terça-feira, 23 de julho de 2013

Mauricio Miele. Todo o resto é mentira.



capitulo 1 

- vamos beber mais

- não tem saída, e... é como eu estava te dizendo: não tem saída.
 Eu não estou nenhum pouco satisfeito com isso.
 E não tem como voltar. Ou a probabilidade de ter uma volta é muito pequena. 
A merda maior é esta: no micro está igual ao macro.
Agora eu te pergunto: 
- O que importa, pra mim, o que estará escrito na minha lápide? Porra aqui não existe sequer essa tradição! Foda-se.

- vamos beber.

- Agora se eu fico preocupado, se eu fico com insônia, eu sei o problema é meu. ( Você está ouvindo o sino da igreja? deve ser por causa da merda do papa. Você já leu Alexander Pope?

- " um pouco de cultura é uma coisa perigosa". Ensaio sobre o homem. Todo baixinho é pentelho.

- Eu fico pensando, seriamente, na questão do limite.

- Vamos fumar!

- Olha se alguém me chamar pruma manifestação eu sou capaz de entrar em curto. De mandar  a merda. Vão todos se foder, detesto a esperança. Realmente eu estou de saco cheio.

- é o limite, velho, o limite. Mário Peixoto. Morfético ( seria um sonho?) é que não cabe cara, não vai caber aqui...

- Mas é isso que eu estou dizendo, não existe qualquer possibilidade.. parece que essa gente nunca leu um livro.

- Nada como ter 18 anos. Aqui está faltando uma mulher. Vamos beber.

- eu sou um músico frustrado, um escritor frustrado, um sádico frustado, mas eu, realmente, não quero te encher com essas coisas. Detesto quando a conversa descamba.

- A culpa é das mulheres... a linguagem cifrada, ais e uis. E alguns uias também.
Olha a gente já tá velho demais.
Nós não ultrapassamos nada.  Aliás eu prefiro deixar as coisas como estão: a incomunicabilidade é a marca. Você não está me enchendo, eu prefiro assim. Eu não quero saber o que você está fazendo, lance de dinheiro, esses papos só rolam aqui em São Paulo. Eu passei um tempo no Maranhão, você sabe, é outro lance, é uma despreocupação. Eu fiquei afastado de clubinho de poetas. Vou te falar uma coisa: lá eu deixei de falar. Não via TV, não ouvia rádio, era só meditação o tempo inteiro e rachando de fuder a Marisa. Mas cansa, e a gente cansou junto.

- Agora eu é que quero beber.


capítulo 2

- Olha: é a Carla e a Malu.


capítulo 3

- eu adoro o frio! o frio deixa as pessoas mais elegantes.
E vamos combinar: o calor não tem a ver com essepê.
eu tô chegando ontem de São Tomé, tantas estrelas... adoro o frio.
Olha essa malha do teu amigo, Zeca, né?! é argentina, né?! eu já morei na Argentina; é cheio de índio lá. E as mulheres ainda naquele onda de cabelão, os homens também, todo mundo cabeludo, e tudo muito trágico, não curto, não curto. A única coisa boa de lá é o frio, o frio aproxima as pessoas.

capítulo 4

- Vai.
- Rrrrrrrrrrrrrrrr.

capítulo 5

- Tua mãe é crioula?
- ...
- É difícil branco ter essa pegada.

capítulo 6

- Escuta uma coisa: a gente já tinha transado antes? Sei lá, nos anos 80 você frequentava a Maria Antônia? é por que eu senti uma coisa, assim, tipo uma vibração, parece que a gente já tinha transado...

capítulo 7 

- Olha eu perdi. Perder o passado é uma merda.

capitulo 8

- eu curto mesa branca. acho muito elevado, sabe? bem intelectual, assim como você, cheio de filosofia.
- ...
- você , não vai me dizer que não acredita em Deus!
- eu não acredito em deus.
- era só o que me faltava! se você não acredita em Deus, você acredita em quê?! em alguma merda que algum homem escreveu??

capítulo 9 

- sempre que eu venho na feira eu como pastel.
- ...
-eu adoro pastel!
- ...
- pra mim vir na feira e não comer pastel, não é vir na feira!
- ...
- é como um ritual.eu venho na feira e como um pastel. sempre de bauru, que é o que eu gosto mais... você não gosta de pastel?!

capítulo 10

- eu sou supercomunicativa!
- ...
- eu venho na feira e brinco com todo mundo, todo mundo me conhece! sabe, eu sou super alegre!
- ...
- você não é muito alegre, né!?

capítulo 11

- Hoje a noite a gente vai numa manifestação! Vai ser dez, muito louco, adoro!

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