sábado, 17 de julho de 2021

nomadland



Ontem fomos ao cinema, á tarde que é o horário que eu mais gosto de ir. Parece gazeta, parece um ultraje ao mundo de merda do maldito trabalho. Adoro Sessão da Tarde.
Nomadland. Se eu disser que chorei o filme inteiro não estou mentindo. Falando do filme com a Adri eu estive preso a uma certa visão de necessidade econômica, de pauperismo que obrigava as pessoas a deambular, mas a Adri me alertou que existia o amor á estrada, ao nomadismo, então Por necessidade e por estilo de vida, cair na estrada, continuar a continuar.
A grande revanche é mandar tudo a merda e por o pé na estrada. On the road again.
Ou numa pausa da estrada até gostar de um trabalho simples e sentir-se útil, e cair na estrada de novo.
Relacionamentos profundos e extremamente amorosos que duram apenas alguns dias.
Grandes encontros. Grandes conversas. Filosofia. O que é Filosofia? meu sogro Luis Maia perguntou. Filosofia é o amor a vida, a sabedoria; a busca da essência das coisas, procurar saber viver.
Grandes são os desertos da minha alma.
A Frances é tão maior que qualquer outra. Fiquei apaixonado pela Linda May e respeito muito a Swankie, porque é meu oposto.
São tantas cenas maravilhosas.
Hoje lembrei, ao assistir o filme, em outra cena tão linda, que somos estrela, alô Ligia Evangelista, e chorei de novo. Choro como um cão danado, como o velho que sou, como a criança que fui. Me sinto gente e Miele chorando.
Uma das cenas mais lindas do filme é Frances falando o soneto 18, alô Duda Miranda, de Shakespeare.

Se te comparo a um dia verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento forte espalha as folhas de maio pelo chão
E o tempo de verão é sempre bem pequeno
Às vezes brilha o sol no céu em demasia
E outras vezes ele desmaia com frieza
E tudo o que é belo declina num só dia
Por acaso ou na eterna mutação da natureza
Mas em ti o verão sempre será eterno
E a beleza que tens tu nunca perderás
E também não chegaras da morte ao seu triste inverno
Pois nestas linhas eternas com o tempo crescerás
E enquanto nesta terra houver um ser
E olhos que possam ver, meus versos vivos te farão viver.

Outra cena linda do filme é a Swankie falando sobre as coisas lindas que ela viu durante a vida, pequenos milagres, algo simples, como o primeiro voo das andorinhas ao abandonar os ninhos, alô Marilia Miele, ontem nos fez lembrar de milagres!
Eu conheço a música do Ludovico Einaudi, e os pequenos milagres.
Esse filme é um pequeno milagre, um semidocumentário, com atores amadores. é uma declaração de amor ao espirito livre americano e uma crítica ao capitalismo selvagem.
O cinema é esse mundo de magia e segredos que são compartilhados, Clara Vasconcelos.
O cinema tem que ser isso, um pequeno milagre.




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