quinta-feira, 6 de outubro de 2016

a paixão




Os seres humanos são produzidos em linhas de montagem 
e contra todas as expectativas
as nuvens e os voos mecânicos
eles se apaixonam
voltam atrás e deixam tudo

alguns trocados e mesmo bonitas casas
e esquecem de salvar o próprio rabo
ao se apaixonar
e tomam safanões
andam debaixo de chuva
perdidos em lugares bem fudidos
porque estão apaixonados
e se entregam a papéis ridículos
em dramalhões mexicanos
em comédias pastelão
quando se apaixonam
e tomam safanões
e tapas na cara
e arranhões na face
e se descabelam
e choram muito
e suspiram
e perdem o sono
e dormem demais
e comem muito
e emagrecem dezoito quilos
e cortam o cabelo curtinho
e se enfiam debaixo da cama
e choram baixinho
e se enfiam em qualquer cama
e gritam o mais alto que puderem
e juram que nunca mais vão se apaixonar
e na primeira volta
de novo se apaixonam
contra todos os prognósticos
os chutes dos psicanalistas
os voos sem paraquedas
eles se apaixonam
e vão pra frente em busca de tudo
sem carteira nas praias desertas
sozinhos junto ás multidões
porque estão apaixonados
e só pensam na possibilidade de algum desassossego
e na próxima costela
e na volta dele dela
ao se apaixonar
e lutam lutas perdidas
e tramam ondas heroicas
entram em missões impossíveis
quando se apaixonam
e batem e correm e matam
e se matam
e dizem belezas inacreditáveis
e correm esfolados e esfalfados
e sonham os sonhos molhados
e as escadarias que sobem ou descem

e nunca isso é tudo
porque de novo se apaixonam
no último rolê
no próximo sábado e no último fim de semana
contra todos os estratagemas
ás claras e escondidos
no ponto zero
e de novo
sem axiomas e e hermenêutica
sem nova lógica
sem mal que não pereça
vão apaixonar-se novamente

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