domingo, 26 de outubro de 2014

sobre a clara oposição entre a burguesia e a malandragem.


"o oposto do burguês não é o proletário é o boêmio"
Oswald de Andrade

o malandro ainda resiste

"que a aquela tal malandragem não existe mais"
Chico Buarque de Holanda

o malandro se nega a ter seu tempo roubado em trabalhos pesados, sujos, perigosos. em bater cartão, em cheirar pó. ele é perfumado, discretamente perfumado; só quando é abraçado sente-se seu perfume.
um pouco aéreo, etéreo o malandro.o malandro é maconheiro.
o malandro flerta com a condição sempre de ser desocupado.
ele goza seu tempo em atividades prazerosas.
ele gosta de rosas.
ele tem asas.
ele flutua.
o malandro goza.
o malandro não aceita a condição de ser servil, de conhecer o seu lugar. o malandro está no fio, no meio fio.ele flana entre as classes, embora ás vezes atue como flanelinha, embora ás vezes ele ature uma carteira assinada.
nenhum documento assinado tem valor maior que uma palavra que o compromisso do malandro com outros malandros.
o malandro não vota e não é votado, não concorda e não dá corda, e acorda cedo ou tarde, tanto faz, curte o nascer do sol e o por do sol, curte a vida e a natureza simples. principalmente o malandro não trabalha
o malandro não aceita condição subalterna, por isso é odiado.
naturalmente é perseguido, mas sorri.
o malandro deixa a grama crescer, vem o jumento e acaba com a grama. o burguês consegue lucro explorando o trabalho do jumento.
o malandro inclusive deixa as coisas pela metade, nada tem fim, tudo é incomple

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