sexta-feira, 8 de junho de 2012

encontro com famosos # 8 - Maria Mariana



Eram quatro horas da manhã eu descia a minha rua, a 13 de maio. De bermuda, chinelo e camisa estilo Bali.

Horas antes havia caído uma tempestade, acabou a luz na Paulista! Eu tinha saído de um hotel, enfiado uma mulher num ônibus - vá com Deus! - e descia a minha rua comigo mesmo,ouvindo meus passos e vendo as sombras e no molhado do asfalto, as luzes refletidas nas ruas e outras tantas coisa belas, como o vento que depois da grande chuva sopra, e o silêncio da madrugada,e as estrelas prestes a serem apagadas, brilhando como nunca.

Eu tinha os cabelos nos ombros e 4 mil dólares em notas variadas guardadas dentro de um envelope e escutava todas as noites Amoroso do João Gilberto e jogava futebol de botão com meu irmão, e juntos tomávamos garrafas e mais garrafas de uísque e fumávamos sem parcimônica nenhuma.

Eu trabalhava num serviço absolutamente insano, sem sentido algum,  indo dia sim, dia não pra quebradas várias, tipo: jardim copa 70 em mauá, cohab itapevi, cidade são jorge em santo andré e picanço em guarulhos, e pirituba, e deputado emílio carlos, e feiras livres e praças sem árvores nem bancos, numa pesquisa de audiência de rádio. E nas esquinas eu acendia charutos Pimentel, e acabávamos com o estoque de cervejas das geladeiras das padarias ao final da semana de trabalho.

Eu já tinha mais de trinta anos e morava com meus pais. Era um dia de semana e eu não iria trabalhar no dia seguinte. Ao chegar em casa eu sabia que minha Mãe, a velha China, ia estar na cozinha. Uma pequena lâmpada amarela iluminando a minúscula cozinha, o fogão aceso, café, bolo, pães, o rádio tocando "a caminho do dia" . E ela estaria ali sozinha e  viria uma conversa sempre geniosa e espirituosa, cheia de pragas e amorosidades e análises críticas do mundo, e reprimendas ao meu jeito de ser: "O que fez de sua vida?!" 

Eu descia a minha rua e a padaria Camões estava sendo lavada. Numa van com as portas abertas uma turma grande, que de longe eu achei de teatro, tomava cerveja. Dentro da Van enxergo Maria Mariana, que me viu e saiu do carro  num pulo e  me disse :

- A gente tá indo pruma festa, entra, vem comigo.

Tranquilo comigo e com meu mundo eu digo:

- Não posso, estou indo pra casa tomar café com minha Mãe.

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