sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

heroína vulgar

nosso intestinos estão retorcidos
pelo desejo crescente
de alguma coisa que nunca vai saciar

minha memória recente
está guardada numa foto na parede
nela alguem escreveu um dia
que nós nunca deveríamos
deixar as pessoas nos olhar por dentro

as senhorinhas reclamam
com as caixas de supermercado por qualquer coisa
enquanto os velhos tentam fazer graça
as funcionárias sonham com beijos enlatados
papéis de balas com mensagens cifradas
e técnicas de clareamento
o salário é muito baixo o lixo é muito caro
não existe cura para o câncer
os pais não sabem como educar os filhos
a escola não serve para nada
desenvolvimento é mais carro na rua
meu estômago fica embrulhado
todas as sacolas de plástico do mundo não comportam tanta merda

meu bando
sempre do lado de fora
pede esmolas na porta do supermercado
mas eu não estou mais com eles
e agora eles me chamam de doutor

aguardamos  notícias de Christiane F.
heroína vulgar, de Detlef R.
e de todos  que o trem sem destino
deixou esperando

na foto da parede
todos estamos sorrindo
de certa forma
nunca mais saímos de lá

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