domingo, 30 de outubro de 2011

30 de Outubro aniversário de Dostoiévski

A segunda vez que li Crime e Castigo, faltei no trampo e na facul pra acabar de ler o livro, bein... qualquer motivo é motivo pra não trampar, mas esse é um verdadeiro motivo.

A primeira vez li no Centro Cultural. Uma edição caprichada em dois volumes, capa dura, tradução de Rosário Fusco, ilustrações que me davam medo.


mil tardes no Centro Cultural
aflição silêncio e agitos
lendo esperava outros dias



A febre do Raskolnikov, a Lu pegou tambem,quando leu o livro. Sensibilidade demais ás vezes põe a gente doente.

O livro é extraordinário. Justificativas que não justificam nada, um crime. Calafrios, dores intensas na alma, culpa, o castigo.

Livro pra mim é tudo. Cheiro de livro novo é o cheiro, melhor do que flor. Esse livro para mim é tudo.É que lendo a gente vai pra outro lugar, não é somente ver o que está escrito, fazer um filme na cabeça, é muito mais que isso. Ler é a maior viagem.

É claro que eu amo a adaptação com o James Mason e a Geraldine Chaplin, filme que assisti na infância e não acho, mas vou procurar e achar. Aliás eu vou procurar e achar muitas coisas. E mais: eu acho muitas coisas, e achar alguma coisa é uma felicidade. Os cretinos não acham nada, pensam que sabem. Eu acho que eles pensam que sabem. Uma acha, salvo engano é quase uma fogueira, uma salva de palmas para tu que achas,achou, Abraxas, e abraças esse canto.

O episódio do enterro de Marmeladov; quando Ekaterina Ivanovna dança com lenço para o governador;a perda da virgindade de Sonetcheca, eu não esqueço.

No Centro Cultural li os russos, o Capote de Gógol , e uma seleta de contos e aí cheguei no Dostoievski, e li quase todos. O jogador, Noites brancas,O filósofo. Depois li   o Haroldo de Campos dizendo que esses títulos eram nomes de músicas do Jorge Ben. Se fosse sem querer era ainda mais impressionante, disse o Campos.

viram os Campos
irmãos
de tantas fontes e folhas férteis
os irmãos Campos
virão.

Caetano Veloso votou em mim na Fábrica do Som e eu ganhei um prêmio por um poema sobre os irmãos Campos. Acho que era ainda pior que esse que escrevi agora, acontece que eu era o mais bonito e o Caetano votou em mim,no cabeludinho.

O Kamarazov eu não li. Assisti a novela com o Boldrin, o Julgamento, na minha tv Tupi. A abertura era o MPB 4 cantando Gonzaguinha: "casa de ferreiro espeto de pau, quem não engole espinho nunca vai se dar mal" Gonzaguinha o favorito da LU.

O Leminski fez um biografia do Trotski para lá de confusa, citando o conflito dos Karamazov, como algo que vai mais fundo para compreender a Rússia. "Quando um dos Karamazov mata o pai aí começa a Revolução Russa" vou ler mais uma vez o Trotski do Leminski para acabar, ou não, com essa confusão.

Hoje leio que o Brasil tornar-se-á a sexta maior economia, que depois a India irá passá-lo, mas que com a Copa e a Olimpíada, voltaremos, nós?, ao sexto lugar.


Brasil, Russia, India, o BRI dos BRIC'S. A China era como eu chamava minha mãe, um mundo era a dona Consuelo.

Mas a Russia...

A velha Russia, a velha russa sorrindo banguela, a velha Russia sobrevivendo ,a contragosto da nova Russia com os dentes parafinados a laser. O dinheiro ganho para parafinar os dentes no suor arrancado das sex slaves, minas de ouro, poços de petróleo que o rufianato mafioso da nova Russia soube explorar.

Quem é o novo Dostoievski? O que mudou na nova Rússia?

Uma coisa me leva a outra coisa, um livro leva a outro livro. Ah eu acho que achei alguma coisa aqui.

4 comentários:

  1. Achei http://sul21.com.br/jornal/2011/10/190-anos-de-dostoievski/
    Milton Ribeiro começa assim texto:"Há um período de nossa adolescência ou logo após, quando somos ou não universitários com algum tempo tempo livre — como diria Kafka, com mais energia do que necessidade de produzir –, em que usamos nosso tempo lendo clássicos. Neste período, procuramos ler os maiores ícones e, dentre estes, estará inevitavelmente Dostoiévski. E ele costuma ser uma experiência inesquecível."

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  2. Aqui me encontro.
    Da primeira vez que li estava inebriado, pois assim é que vivia os dias e as noites.
    Tempo livre, preso - fumando espero - na experiência de se ler um livro assim, a dor de estar sozinho, de descobrir algo novo e poderoso, e não poder e nem saber o que fazer com aquilo.
    No Centro Cultural durante a leitura desse livro chamei pra mão, desafiei, dois caboclos ao mesmo tempo pra uma briga.

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  3. Ler o Trotski do Leminski, não é contraditório. Leminski não explica Trotstki, ele confunde.

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