sábado, 22 de setembro de 2012

Celsinho, São Paulo merece!




Com a eleição acontece um mínimo de conversa sobre política, mas não é uma conversa sobre política é uma conversa sobre eleição.

A eleição e o resultado da eleição acontecem pelo sistema democrático, de democracia representativa. Política vai além disso.

Numa eleição deveria ocorrer uma discussão sobre visão de mundo.

Não é isso que acontece.

Política tema ver com visão de mundo, com ideias.

Nesse tipo de democracia representativa, o sistema está organizado por partidos políticos. No Brasil, de agora em diante grafado como Bananão, os partidos tem nome que não significam nada.

Aqui, no Bananão, não temos sequer herança getulista, como los hermanos possuem do peronismo.

Em países civilizados, "Suécia, França, Espanha, Portugal, Alemanha, Itália", etc. "Socialista, Democrata-Cristão, Comunista, Verde, Socialdemocrata, etc." não são nomes, ou siglas, correspondem minimamente a um significado dentro do espectro ideológico. Como explicar o que é PMDB, PRB, e centenas de etc. a alguma pessoa de outro país?

Nos EUA, país tão importante para o Bananão, os partidos Republicano e Democrata revezam-se no poder, e embora basicamente iguais - um é mais liberal "defende” o aborto,outro mais "conservador" defende a pena de morte,um defende mais verbas públicas, política externa menos expansionista, outro defende uma mais agressiva,posse de armas, casamento homossexual, etc. - os dois partidos confundem-se, pois, mas é possível identificar, aqui e ali,ao optar por uma ou outra visão de mundo, se você é mais conservador ou liberal. O que é ser liberal, ou conservador, no Bananão?

A pessoa age absurdamente de forma conservadora, o que sem dúvida deve ser associado a uma posição de direita, mas não sabe que é de direita.

Aquelas que sabem, dividem-se em pessoas definitivamente fascistas, racistas, xenófobas, homofóbicas, e tudo que é possível reunir numa pessoa definitivamente estúpida e retrógrada, e outras pessoas, que negam a existência da divisão da esquerda e da direita, acham que isso é invenção da esquerda, que não existe classe social.

Quanto as que não sabem ser de direita são  pessoas somente desinformadas e que repetem o discursos da mídia, dominada pelas corporações e favoráveis a manutenção da ordem. Essas perfazem o grosso da população,pois a tendência é de conservação, de comer pelas beiradas.

A direita defende a situação permanecer do jeito que sempre esteve, ou por que está por cima, ou por por conformismo.

O discurso dela vai manter as coisas todas do jeito que estão, ou seja, na mesma merda.

A esquerda deve ser associada sempre a transformação, a alteração das regras do jogo e a construção do Paraíso na Terra.

Ao fim do trabalho, ser favorável ao ócio e ao pleno desenvolvimento de todas as possibilidades do ser humano, e que todos tenham o direito de ser aquilo que são. Dessa forma acabaríamos com a vontade de chegar a sexta-feira, com a divisão entre palco e plateia e com a criação de lixo,  - e dessa forma não haveria a necessidade de haver lixeiros, mas convenhamos uma esquerda assim, ou um mundo assim é muito difícil de existir.

Fiquemos pelo menos com uma esquerda que quer mudar o mundo e que entende que a pobreza e a diferença social são forjadas pelo capitalismo, e que ele deve ser combatido e eliminado, formulando ações então de desenvolvimento das pessoas, para que um dia ( ....) possa existir um mundo sem lixo e sem lixeiros.

Eu odeio racismo, odeio quem acha que pobre é pobre por que é "Vagabundo", "não Trabalha", que não gosta de preto, de índio, de viado, de puta.  Esse negócio de bandeira, de hino, "esse chão é meu", "essa é nossa terra', isso é uma grande besteira. Isso de: “esse meu deus não é tremendo”?!", "só se chega ao céu através de mim," isso é abominável. 

Eu sou de esquerda. Eu acho o mundo uma merda, e quero mudar o mundo.

Naturalmente devemos ir além de nossa condição de nossa classe( "eu nem sou tão pobre assim, conheço Mondrian, Bach e outros querubins, tem sempre um disco voador no meu panorama, meu cabelo não é ruim, etc.") a coisa mais simples seria o oprimido saber dessa condição, de poder quebrar tudo, e tomar os meios de produção e acabar com os poucos patrões, e estabelecer o Paraíso,, onde não existe fome nem gula,e nem armário ou cofre, e nem é preciso ter mais que dois sapatos e  etc. Mas não é assim.

Acontece de o mundo ser uma merda, as pessoas serem estúpidas, etc., e aí temos que ser pragmáticos. Quem combate o capitalismo é marxista, socialista, comunista, trotskista. E aí tem os partidos. Quem não combate assim está muito por fora. É Punk? Anarco? Niilista?Malandro?

Aqui no Bananão (como as coisas são ruinzinhas aqui !) tanta fragilidade ideológica, tanta falta de discussão, a esquerda é tão pequenina, os pobres nem se acham pobres, etc. Mesmo o pragmatismo não funciona.

O partido, que com o fim da ditadura, numa espécie de frente faz oposição a direita por 25 anos, quando chega lá, confunde desenvolvimento com projeto de classe média, geladeira cheia e automóvel, deixa de ser ético, faz tudo o que todo mundo sempre fez, ROUBA - o que aliás o povo falava que eles fariam!

E , pimba, danou-se.

 - Eu sabia, a direita grita.

 Enfim, esse partido, o PT, acaba com a esquerda no país! 

Naturalmente as pessoas continuarão lutando, esquerdas mil não se conformam com o PT ser chamado de esquerda, existe um número, muito reduzido, aliás, de gente que continuará sendo de esquerda, mas todo um projeto possível, um grande projeto, um grande partido, e um projeto que deveria de ser de esclarecimento, de didatismo, que vinha engatinhando, morre. "Tudo que é sólido se desmancha no ar".

Mas essa esquerda, marxista, trotskista, mais esquerda, não consegue, não chega a massa, não consegue construir projeto, são mil e duzentos, terão 5 mil votos na eleição, ninguém quer saber dessa esquerda, ninguém ouve o que eles cantam.

Eu vou continuar a ser de esquerda, aqui quieto no meu canto, desafinado e sem harmonia. Sem partido. Não gosto de sindicato, de trabalhar, de igrejinha. Não sou marxista-leninista, trotskista. Eu nego o pragmatismo, o partido político, e a democracia representativa. Em outras oportunidades, outras cartas, eu já valorizei a condição individual, e mesmo já condenei a bravataria, a bateção no peito, a cagação de regras, tão presentes no discurso da esquerda, aquela que estuda Lucaks, Gramsci e outros. Mas eu fico com Slavo Zizek em oposição a Olavo de Carvalho.

Sempre fica, no entanto, aquela grita: 

- Como pode ser de esquerda sozinho?!

Por ser desorganizada a esquerda é assim... aliás, quando a esquerda se organiza, quando faz a primeira assembleia, quando é eleita a diretoria, ela deixa de ser esquerda e imediatamente passa a ser direita, que é organizada, burocráticae , principalmente, detém o poder.

Ser de esquerda, nessa posição que eu defendo, é assim: ser de oposição, ser do contra.

Eu sou contra o que está aí,contra desde sempre, talvez os essênios, talvez Walden I e Walden II, talvez a República de Fiúme, talvez Paris 68, talvez as comunas da cidade luz e mais querida, talvez o grupo União da Ilha Grande, talvez,talvez, maybe tomorrow.. não sei direito como fazer para mudar, não acredito em revolução e luta armada, em partido político. Gosto de Spartacus e Barrabás. Mas isso é outro tempo.

A pessoa deve reagir a a opressão, aquilo que emperra sua evolução. Como reagir a minha condição de escravo? Como lutar contra a opressão de um governo estrangeiro? São essas as minhas lutas? Não devo eu, por minha condição de ser humano, ir além da minha classe, além da minha situação?

consciência cósmica
inconsciência de classe
inexatamente em vós passeio


Enquanto isso... Vinicius canta:  a tristeza tem sempre uma esperança de não ser mais tristeza não...


E a direita? A direita relincha. E continua engordando

A direita não vota no PT por causa do mensalão, a direita não vota no PT, por que odeia pobre, preto, puta, viado. Mas a direita aproveita a cagada do PT, para acabar com qualquer possibilidade de discussão de política, de amadurecimento, de saber-se quem é quem.

Bem, eu não estou apelando ao didatismo, ou a um tom senhorial, eu estou falando do modo que falaria num café, numa padaria, num botequim... Claro se eu estivesse num lugar civilizado, aqui não é, aqui é:

-  grobo; curintcha; é noizes; todo mundo brincando, todo mundo rindo; e: olha o povo de deus; só eu sei dos meus poblemas; e oh, vem chegando o feriado; você viu o que o fulano disse? Viu que linda minha nenê? Eu te falei que ele ia comer na minha mão...


 e eu digo:

-  O autismo está atingindo 99% da população.

Nessa conversa, pequena de eleição, que deveria ser de política, de visão de mundo, a discussão deixa de ser política, e passa a ser de gerenciamento da cidade, custo-benefício, orçamento. A discussão deixa de ser política, como se não existisse ideologia, luta de classes. E passa a ser técnica, de gestão, marketing, mídia.

Nessa cidade de ninguém, cidade do trabalho, cidade feia, cidade do dinheiro,nessa cidade de consumidores, no grande mercado, na ausência de cidadania, ninguém melhor que o Celsinho.

São Paulo merece, a esquerda merece, eu mereço,  nós merecemos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário