terça-feira, 4 de novembro de 2014

museu do carinho



O Museu do Carinho existe, e embora receba poucas visitas, está aberto e em funcionamento em alguma pequenina cidade perdida desse continente escolhido e esquecido pelo grande arquiteto dessa imensa bosta.
Os museus existem para recolher,  guardar, registrar, classificar e organizar para as atuais e futuras gerações aspectos relevantes das culturas dos povos.
Aspectos esses, únicos,originais, especiais e representativos de um período.
Antes da era da reprodutibilidade os museus guardavam e priorizavam aspectos singulares, autênticos, únicos, originais, que não podiam ser facilmente reproduzidos, mas aí veio o contemporâneo e os aspectos a serem considerados (de certa forma pois tudo tem que ter uma ressalva) passaram a ser aquilo que pudesse reproduzido, que não fosse único.
Dessa forma, por um lado - vale aqui essa ressalva - o Museu do Carinho guarda, registra, classifica e organiza os numerosos gestos de carinho:
cafunés
e cheiros,  principalmente, mas a lista é enorme:
atirar beijos,
bater os copos,
matar piolhos,
levantar a saia,
fazer as pazes,
espantar mosquitos,
conversar de mãos dadas,
dormir de conchinha,
tirar o chapéu,
salamaleques,
dar licença,
misturar os pés,
desejar bom dia,
por favor,
com licença,
muito obrigado
e inúmeros outros gestos, e palavras, que estão esquecidos, daí a necessidade deles estarem organizados e guardados num museu.
A grande contradição (existe um Museu da Contradição também, mas esse fica na Ásia ou próximo à Estação Finlândia; igualmente existe o Museu da Paz, o Museu do Amor, e outros tantos Museus, onde estão guardadas preciosidades únicas, singulares e autênticas) repito, devo repetir, pois os parênteses(será que existe um Museu dos Parênteses ?) repetem-se com frequência cada vez mais constante ( e irritante), a grande contradição, desconheço se dialética ou aquela que faz parte da lógica formal, é que embora não seja contemporâneo o carinho, embora único,  etc., deve ser reproduzido!
Cada vez mais raro o carinho, único em sua forma delicada, originalmente feito pelo individuo, autêntico em sua profunda sinceridade, luta para ser contemporâneo, ser reproduzido em cada lar, em cada gesto, em cada toque, em cada vista.
A validade dos museus, a luta para ser contemporâneo, com carinho aos Mestres, Walter e Cascudo.

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