terça-feira, 9 de abril de 2013

eu continuo lutando pela vida


eu tenho uma centena de livros que não li espalhados pela casa
eu tenho muitos olhos fechados para muitas coisas
eu tenho um mal estar frequente que me bambeia as pernas
muitas vezes eu pego o metrô errado
tantas vezes esqueço na metade o que queria dizer
tenho uma montanha de notas de dinheiro que já valem nada
e sete livros  escritos que ninguém vai ler
desisti das reformas antes das revoluções
nunca gostei de carros nem de aviões
não vou ser campeão de nada
e morrerei humildemente sem nunca ter lutado por nenhuma glória
mas eu continuo lutando pela vida
pelas coisas miúdas
o lágrima do cachorro que me percebeu chorar
o brilho do sol no caco de vidro
a gotinha de água na flor que brota desengonçada na calçada
o zoom da abelhinha batendo na janela do ônibus
a menina banguela  que sorri desajeitada
eu continuo lutando pela vida
pela fina poeira sobre os quadros centenários
o primeiro gole de cerveja numa tarde ensolarada
a caixa de bis depois de passar um mês encarcerado
uma volta no Bom Retiro num feriado
o cheiro molhado do asfalto
a conversa dos feirantes na França
a alegria de descer uma ladeira ao invés de subi-la
eu continuo lutando pela vida
e pelo milhar de coisas perdidas encontradas pelo acaso
essas pequenas maravilhas que não se acham nos dicionários

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