quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Amemo-nos

Agradeço meus pulmões saudáveis, meu fígado ok. AGRADEÇO OK!

Nesse grande calor que está fazendo tomei um banho morno, na verdade quente.Diz que isso é que refresca: banho morno no calor. Quando o inverno chegar a água do chuveiro estará fria,e a resistência irá queimar. C'est la vie.

Acredito que a cerveja esteja sendo servida quente nos balcões. Poucas coisas são tão gostosas como o primeiro gole de cerveja num dia quente. Mérde, parei de beber.

Escuto um disco antigo da Gal, enquanto tomo banho. Ela canta: Lágrimas Negras, Até um dia, e outras canções que não gostei tanto.

Acho o disco quase bom. Quem sou eu para criticar a Gal? Pessoas criticam quem colocou o avatar de desenho animado no perfil no Facebook. Quem sou eu pra criticar quem critica quem pôs o avatar do desenho animado? Pessoas cagam regras para pessoas que cagam regras, pessoas cagam regras para pessoas que cagam para quem caga regras. Aniway, tudo como dantes no quartel de abrantes. Criticas que serás criticado, curtas que serás curtido. Shit.

Enquanto tomo meu banho escuto um casal brigando. Briga-se por pouco ou quase nada. Dinheiro, contas atrasadas. Toalhas molhadas, sapatos virados, restos de comida,louça suja. Dúvidas, insinuações,delírios,ciúmes infundados. Brevidades.Suspiros.

Já escutei muitas brigas de vizinhos, ás vezes acho graça. Há um desejo mórbido em assistir, ouvir, a desgraça alheia. Parece que assim nos redimimos das nossas próprias desgraças. Talvez aí o sucesso das redes sociais. Sempre escapa, no meio de tantas coisas bonitas que as pessoas querem mostrar nessas redes, um fiapo de dor, um ai pronunciado, um desejo de ser curtido, amado.

As brigas de casais são todas iguais. A que estou ouvindo agora é de um casal de homossexuais. Um grita, o outro permanece calado.


- Eu te amei! Eu te amEEEEEEEEEEEEEEEEi!


O outro chora, aquele continua gritando, mas eu não quero ouvir.


Ouço a Gal cantando: - Até um dia, até talvez, até quem sabe...


Como todas as brigas de casais são iguais, eles vão terminar a briga e depois se amarão.


Eu vou embora, tenho que trabalhar. Não vou ouvir os gemidos de amor, os dós de peito, os suspiros escancarados, a reconciliação desejada. Fazendo amor eles estarão com Deus, mergulho profundo no mundo verdadeiro, vazio absoluto pleno de vida e no meio de tudo o redemunho,a liberdade, a inconsciência cósmica.

Eles vão se amar, eles tem que se amar.

Depois de tantas platitudes, de senso comum, de bom senso, do meu bom comportamento, tenho vontade de beber uma cerveja, de ficar trincado, mas, muito mais.

Somente uma coisa interessa, ela encontra-se no título. É o desfecho de um poema de Roberto Piva. O resto é departamento comercial, e para mim não tem valor nenhum.

Um comentário:

  1. ..não basta.....quero mais......escritos...escrituras........ um livro......por favor......e o autor.......é ele mesmo Zé Mauricio Miele.............

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