terça-feira, 22 de outubro de 2013

Um bilhete para Estocolmo




Um corpo de mulher jogado na praça de alimentação do hipermercado. A mulher está morta, foi degolada. O corpo está coberto por jornais. Uma poça de sangue não para de crescer.
Sabe-se que a mulher foi degolada pelo marido.
O marido não admitia que ela trabalhasse.
A mulher tinha 23 anos. Após sete anos de convivência, "o filho já podia frequentar uma escolinha", ela resolveu trabalhar.
O marido foi ao hipermercado, esperou ela ir almoçar, e na praça de alimentação tirou um facão de uma bolsa e a degolou.
Uma fita amarela e preta, sustentada por quatro torres de um metro e meio de altura, separa  o corpo, degolado - a poça de sangue aumentando - jogado no chão e coberto por jornais,  dos frequentadores do supermercado, que fazem algum tipo de refeição ali.
A fita separa o corpo alguns poucos metros, três ou quatro metros, das pessoas que estão comendo.
Estudos comprovam a conveniência de, em ambientes de compras como shoppings, hipermercados, malls,etc.  existirem lugares onde se possam fazer refeições. Segundo a revista Seleções desse mês  ( achei a revista no lixo) pesquisa recente " provou que a freguesia gasta quase 20% mais num lugar de compras  se contar com uma boa praça de alimentação".
A comida é podre, a carne é podre, o café nunca é bem tirado, tudo é pré-cozido e plastificado. Sub-sub-sub comida.Vende-se de tudo ali: tapiocas, coxinhas, água de coco, manjares, sorvetes, bombons, pães de queijo,e muitas outras guloseimas. O cheiro de bacon e óleo empesteia o lugar, mas poucos sentem qualquer coisa.
As pessoas comem de boca aberta e não param de falar. Nunca, jamais, de modo algum, elas ficam quietas. Algumas falam mesmo sozinhas, não com elas mesmas, mas com algum perseguidor imaginário. A maioria fala ao celular. O Celular é uma acessório muito usado pelos patrícios, deve haver um sem número de pesquisas, qualis e quantis, sobre isso, o tempo que as pessoas ficam falando ao  celular e o tipo de conversa que elas tem. Na Seleções desse mês, que achei no lixo, não havia nenhuma matéria sobre isso, o que as pessoas conversam ao celular, no entanto tráz matérias sobre "nosso corpo incrível", "12 ideias  que deram certo" e outras que eu não recordo.
O Som alto continua anunciando ofertas: biscoitos, salgadinhos, refrigerantes, etc. O mesmo disco, o da novela, roda o dia inteiro.
Enquanto o corpo da mulher morta e degolada está jogado no chão do hipermercado as pessoas, entre uma compra e outra, aproveitam para comer alguma coisa e colocar o papo em dia. 
A poça de sangue não para de crescer.

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