatos virados, restos de comida,louça suja. Dúvidas, insinuações,delírios,ciúmes infundados. Brevidades.Suspiros.

Já escutei muitas brigas de vizinhos, ás vezes acho graça. Há um desejo mórbido em assistir, ouvir, a desgraça alheia. Parece que assim nos redimimos das nossas próprias desgraças. Talvez aí o sucesso das redes sociais. Sempre escapa, no meio de tantas coisas bonitas que as pessoas querem mostrar nessas redes, um fiapo de dor, um ai pronunciado, um desejo de ser curtido, amado.

As brigas de casais são todas iguais. A que estou ouvindo agora é de um casal de homossexuais. Um grita, o outro permanece calado.


- Eu te amei! Eu te amEEEEEEEEEEEEEEEEi!


O outro chora, aquele continua gritando, mas eu não quero ouvir.


Ouço a Gal cantando: - Até um dia, até talvez, até quem sabe...


Como todas as brigas de casais são iguais, eles vão terminar a briga e depois se amarão.


Eu vou embora, tenho que trabalhar. Não vou ouvir os gemidos de amor, os dós de peito, os suspiros escancarados, a reconciliação desejada. Fazendo amor eles estarão com Deus, mergulho profundo no mundo verdadeiro, vazio absoluto pleno de vida e no meio de tudo o redemunho,a liberdade, a inconsciência cósmica.

Eles vão se amar, eles tem que se amar.

Depois de tantas platitudes, de senso comum, de bom senso, do meu bom comportamento, tenho vontade de beber uma cerveja, de ficar trincado, mas, muito mais.

Somente uma coisa interessa, ela encontra-se no título. É o desfecho de um poema de Roberto Piva. O resto é departamento comercial, e para mim não tem valor nenhum.

sábado, 1 de outubro de 2011

who?

                                                                                                      foto: paulo de tarso gracia

Who i am? who i am? who i am?
But i am, but i am, but i am.
sometimes so i think
i can't think
who i am, but i am
sometimes